Ucrânia e Venezuela

Foto: Pete Souza, The Obama-Biden Transition Project.

Foto: Pete Souza, The Obama-Biden Transition Project.

Os presidentes ex-comunistas do Brasil, Bolívia, Argentina, Equador e Uruguai são cúmplices da Venezuela. Alardeiam “direitos humanos” quando estão na oposição. No governo “descem o pau” no povo que protesta e, quando podem, nomeiam juízes a dedo e generais comprometidos, formam milícias paramilitares, calam a imprensa, caluniam a oposição e instauram o terror.

Com bandeiras venezuelanas e vestidos de vermelho – cor do chavismo –, milicianos marcharam pelo Paseo Los Próceres, no sudoeste de Caracas, para apoiar a ação das forças de segurança nos protestos contra o governo de Nicolás Maduro, que já duram mais de um mês. Já o partido opositor Vontade Popular – ala da oposição que promove os protestos nas ruas – cancelou uma manifestação em Caricuao, oeste de Caracas, diante da ameaça de grupos violentos que amedrontam os manifestantes. Assim, a oposição venezuelana será perseguida, assassinada, presa, torturada e debelada. O silêncio cúmplice das capitais latino-americanas, além de melancólico, é de meter medo. Mostra o grau de deterioração da democracia no continente e seu comprometimento com o obscurantismo ideológico.

Os EUA, longe de nós, defendem a resistência violenta a um presidente corrupto e apoiam um golpe de estado comandado pelo partido neonazista Svoboda (ignorando a Corte Suprema da Ucrânia e os três quartos de votos necessários para o impedimento presidencial) com o intuito de levar o poder militar da Otan para a Crimeia, de vital importância para a segurança da Rússia. Após o referendo de domingo passado, com 92% de aprovação entre os 82% de votantes, o que inclui ucranianos que vivem lá, Putin alcançou 82% de popularidade e não há como negar a autodeterminação da Crimeia. A Rússia não ameaça país algum da Europa e, ao contrário, quer integração, e não confronto. O referendo na Crimeia foi a resposta lógica e natural ao golpe de estado hostil que baniu até a língua russa da Ucrânia. A Europa considerava o partido Svoboda terrorista; mas uma diplomata americana, recordem-se, mandou os europeus a m… e incentivou o golpe!

A política internacional americana logrou dois feitos históricos ainda sob a inspiração de Roosevelt: democratizar a Alemanha e o Japão, com aliciantes econômicos e político-militares. Os EUA lutaram duas guerras mundiais do lado certo, junto com a Rússia e o Ocidente, mas se desentenderam na chamada “guerra fria”, que a imprensa comprada quer ressuscitar no Ocidente. Agora são povos capitalistas e democratas. A Rússia tem o direito de formar um bloco político eurasiano. Não visa guerras, é estratégia geo-econômica. Quem precipitou a crise foi a direita ucraniana apoiada pelo Ocidente. Essa política externa não é boa, leva ao confronto. Eis os efeitos: dividiu a Coreia, fez perder a guerra no Vietnã, insuflou ditaduras militares na América Latina, se indispôs no Paquistão (apoiando a Índia). Danou-se no Afeganistão, desorganizou o Iraque, sem trazê-lo para si. Nada conseguiu contra o Irã, perdeu o timing na Síria (todos os terroristas sunitas lutam contra Assad) e qualquer saída lhe será hostil. Não resolveu a questão palestina, apoia ditaduras ferozes como a do Egito (e ainda dá dinheiro) e se faz aliada incondicional de monarquias absolutistas na Arábia que proíbem as mulheres até de dirigir carros. Entregou a África subsaariana à diplomacia chinesa e vive atormentada e amedrontada pelo terrorismo da Jihad, por não saber lidar com o Islã, em parte por prepotência, em parte por ignorância e falta de experiência.

Os EUA defenderam com afinco o princípio da autodeterminação dos povos para “desmanchar” a antiga Iugoslávia do Marechal Tito em Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Eslovênia, Croácia e Macedônia e, por fim, Kosovo, com o seu apoio ostensivo. Naquela ocasião ignorou a Constituição iugoslava e valorizou a “vontade soberana dos povos à autodeterminação”. Agora é o contrário: a vontade do povo não conta, e sim uma Constituição violada. A falta de coerência é total. Agora inventa-se um “nacionalismo russo”, perigoso, justo o que Putin disse à delegação da ONU: que os russos não sejam discriminados; que as regiões sejam mais autônomas; que se observem direitos iguais para as minorias. É esse o caminho, jamais o confronto. A Crimeia russa é fato consumado pelo voto, e não pela força. Não é plausível dizer que a Rússia quer desestabilizar a Europa Central com reivindicações “nacionalistas”, quando ela é que foi discriminada (nada de acordo com a Ucrânia) humilhada (nada de 2ª língua oficial na Ucrânia) e ameaçada (seus cidadãos lá residentes).

E a Venezuela, presidente Obama? O Brasil, infelizmente, não lidera a América Latina. Não é digna de atenção? Vale estancar a violência contra um povo indefeso? Por aqui, tiranias, sejam fascistas ou comunistas, merecem prosperar? O continente está, em parte, à deriva!

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