Sindicalismo de carona

Até agora, os candidatos e os programas novos não surgiram, mas surgirão

Na tentativa de aglutinar o povo descontente, de carona nas manifestações de junho, sindicatos, estudantes ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE), centrais sindicais, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e quejandos, todos cooptados pelos governos Lula-Dilma, foram às ruas do país no dia 12 agitando suas bandeiras vermelhas para o Dia Nacional de Lutas. É de se perguntar: contra quem? O governo? Os patrões? A burguesia? Nada ficou claro. Saíram por sair, para repisar as metas de sempre: reforma agrária, passe livre, fim do fator previdenciário, jornada de 40 horas etc. Causaram imensa confusão no país, irritando a população e prejudicando o PIB, já raquítico.

Dia Nacional de Lutas

Foto: Monica Poker / Blog do Milton Jung

O Dia Nacional de Lutas – chavão desgastado e antipático – foi artificial e inspirado diretamente pelo PT, até o momento, perplexo, sem entender o que aconteceu em junho. O EM noticiou dia 12: “A expectativa das centrais sindicais de mobilizar 6 milhões de trabalhadores em todo o país ficou longe de ser alcançada. Mesmo assim, os protestos interditaram 66 rodovias em 18 estados e causaram transtornos e prejuízos em fábricas, portos, bancos e no transporte urbano. No Rio de Janeiro, houve vandalismo e confronto no Centro e outras regiões entre manifestantes e policiais, que usaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Em Minas, as manifestações de movimentos sindicais foram bem menores que as ocorridas durante a Copa das Confederações. Sete mil pessoas fizeram passeata em Belo Horizonte, mas os problemas foram causados pela paralisação de trabalhadores do transporte. O fechamento do metrô prejudicou 215 mil passageiros e a paralisação de ônibus causou confusão também na região metropolitana”.

O pessoal da Universidade Federal do ABC paulista, mais uma pretensão lulista de criar uma “inteligentzia” da classe trabalhadora, está difundindo a tese de que a “vanguarda” (sindicatos e a “sociedade civil organizada”, inclusive as ONGs que vivem, paradoxalmente, de verbas federais) foi superada pelas “massas”, cabendo à liderança “aprofundar a revolução”, rompendo as alianças com os setores progressistas (a base aliada) que impedem os objetivos revolucionários ansiados pelo povo destituído de bens materiais e desassistido, papel da vanguarda petista ou talvez do PSOL ou PSTU.

Jamais vi análise mais chinfrim, como diz o vulgo, baseada em clichês leninistas, pois dita universidade está repleta de professores marxistas inexpressivos. Ao contrário do que pensam, não temos, como na Rússia de 1917, nenhuma aliança do tipo Kerensky. O quadro histórico é totalmente outro. O que se pode dizer do próceres do lulismo, enquanto movimento político populista, são cinco coisas: em primeiro lugar, herdaram um país estabilizado pelo Plano Real – contra o qual o PT disse horrores – ao tempo de FHC, cuja política econômica mantiveram, in totum, pela mão de Palocci. Em segundo lugar, surfaram na maior e mais duradoura onda de euforia do capitalismo, com excesso de capitais que afluíram para o Brasil, além do extraordinário desenvolvimento da China, compradora de nosso bem-sucedido agronegócio e de commodities minerais. Foi o suficiente para alavancar as exportações e inverter o déficit das reservas em superávit, fazendo sumir a dívida externa. Em terceiro lugar, ganharam milhões de votos com políticas sociais inclusivas, por conta da distribuição gratuita de dinheiro (bolsas) e aumentos salariais acima da produtividade, fazendo explodir o crédito e o consumo, que resultou no recrudescimento da inflação (de 2009 para cá). Em quarto lugar, não fizeram absolutamente nada – e ao mesmo tempo impulsionaram a produção de carros e casas – na infraestrutura, na logística, na mobilidade urbana, na segurança pública, na saúde e na educação. Em quinto lugar, o PT perdeu sua identidade e se uniu à pior parte do mundo político. Nunca antes neste país houve tanta roubalheira e corrupção com o loteamento da coisa pública.

Foi a percepção indignada e generalizada desse estado de coisas que gerou gigantescas manifestações em junho. Cabe agora ao processador político entender esses anseios indignados e propor, junto com o povo, medidas concretas. O momento para culminar o processo é o das eleições gerais de 2014. Até agora os candidatos e os programas novos não surgiram, mas surgirão. E tem que ser antes da Copa, sob pena de nova onda de manifestações convulsionar o país. É o fim de uma era e o início de outra. Essa é a sensação que paira no ar. Alea jacta est (a sorte está lançada). A oposição deve entender o recado. Será um erro “mudar tudo para nada mudar”, como diria Lampedusa no livro O leopardo. Há o dever político de inaugurar uma nova etapa na vida da nação. O presente momento tornou-se irrespirável. A indefinição não pode nem deve delongar-se.

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