Rodoanel e o governador

Viria a calhar um convênio com os chineses. Eles tratam, agora, de viabilizar amplos espaços metropolitanos

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) acaba de apresentar o pré-projeto do Rodoanel (que deverá, no futuro, ligar-se ao anel ferroviário metropolitano) e que já deveria estar a findar-se. No Brasil, não se previne, remedia-se. São dois vetores, o do norte da capital e o do sul. O do norte está bem-estruturado, tem visão de futuro. Começa na BR-381 em Sabará, para lá de Ravena. Quem usa a rodovia em direção ao Vale do Aço conhece o ponto. De lá corta quase na zona de fronteira os municípios de Santa Luzia e Lagoa Santa, transpõe a MG-010 à altura de Vespasiano, já nos lindes com São José da Lapa, e, a partir daí, inflete para o sul cortando Ribeirão das Neves pelo meio (o que é bom) e adentra o município de Contagem depois de transpor a BR-040 (Sete Lagoas, Curvelo, Três Marias, Paracatu, Unaí, Brasília), seguindo para Betim, onde entronca-se com a Fernão Dias, continuação da Avenida Amazonas (BR-381).

Ora, o traçado me parece adequado, se a miranda é tirar o tráfego de veículos de passageiros que não se destinam a Belo Horizonte, e de veículos de carga na mesma situação ou que se destinam mesmo à nossa capital, mas não podem entrar no Hipercentro, daí as plataformas de transbordo como as já existentes em São Paulo, onde o Rodoanel fica pronto logo. A uma, une polos econômicos e residenciais (cidades-dormitórios) desafogando a capital. A duas, descongestiona os tradicionais corredores de trânsito e, a três, se põe próximo, em seis lugares, de linhas ferroviárias que necessariamente deverão ser modernizadas para transporte rápido de pessoas e cargas futuramente, ampliando novos locais industriais e residenciais de baixo custo, mas que deverão prover-se de sistemas de esgotamento sanitário, daí a sinergia com o Estado.

O traçado para a região sul, entretanto, é acanhado em certas alternativas, além de suscitar a reação dos “ecochatos” que inflam o peito orgulhosamente “em defesa da fauna, da flora, da terra, dos lagos e rios, índios e quilombolas”, que a mãe-natureza, ela própria, às vezes, trata com desastres arrasadores e atrozes, punindo os homens imprevidentes ou obrigando os previdentes a consertar os estragos por ela patrocinados.

Para o trecho sul do Rodoanel, o DNIT apresentou três alternativas. A primeira é absolutamente inviável. Sai da BR-381 em Betim, à altura da Petrobras/Fiat, margeia o Barreiro e chega a Olhos d’água antes do entrocamento com a BR-040, já totalmente saturado. Os engarrafamentos serão monumentais. Acrescerá caos ao sofrido “corredor sul”, superabandonado. A segunda alternativa ruma para cortar o parque do Rola Moça e chegar ao Jardim Canadá. É melhor esquecer. A guerra judicial em defesa do parque – apesar de ele, há milênios, entrar em combustão por uma simples corrida de ratos rolando pedras propiciadoras de fagulhas incendiárias da vegetação rasteira, tampouco tem valia lógica e econômica. A terceira alternativa é a correta, integra mais, saí do mesmo lugar ou um pouco antes (sentido SP/BH), passa por Córrego Fundo (tão esquecido), enfrenta o espinhaço da Serra da Moeda e chega à BR 040, depois do trevo de Ouro Preto, perto da entrada do Retiro do Chalé.

Governador Antonio AnastasiaO governador Anastasia, meu colega de magistério na Faculdade de Direito da UFMG, embora mais novo, segue atentamente o projeto com o seu incomparável gênio de planejador e gestor de megaprojetos. Há dias, anunciou 12 estações rodoviárias para BH (visão metropolitana) e agora põe a lupa no Rodoanel. Com isso, ficamos tranquilos. Temos um governador competente e um gestor metropolitano a léguas de distância dos prefeitos da Grande Belo Horizonte, preocupados demais em gerir seus espaços, sem visão do conjunto.

A propósito, a China que conseguiu deter, depois de planejar e realizar o maior êxodo rural da história da humanidade em direção aos centros urbanos, está a desenhar previamente os espaços supermetropolitanos de 40 milhões a 60 milhões de pessoas, de modo a fazê-los plenamente capazes de suprir as necessidades humanas. Um convênio sino-brasileiro nesse contexto viria a calhar, embora o nosso êxodo rural esteja praticamente completo. Mas as metrópoles brasileiras estão caóticas. Ainda valerá a pena. Céus azuis? Os vi sim, em Pequim e Xangai em outubro/novembro de 2012. Agora, está ocorrendo lá a chamada inversão térmica, igual às que ocorrem em S. Paulo e Cidade do México em certas épocas do ano. Não invalida minha proposta. Tenho para mim que a China, por estar vivendo agora a organização das grandes metrópoles, etapa já suplantada pelos EUA, Japão e a Europa, é um laboratório de soluções “in fieri”. Temos muito a aprender, por exemplo, com a província de Xangai, desde transporte de massas até educação básica (há três anos está em primeiro lugar no mundo).

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