O vento virou

O presidente mostrou sentir o vento desagradável do “ruim ou péssimo”, onda que se avoluma e segue sem parar

Minha avó gostava da “viração” à tardinha, quando a maré começava a subir às três da tarde trazendo a “frescata”, e assim ia, seguidamente, virando cada dia mais tarde até às nove, quando ela ia dormir (as leis naturais são imutáveis).

As leis da política, não. E nem sempre refrescam, mas podemos extrair alguns padrões. O poder político exalta para sempre certos políticos, como Otávio Augusto, em Roma, Roosevelt, nos EUA, que ele tirou da recessão, e Alexandre, o Grande, na Grécia macedônica. Ao contrário, pode demonizar para sempre reputações políticas egoicas ou temíveis: Atila, rei dos hunos, Hitler e Mussolini, entre tantos.

Outras personalidades estacionam no lusco-fusco da história: Napoleão, De Gaulle, Cleópatra, do clã macedônico dos Ptolomeus, Júlio Cesar, apunhalado no “senatus romano” até por Brutus, seu afilhado.

Aqui no Brasil, estamos a ver os primeiros sopros da “viração”. Mas a que me refiro é política. Uma maré de natureza pessoal, não refresca, antes descabela e atinge a cadeira da Presidência da República na pessoa do seu ocupante.

Quando a maré votante sobe na praia do “ruim ou péssimo” no meio de mau tempo, dificilmente deixa o perfil do guarda-vidas com a mesma reputação. O modo de ele se comportar, com denodo ou desmazelo, o marcará para sempre.

Passo a explicar. Ao tirar Pazuello obediente, mas de fraca mordida, do Ministério da Saúde (já é o quarto em dois anos), o presidente mostrou sentir o vento desagradável do “ruim ou péssimo”, onda que se avoluma e segue sem parar.

É mais do que isso, é a confissão de que errou. Agora, ninguém mais “vira jacaré” se tomar “a vacina da China”, ora produzida no Butantan, com capacidade 10 vezes maior que a AstraZeneca da respeitada e pluriapta Fundação Osvaldo Cruz, em Manguinhos, no Rio. Ali se produz mais de 15 vacinas. No particular, pode-se ver que Dória ganhou o pugilato.

A desvantagem de falar muito é engolir, além de mosquitos, as inverdades já pronunciadas. Falou? Está falado.

Mas não é que o presidente agora se diz a favor da vacinação? Rápido, esqueceu-se de nos ter chamado de “maricas”! (Mas se nega a mostrar o seu cartão de vacinação.) Nesse mato tem coelho, e dos grandes. A uma, porque vários líderes mundiais, com muito mais reputação e visibilidade que o Sr. Bolsonaro, se deixaram ver sendo vacinados. A duas, porque ele que já teve a COVID-19, a tal da “gripezinha”, portando, pois, anticorpos específicos, não tem motivo para fugir ao desafio. Bate o pé que não se vacinará, mas se nega a provar não tê-lo feito. Qual a razão? Que problema há em mostrar a cartela? Ele briga com a vacina. É contra.

E, vem agora, como jabuticaba temporã, dizer que vai vacinar o povo. A contradição é evidente, não passa da espuma que resta na praia depois do refluxo da maré, reflexo da queda de sua reputação. Acaba de sair a última pesquisa de opinião sobre a sua gestão da pandemia. Os que acham seu governo ruim ou péssimo subiu para 54%. Antes, eram 48%. Entre os que o acham ótimo ou bom somam 22%. Antes, eram 26%. Como se não bastasse, é sabido que o nosso presidente – e não me esquivo de dizer que votei nele no 2º turno – foi ríspido nos entreatos para escolher o novo ministro da Saúde. O Centrão não gostou nem num pouco do tratamento dado ao convite para Ludhmila Hajjar ocupar a curul ministerial.

Quando a maré baixa, há uma sucessão de quedas na areia pelo refluxo das ondas. Um querido assessor presidencial foi fotografado quando em comunicação visual com o presidente; fez-lhe um gesto típico dos supremacistas brancos norte-americanos. Está aí uma novidade que nem sabia! Mas que falta de propósito é esse Sr. assessor Felipe Martins? Nosso povo é mestiçado. Temos orgulho tanto dos migrantes italianos como dos índios, que passaram aos nordestinos feições típicas das raças amarelas (os índios penetraram as Américas vindos da Ásia). Respeitemos os negros que escravizamos, mas deram grandes contribuições em todas as áreas ao Brasil de todos nós. Bastam dois exemplos: Machado de Assis (é escritor, não se confunda) e Pelé.

V. Sa. está vazando na maré porque insiste em proclamar inverdades. Não é tão fácil de ser levado o nosso povo. Não se fie na eleição que ganhou. A análise de sua vitória será feita pelos historiadores e irá surpreendê-lo. V. Sa não a ganhou, os outros a perderam numa fase muito especial de nossa história. Quem viver, verá! Portanto, não me venha botar a culpa em governadores e prefeitos. O povo que acha sua assertiva correta soma apenas 17%. A maioria, ou seja, 43%, entende que a péssima condução da pandemia é de sua responsabilidade, do seu descaso, do seu desapreço para com o povo mais pobre.

Quanto ao seu desejo de virar a mesa não tem apoio na OEA e muito menos nos EUA. Tampouco nos comandantes militares – sejam eles quem forem. Os atuais e os que lá estiveram, com honra, desaprovam golpes para torná-lo ditador (é o que você é, foi e sempre será). A história se repete! Tudo para esconder o seu fracasso!

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