O Centrão no governo

Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ.

O mau desempenho do governo é escandaloso na saúde, mas isso não significa que em outras áreas tudo esteja bem.

A ida de Ciro Nogueira para a Secretaria-geral da Presidência é um sinal de que o empoderamento do Centrão no Palácio do Planalto não foi apenas um acidente. A entrega da Casa Civil ao Centrão descontentou os seguidores de Bolsonaro nas redes sociais, pois a Casa Civil tem um papel estratégico na coordenação da administração federal. Entretanto, na Secretaria-geral, Ciro Nogueira não terá a força política que seus aliados no Congresso esperam. Logo o pré-ditador partiu para a passeata de 7 de setembro.

Não faltam motivos para a mexida no Palácio do Planalto na metade do terceiro ano de mandato. O tempo ruge para Bolsonaro. O presidente da República perde o foco com atos de repercussão negativa e assuntos que não são prioritários. O tempo perdido já cobra seu preço nos indicadores do governo. Basta olhar para os problemas reais do país, a começar pela crise sanitária. Nove capitais registraram, mais de uma vez, (citarei algumas) falta de vacinas – Belém, Campo Grande, Florianópolis, João Pessoa, Rio de janeiro, Salvador e Vitória –, o que é um atestado de incompetência do ministro da Saúde. Marcelo Queiroga. Quatro ministros depois, as falhas do governo federal na coordenação do combate à pandemia continuam. Bolsonaro continua acumulando notícias negativas na saúde. A vacinação avança num ritmo lento, apesar dos esforços dos estados para controlar a pandemia. O número de mortes diárias não reduz o trauma de 580 mil mortos.

O mau desempenho do governo é escandaloso na saúde, mas isso não significa que em outras áreas tudo esteja bem. Houve um desmonte de políticas públicas na educação, com universidades e outros estabelecimentos federais de ensino à míngua, crise de financiamento na rede privada e evasão escolar generalizada. A ausência de uma política de habitação adequada somada à pandemia multiplicou a população em situação de rua nas grandes cidades. Na segurança pública, a liberação da venda de armas e a truculência policial fizeram explodir o número de mortes por arma de fogo, a violência e a insegurança aumentaram. E muito dinheiro dado ao pessoal militar, inclusive às policias militares estaduais.

Na área econômica, o agronegócio e a mineração vão bem, porém, a agressão ao meio ambiente tem preço. As mudanças climáticas estão em toda parte e, com isso, as pressões internacionais sobre o governo aumentarão. As enchentes na Alemanha, Holanda e em outros países europeus farão recrudescer os protestos e retaliações contra o governo brasileiro e produtos brasileiros; ao mesmo tempo, no Brasil, os incêndios provocados pela seca começaram e ainda teremos uma crise energética. Esse governo não fez obras em qualquer setor da economia.

Alta da inflação, juros subindo, 15 milhões de desempregados. Mesmo com a expectativa de crescimento neste ano, o ambiente econômico é muito ruim para a maioria da população. Como acontece nas crises, os mais pobres estão mais pobres. Entretanto, a retomada do crescimento é um fator positivo, do ponto de vista da rentabilidade das empresas, e do próprio Bolsonaro. Um voo de galinha da economia, em ano eleitoral. Mas o povo brasileiro já começou a distinguir a sinceridade da hipocrisia, a vontade de poder e do gosto patológico pelo mando.

Demagogo e pedante, a sinceridade do presidente, com seus apelos a Deus, já não convence o povo sofrido das grandes cidades do Brasil. Sua base eleitoral é hoje de 22% da população – alocada na classe média medíocre e cínica do Brasil. O povo mais pobre aguarda o momento e percebe bem a falsidade do presidente, vaidoso, que só pensa em si e nos seus familiares.

Nem seus aliados nele confiam. Esperam e aumentam a pressão por cargos, benesses e sinecuras. O Centrão é pragmático. O que puder tirar do governo o fará com vontade e precisão. Mas com ele não tem nenhum compromisso ideológico ou político.

O governo vai mal, é incompetente, e na hora azada será abandonado aos leões que desejam devorá-lo. Rei morto, rei posto. Sempre foi assim! O Brasil compreendeu Getúlio e Juscelino. Nunca engoliu Lacerda, a UDN, José Sarney, os generais-presidentes. Quem viver, verá! Nem Collor nem Bolsonaro estiveram no coração das massas. Não passam de farsantes. Querem o poder como vanglória (gloria vã).

Quer comparar os petistas aos comunistas. Isso não pega no povo. Vá pra casa, Bolsonaro. Seu ídolo Trump já foi, mesmo armando confusões. Queremos democracia, paz e convivência. Você é um criador de casos e confrontações que a todos sobressalta e prejudica. Os espíritos estão nos avisando. Não haverá a sua reeleição.

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