O Brasil depende da China

Insistimos em manter preconceitos tolos, por nanismo mental

O nível de investimento interno está baixíssimo. Em máquinas novas e digitalização o atraso é grande. Investimento em imóveis tem melhorado para os de alta renda; os de baixa renda dependem da Caixa (moradia popular). A classe média segurou a queda da indústria automobilística, que ficou em menos de 12%.

O investimento público é quase nada e as fontes internacionais de financiamento estão fechadas ou reticentes, porque não temos planos e projetos já estruturados.

Esse governo do Bolsonaro é uma negação, parece mais briga de favela do que uma sala de governo, haja vista as reuniões ministeriais e as brigas entre ministros.

O Brasil depende da China

O mundo, à sua vez, é só insegurança, somente isso é preocupante, menos na China. Os americanos mais ágeis estão indo para a Ásia, e se envolvem.

Em reportagem no O Valor, as coisas ficam mais inteligíveis.

Kristalina Giorgieva comparou a retomada a uma “grande escalada”, sujeita a tropeços, e o mais evidente dos obstáculos apontados nos cenários das organizações multilaterais é a ressurgência da COVID-19 – já verificada na França, Espanha, Reino Unido –, além da persistência do alto contágio nos EUA.

A OMC indicou que se a queda do comércio não foi tão pronunciada agora, sua retomada tampouco o será em 2021. Os 7,2% de aumento para o ano que vem são bem mais fracos que os 12,9% inicialmente projetados. De qualquer forma, os indicadores antecedentes usados pela organização para enxergar as tendências eram animadores.

A guerra comercial dos Estados Unidos contra a China só piorou o cenário turbulento desenhado pela pandemia. Nela, não há como os EUA se considerarem vitoriosos. As exportações despencaram mais na América do Norte do que em qualquer outra região (-14,7%). Proposital ou casual, os números do comércio mundial foram divulgados ontem por Yi Xiaozhun, ex-embaixador da China na OMC e diretor da organização.

Quase que ao mesmo tempo, foram divulgadas as estatísticas do comércio exterior americano que apontavam que o país teve déficit comercial de US$ 67,1 bilhões em agosto, o maior dos últimos 14 anos. A América – ao contrário da retórica de Trump, continua a mesma.

“Tornar a América grande de novo”, slogan de Trump sob o qual impôs uma série de tarifas protecionistas, vai demorar mais algum tempo. No ano, o déficit aumentou 5,7% em relação a 2019. Em 12 meses, ele saltou de ao redor de US$ 500 bilhões para US$ 550 bilhões na atual administração.

O retrato mensal é também o de um fracasso de uma das principais bandeiras eleitorais de Trump. O país teve um rombo comercial de US$ 26,5 bilhões com a China, de US$ 15,7 bilhões com a União Europeia e de US$ 12,5 bilhões com o México, três dos seus maiores parceiros com os quais brigou e restringiu importações nos últimos anos. Eis aí o liberal protecionista do “livre mercado”.

A razoável performance brasileira tem dois motivos: China demanda alimentos. As vendas para a China aumentaram 14% até setembro e subiram para 34,1% do total. O consumo e a exportação de alimentos foram os setores menos atingidos pela pandemia globalmente. No fatídico segundo trimestre, o pior da economia mundial, houve um recuo de 5% – no caso das compras chinesas, elas não caíram. Soja, minério de ferro, petróleo e carnes somaram 83% das exportações do Brasil. Se não fosse a China, estaríamos em maus lençóis.

As piadinhas do nosso ex-ministro da Educação – tão deseducado – em relação à China são a prova viva do despreparo deste governo. É honesto? Tirante o exagero, é obrigação básica, temos o dever de nos relacionar bem com os nossos parceiros comerciais, fonte de poder de nossa expansão econômica exportadora, aumentando nossas divisas internacionais, sem as quais não teríamos participação comercial global.

O mundo atual on-line em mercados globais e regionais exige contatos precisos, oportunos, rápidos e eficazes. Por isso, as “tradings” estão formando consórcios nos diversos mercados, o que exige informações e estratégias que este governo não tem. Dá-se que a fábrica do mundo se tornou a China, daí sua importância. Não fomos a ela, veio a nós sem preconceitos tolos, que insistimos manter, por nanismo mental.

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