Narciso e os gregos

 

Narciso é uma personagem da mitologia grega. Achava-se o ser mais belo do universo. Essa mitologia misturava, propositalmente, deuses imortais a seres mortais, criando mitos extraordinários, retratando sob a forma de episódios fantásticos a psique humana, seus dramas, tragédias (e comédias), sem falar nos registros históricos sobre povos e épocas.

Narciso e os gregos

Exemplo disso é o de Homero, o historiador da Antiguidade. Um dos seus relatos é o da Guerra de Troia, cujo pivô fôra a bela Helena. O cavalo de Troia e a cidade mais poderosa e inexpugnável da Hélade (Troia estava situada nas franjas litorâneas da hoje vizinha Turquia). É comum chamarmos um vírus na internet de “cavalo de troia” e usarmos a expressão “presente de grego”, o artifício dos helênicos de presentear o mandante daquela cidade fortificada com um monumental cavalo de madeira, dentro do qual estavam os guerreiros que a dominariam.

 

Quem já não ouviu falar em “complexo de Édipo”? Principalmente em psicologia, para definir a afeição do filho pela mãe e o consequente ódio ao pai, que a possui como mulher?

Sófocles, o dramaturgo, deu à peça o sugestivo título de Édipo rei, que termina por furar os olhos por ter desejado tanto Jocasta, sua mãe, sem que soubesse (a percepção do inconsciente feita por Freud, que denominou o “desejo do filho pela mãe”de complexo de Édipo). Na hipótese feminina, algo parecido acontece com a admiração da filha pelo pai (complexo de Electra).

Nenhum povo da mesma raça, como os hititas que habitavam a península anatólica (Turquia), egípcios, babilônicos, assírios, romanos, foram capazes de criar uma mitologia de fundo psicanalítico como fizeram os antigos gregos, sem falar nas dezenas de filósofos como Aristóteles, Sócrates, Platão, Parmênides, Zenão, Diógenes, Tales de Mileto, Anaximandro, Pitágoras, Heráclito (que inspirou Marx e Engels), Hesíodo, Demócrito etc., desde quatro séculos antes de Cristo.

Alfred Whitehead chegou a dizer que a cultura europeia, seja cristã ou não, e o islamismo beberam nas ideações da fonte grega (seriam apenas notas de rodapé).

As ciências modernas foram pressentidas pelos filósofos gregos (física, química, astronomia, o átomo, medicina, quase tudo).

O mais que nos intriga é o apagão intelectual do mundo grego, o que inclui Alexandre da Macedônia, o conquistador que dominou toda a Europa do Leste ao Norte da África e Oriente Próximo e Médio. Ao se tornar potência militar, a Grécia cessou, calou-se. Seguiu-se-lhe um império que chegou ao Punjab, na parte alta da Índia, depois do Paquistão, vista do Ocidente, até que os romanos dominaram tudo. Da Inglaterra, Germânia e França (Gália), tudo à roda do Mediterrâneo prostrou-se ao poder de Roma, império que durou 700 anos e que, no Oriente, deu-se ao direito de continuar a existir até 1453, quando ocorreu a queda de Constantinopla (a cidade de Constantino, que a construiu junto a cidade dos gálatas, convertido ao cristianismo de muitas seitas, por ele unificado). Digo isso, pois após a queda de Roma por invasores germânicos, que derrubaram o Império Romano do Ocidente, Bizâncio, hoje, Istambul, capital da Turquia, tornou-se a sede do Império Romano do Oriente até a queda de Constantinopla, tomada pelos turcos otomanos.

Passaram-se anos e os povos neolatinos que se seguiram à queda de Roma começaram a se expandir. Os primeiros a se destacar foram Espanha e Portugal, depois a Holanda, e logo a França e a Inglaterra.

Fruto dessa expansão, em 1500 d.C., os portugueses, os primeiros navegantes transoceânicos, chegaram a um porto seguro, na América do Sul, onde havia somente índios em estágio primitivo e uma árvore vermelha, que, tratada com água fervente, dá um colorido vermelho. A Terra Brasilis estava exposta à Europa, a terra que depois receberia o nome de Brasil.

Temos uma história que começa a valer mesmo só depois de 1545, enquanto nação-colônia dos lusitanos, habitantes ocidentais da Península Ibérica, junto com a Espanha, as primeiras nações navegantes com transações comerciais ricas, na Ásia e Américas.

Agora, estamos a lidar com um presidente narciso em corpo e alma. É, certamente, um esquizofreniforme que o país está começando a conhecer. Com ele não se pode contar. No Dia das Mães, nem sequer emitiu uma mensagem. Foi esquiar no Lago Paranoá, a se mostrar feito um garotão de Jacarepaguá na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Lá é comum acontecerem governantes estapafúrdios como Crivella, Garotinho e sua mulher Rosinha, em que pese os Lacerdas e Negrões de Lima, bons governantes. Narciso, no Dia das Mães, exibiu-se no Lago Paranoá. Além de poluir a cidade e o país, ainda solta óleo no lago. É uma criatura deletéria, do tipo que os gregos de Esparta jogavam no abismo ao nascer, a bem de uma sociedade sadia de corpo e alma.

Roma sobreviveu apesar dos Calígulas e Neros. O Brasil também saberá ultrapassar os Narcisos e seus áulicos.

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