Colônia automobilística

É totalmente estrangeira a indústria automobilística brasileira, diferentemente da indústria aeronáutica civil e militar de caças e aeronaves de porte médio (a Embraer privatizada é um player mundial). Nossas montadoras de caminhões, máquinas automotivas e automóveis possuem sedes nos EUA, Europa, Japão, Coreia e, logo, China. Durante anos a fio comprávamos caras carroças. Foi Collor que deu o tranco inicial e abriu o mercado. Hoje os carros aqui produzidos apresentam índices melhores, mas estamos ainda longe dos modelos produzidos lá fora.

Sob a capa de “política industrial”, o governo Dilma resolveu encarecer os importados, aumentando-lhes brutalmente o IPI. Os ricos continuarão a comprá-los e o governo arrecadará mais, porém os populares importados ficarão distantes do povo. Ao meu sentir, parece ser a política danosa ao nosso desenvolvimento tecnológico, conhecida por reserva de mercado. Lembram-se quantos anos perdidos na informática? A indústria automobilística “nacional”, para previnir-se da concorrência e fugir da inovação, fez o governo encarecer os produtos do exterior, sem ressalvar os de porte pequeno e médio, de feitio popular, estimuladores da concorrência.

As montadoras de automóveis instaladas no Brasil têm nos últimos anos batido recordes de vendas. O aumento da renda de parte da população antes excluída do mercado automotivo, juntamente com crédito caro, mas farto e a perder de vista fizeram com que a relação habitantes por veículo seja estimada atualmente em menos de 7, contra 9 em 2002. As montadoras geraram resultados que, transferidos para suas matrizes, ajudaram-nas a atravessar a crise. Mercados com altas margens de lucro atraem concorrentes. Coreanos e chineses começaram a oferecer produtos com qualidade superior aos vendidos no Brasil e mais baratos. As montadoras locais apontaram para o perigo da concorrência externa, para o emprego e para a própria lucratividade. O governo, sensibilizado, definiu para o setor uma política que protege a produção e o emprego locais, prometeu até incentivos. Ora essa, quem precisa de incentivos, inclusive tributários, como prescreve a Constituição, são as pequenas e médias empresas brasileiras, a responder por 62% da mão de obra empregada, e não as grandes corporações nacionais, menos ainda as estrangeiras.

A verdade é outra. Os carros produzidos no Brasil não são competitivos e até mesmo os carros chineses, no fim da fila, são tecnologicamente mais atualizados, observadas as categorias mais populares, do que os brasileiros. O governo tem boas intenções, mas deixou-se iludir. Algo semelhante ao que o ministro Serra fez com a indústria farmacêutica precisa ser feito com a automobilística. Para simplificar a questão de maneira nua e crua, diga-se que as subsidiárias brasileiras são geradoras de lucros, com margens crescentes, para as suas matrizes no exterior. Os centros decisórios estão lá e não estão nem aí para as nossas necessidades. É isso que o Brasil precisa inverter. É preciso expô-las à concorrência e exigir que os incrementos tecnológicos já existentes nas matrizes embarquem em nossos carros sem custos adicionais. Que se crie uma comissão de monitoramento com especialistas (e os há em profusão) para tão nobre finalidade. É o povo brasileiro que se estará defendendo. O tamanho do nosso mercado consumidor nos credencia a falar grosso.

Diga-se por último, que o mercado nos países desenvolvidos está em declínio, ao contrário do que ocorre na maioria dos emergentes, entre eles o Brasil. Enfim, estamos com a faca e o queijo na mão. Resta saber usá-la com sóbria determinação Chineses e coreanos trarão suas fábricas para o Brasil e vencerão a batalha, a menos que os concorrentes, como intentou a Fiat, olhem o comprador brasileiro com maior respeito, ofertando-lhe modelos tecnologicamente avançados, visando o mercado interno e também o externo. As grandes montadoras definem as plataformas de venda e os mercados compradores. Não nos interessa apenas comprar veículos automotores. Eles devem ser bons. Eles têm que ser exportados, sob pena de nos torna-mos uma colônia automobilística.

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