Yvonne Yue Li e Gabrielle Coppola da Bloomberg dizem: Sete meses após o presidente dos EUA, Joe Biden, ter sancionado um pacote de subsídios dentro Lei de redução da inflação (IRA, na sigla em inglês) começa a ficar mais claro o grau da dificuldade dos EUA para atenuar o controle da China sobre a cadeia de suprimentos de veículos elétricos.
A Ford, principal montadora americana, confirmou em fevereiro que usará tecnologia da gigante chinesa fabricante de baterias CATL em uma unidade de produção que está construindo em Michigan. A Tesla prevê que a versão básica de seu veículo elétrico mais barato, o Model 3, perderá todo seu incentivo fiscal de US$ 7.500 a que poderia ter direito porque suas células provêm da China. Muitos outros veículos elétricos aptos à obtenção de crédito acabarão habilitados para receber, no máximo, US$ 3.750, após o Departamento do Tesouro americano concluir as exigências de padrão dos componentes que foram alvo de discussões acaloradas e de abordagens dos lobistas.
Poucos dias antes da divulgação dessas regras, um instituto de análise de Washington, cuja missão está alinhada com as metas da IRA, divulgou um relatório detalhado que investiga o domínio da China sobre a cadeia de suprimentos, e os métodos usados por Pequim para garantir sua hegemonia.
O grupo, conhecido pelas iniciais Safe, (Securing America’s Future Energy), concluiu que a China tem garantido a dominância, em parte, por não arcar totalmente com prejuízos aos trabalhadores e ao meio ambiente no processamento de minerais decisivos, entre os quais lítio, níquel e cobalto – muitas vezes em países de renda mais baixa.
Como exemplos, a Safe aponta para a maneira pela qual a China está bem à frente dos EUA na produção das terras-raras usadas em motores elétricos, e para a maneira pela qual a Indonésia desenvolveu enorme liderança sobre a Austrália na produção de níquel.
Os EUA eram o maior produtor de minerais de terras-raras na década de 90, até os fornecedores chineses inundarem o mercado com suprimentos de menor custo. Essas terras-raras eram mais baratas em parte porque os fornecedores eram autorizados a descartar o lixo radioativo no Rio Amarelo, que corta a China Ocidental, diz a Safe, atribuindo as informações a um relatório do “Institute for the Analysis of Global Security”. Com relação ao níquel, algumas mineradoras da Indonésia conseguem extrair o metal a um custo inferior ao descartar seus rejeitos no mar, diz a Safe, atribuindo as informações a um relatório de um grupo de lobby alemão.
A Austrália está perto da Indonésia na lista dos países que têm as maiores reservas de níquel, mas proíbe essas práticas de descarte. Com isso, cerca de metade da oferta mundial de níquel provém da Indonésia, enquanto a Austrália responde por apenas 5%, segundo a Safe.
“Essa desigualdade de condições, em que os produtores competem com base somente no custo e em que é baixa a transparência sobre a forma de produção, criou uma guerra comercial – baseada na redução dos custos – pela obtenção de minerais decisivos só prejudica comunidades e o ambiente.
A Safe arrola medidas de política pública que, segundo diz, mudariam diametralmente esse fenômeno. Em seu relatório intitulado “A Global Race to the Top”, o grupo conclama os EUA a se juntar à União Europeia e ao Japão ou a concordar em apenas se abastecer de minerais produzidos sob a vigência de altos padrões, argumentando que o restante do mundo seria obrigado a fazer o mesmo.
A Safe também recomenda que haja mais transparência sobre a origem dos minerais – e sobre seu custo humano e ambiental – ao nível do consumidor por meio do acréscimo dessas informações ao rótulo que expõe informações como preço e alcance da bateria… (Achamos isso uma hipócrita utopia).
“Encaramos a mineração responsável como elemento-chave para a diversificação”, disse Abigail Wulf, vice-presidente e diretora do Centro de Estratégia de Minerais Essenciais da Safe. “Neste momento, está sendo incrivelmente difícil diversificar as cadeias de suprimentos, porque é difícil concorrer nos custos, pois esses minerais vêm de lugares que degradam o meio ambiente e exploram trabalhadores de maneiras não permitidas nos EUA, Canadá, UE e Austrália.”
Ocorre que a China não é demoníaca e quer também proteger sua população. Estamos em meio a uma guerra, onde a velha China se apresenta como a economia mais dinâmica do mundo atual, a ameaçar a dominância norte-americana.
A história não para. A cada dia o mundo muda, os povos, as pessoas e os países… Quando como seres racionais superiores teremos o senso de que somos uma só humanidade?
Enquanto isso não acontece precisamos de um plano quinquenal para identificar as nossas jazidas dos minerais estratégicos que estão na base do mundo futuro que se quer tornar “descarbonizado”.
Nos orgulhamos de nossa matriz energética baseada na energia hidráulica, mas não basta. As baterias elétricas exigem mais mineração ou ficaremos na retaguarda do progresso.
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