Bolsonaro, governança incompetente

A exaustão do repertório de bravatas de Bolsonaro para desviar atenções impede o governo de se esquivar das mazelas da saúde pública e as da economia

Rodrigo Zeidan, professor de economia da New York University, culpa Bolsonaro de não ter coordenado, em nível nacional, a pandemia: “Em qualquer lugar do mundo, principalmente em países grandes, as respostas foram coordenadas pelo governo federal”. Sei não, ponho em dúvida a competência de Bolsonaro e seu egoísmo político. Quando o ministro Mandetta estava agregando o país para enfrentar a COVID-19, o presidente, por inveja, o exonerou. Depois, nomeou um cara de morcego, sem nenhuma empatia e traquejo político para o cargo. Bastou um mês e ele bateu, soturno, suas asas para a sua clínica particular especializada em oncologia.

Bolsonaro, governança incompetente

Não faz mal lê-lo na íntegra, com suas próprias palavras (EM 21/6/20). Ao ponto: “Criar um lockdown sério, assim como foi feito em vários países, como Espanha e Itália. Fazer uma política clara sobre testes, inclusive reconversão industrial (reorientação do setor para as novas exigências econômicas e sociais). O governo demorou demais a soltar políticas de crédito e auxílio para pessoas e empresas. Basicamente, o governo fez tudo errado. A renda básica emergencial só saiu por causa do Congresso. De novo, o governo federal abdicou da responsabilidade de fazer algo. O Congresso foi lá e criou o mecanismo de R$ 600 por três meses e, basicamente, o enfiou goela abaixo do governo, que está dizendo agora que não tem dinheiro para expandir, que não quer fazer. Toda ou qualquer política que o governo poderia ter feito não fez”.

E sobre a postura do presidente de não respeitar a quarentena, derrubar dois ministros da saúde? “Enxergo como quase um genocídio. Talvez um possível genocídio, com o governo sendo irresponsável. Tem um artigo (https://bit.ly/2zs3h6W) sensacional do Tiago Cavalcanti, que é professor de Cambridge, com outros coautores, mostrando como, em cidades que apoiam o presidente, quando ele falava contra a quarentena, dizendo que era uma gripezinha, o índice de distanciamento social diminuía e o nível de infecção aumentava”.

E sobre a condução da economia (Guedes ainda não mostrou a que veio), sendo homem de corretoras de valores, nunca um macroeconomista como Delfim Neto ou Simonsen, dos velhos tempos e também dos novos, como Armínio Fraga e Gustavo Franco. Fato é que a COVID-19 pelo presidente desdenhada, numa atitude maluca, somente pensando em não ver seu governo perder Produto Interno Bruto (PIB), agora vai de mal a pior. É recessão para valer. Tinha que fazer o contrário, mas lhe faltava bom senso, tornou-se um negacionista irresponsavelmente.

Economistas avaliam que os dados sinalizam um tombo menos pronunciado do PIB no segundo trimestre, mais perto de 10% do que de 15%. Assim, é a onda de revisões pessimistas para o tamanho da recessão em 2020, por enquanto.

Divulgado o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), caiu 9,73% entre março e abril, feitos os ajustes sazonais, depois de ter recuado 6,16% na medição anterior. Foi o pior resultado para o mês da série histórica do BC. Conforme esperado, a medição refletiu as medidas de isolamento social, que derrubaram produção, vendas do comércio e prestação de serviços. Embora tenha metodologia de cálculo diferente das Contas Nacionais Trimestrais, do IBGE, o IBC-Br é considerado uma aproximação do que seria o comportamento mensal do PIB.

Segundo Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, os indicadores de abril confirmaram que o mês foi o pior do ano em termos de atividade, mas há setores mais resistentes que amorteceram a queda, como a produção de alimentos, papel e celulose e produtos farmacêuticos e, no varejo, o setor de supermercados.

Antônio Machado, em análise perfeita, nos diz: “As prisões do ex-PM Fabrício Queiroz, velho operador financeiro da família Bolsonaro, e de extremistas bolsonaristas em Brasília, além da busca, apreensão e quebrados sigilos de parlamentares da tropa de choque do governo a pedido da Procuradoria-Geral da República e autorizadas pelo STF, terão desdobramentos sobre a política e a economia, que já vinha debilitada antes da pandemia.”

Nada tão farsesco quanto um presidente alçado pela criminalização da política pela Lava-Jato e com apoiadores extremados que se veem numa cruzada moralista e antissistema mendigando apoio de partidos sedentos por orçamentos bilionários de órgãos que fazem licitações e negociam com fornecedores privados e prestadores de serviços.

A exaustão do repertório de bravatas de Bolsonaro para desviar atenções impede o governo de se esquivar das mazelas da saúde pública e as da economia, estagnada desde a recessão de 2015 a 2016 e outra vez andando para trás com o isolamento social para mitigar a pandemia da COVID-19.

Tais crises se superpõem às do governo atarantado pelo tamanho do desafio da regressão da economia, paralisado pelo vírus, que julgou sem gravidade, e assombrado pelas suas relações do passado com as milícias”.

Nada a acrescentar. Estamos no ponto de inflexão do governo Bolsonaro.

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