Bolsonaro atrapalha acordo

A imagem tóxica do presidente brasileiro amplifica o custo para o país ter a troca de preferências comerciais com a Europa.

 

Relator do acordo União Europeia-Mercosul no Comitê de Comércio Internacional do Parlamento Europeu, o deputado liberal espanhol Jordi Canas vê uma oportunidade política “formidável”, com compromissos adicionais do Mercosul na área ambiental, para melhorar as condições de ratificação do tratado.

Em entrevista ao Valor, o deputado, conhecido como um dos mais favoráveis defensores do acordo, vê uma “janela de oportunidade” justamente antes da eleição presidencial de abril de 2022 na França, ao contrário de boa parte de observadores da cena europeia.

“Para mim, seria bom ratificar antes [da eleição francesa], mas dependerá um pouco da profundidade dos compromissos adicionais”, para que Emmanuel Macron possa usar na campanha eleitoral, de que a França conseguiu uma vitória, como guardião do Acordo de Paris, relativo ao meio ambiente.

“Se Macron puder mostrar que arrancou concessões significativas do Mercosul, poderá frear o avanço do Partido Verde e bloquear protecionismo da extrema-direita, que também é contra a abertura comercial…”

É que se os compromissos do Mercosul no combate ao desmatamento forem vistos como não relevantes, continuará complicado o encaminhamento do tratado para o Conselho da UE, que reúne ministros dos 27 estados-membros, e para o Parlamento Europeu.

Jordi Canas observa que compromisso ambiental será não apenas do Mercosul, e sim obrigação compartilhada pelos dois blocos. A UE produz mais emissões de gases que o bloco do Cone Sul e sua matriz energética também precisa ser melhorada…

Declaração anexa ao acordo deverá vir acompanhada de pacote de cooperação incluindo financiamento para combate ao desmatamento na Amazônia, na avaliação de Canas. O Brasil, digo eu, tem uma matriz energética solar e com base no etanol bem desenvolvida.

“O problema do desmatamento no Brasil não é só do governo Bolsonaro”, afirmou. “Quando o Brasil cresce, o desmatamento baixa, e quando o Brasil cresce menos, o desmatamento aumenta.” A afirmação nos parece muito duvidosa. A energia eólica cresce no litoral, seguidamente, sem ajuda do governo central.

A oposição ao acordo com o Mercosul na Europa “nem é sobre o Brasil, aí falamos de Bolsonaro”, a imagem tóxica do presidente brasileiro amplifica o custo para o país ter a troca de preferências comerciais com a Europa.

Em outubro de 2020, o Parlamento Europeu rejeitou simbolicamente o acordo UE-Mercosul, com bom número de deputados manifestando “profunda preocupação com a política ambiental de Jair Bolsonaro”. Essa emenda contra o acordo obteve 345 votos a favor, 295 contra e 56 abstenções.

Canas considera que os argumentos dos críticos ao acordo na área ambiental são legítimos e “estamos preocupados pela conservação da Amazônia, mas sem o acordo vai ser pior para o meio ambiente. O enfrentamento não vai a lugar nenhum”. Ora essa, a culpa é nossa, falhamos em mostrar aos ignorantes europeus nossos avanços na energia solar e eólica, além da base hidráulica. Temos a melhor matriz do mundo.

Um grupo de 450 organizações da sociedade civil lançou uma “coalizão transatlântica contra o acordo UE-Mercosul”, ilustrando a crescente mobilização contra o tratado na Europa.

Os fanáticos “verdes” na Europa já conseguiram 2,1 milhões de assinaturas pedindo aos governos dos dois lados do Atlântico para interromper o acordo UE-Mercosul, verdadeiro non sense.

Mas um complicador político desta vez vai estar neste lado do Atlântico, com a eleição presidencial no Brasil em outubro de 2022.

A avaliação é de que dificilmente os críticos do governo de Jair Bolsonaro iriam pavimentar o terreno para ele proclamar vitória diplomática com a aprovação, enfim, do acordo. A perspectiva com Bolsonaro é péssima.

Entra também nas ponderações a posição de Alberto Fernández, presidente da Argentina, grande aliado de Lula e que nunca teve entusiasmo de seu antecessor Macri pelo acordo birregional. Fernández visivelmente não quer nem sequer foto com Bolsonaro. Empurrar o acordo para mais tarde, na esperança de não tê-lo em cena, não seria problema.

Nesse calendário, restará 2023, quando se sucederão na presidência da UE dois países favoráveis ao acordo: a Suécia no primeiro semestre e a Espanha no segundo.

O acordo do Mercosul fora completamente abandonado pela chancelaria brasileira, coordenado por Araújo, um maluco, com evidentes sinais de demência e delírios religiosos de fundo paranoico, a partir do curso de magias de Olavo de Carvalho, outro doente mental, guru dos Bolsonaros, cuja residência é nos EUA. Felizmente, foi-se do governo. E já foi tarde.

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