A política externa do Brasil

Devemos primar pelo capitalismo na economia, pela democracia no regime político e pelas relações comerciais com todos os países do mundo

Nossa política externa deve ser independente e a todos tratar com respeito e atenção. Oferecer o solo pátrio a uma base americana é ato de neófito, até porque os Estados Unidos têm uma no Panamá completa (aeronaval). Ocorre que nem os EUA a pediram nem o presidente a sugeriu. É a mídia petista em ação do modo sectário de sempre. Louvores a Israel são disparatados, surpreenderam até o seu primeiro-ministro daquele país. Os grandes povos são como altivas montanhas, os outros é que chegam a elas, com esforço. A questão ganha realce quando o tema envereda pelos caminhos do comércio exterior. Neste ponto, o presidente erra na birra com a China. A balança comercial brasileira registrou, em 2018, superavit de US$ 58,3 bilhões. É suficientemente robusto para, com a entrada líquida de investimentos estrangeiros diretos, assegurar a tranquilidade das contas externas do país. Os números divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia mostram um setor exportador vigoroso que conseguiu ampliar suas vendas em 9,6% na comparação com 2017. Os dados do comércio exterior refletem a recuperação da atividade econômica e o aumento de 20,2% das importações. O período Temer foi de recuperação e ordem. 

Mais instrutivo do que esses grandes números é o exame dos principais destinos dos produtos brasileiros. Em seu discurso de posse, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, assegurou que“o Itamaraty terá, a partir de agora, o perfil mais elevado e mais engajado que jamais teve na promoção do agronegócio, dos investimentos e da tecnologia.” Que assim seja. Ele tem um lado religioso a que chama de “judaico-cristão”, como se isso fosse novidade. Desde Constantino, o Mundo Ocidental rege-se pela tradição judaico-cristã. Mas não me venham combater o islamismo e os chineses. O comércio prescinde de religião. 

No ano passado, com compras de US$ 66,6 bilhões, a China aumentou em 32,7% suas importações de produtos originários do Brasil (em 2017, importara US$ 50,2 bilhões). Já era o principal destino das exportações brasileiras, respondendo por 23% do que o Brasil vendeu lá fora em 2017, e ampliou para 27,8% sua fatia como maior mercado para os exportadores brasileiros. Não há razão para hostilizá-la, tampouco a Rússia ou a África do Sul. Devemos ser globais, além do Mercosul e dos Brics. 

Bolsonaro buscou aproximação com o governo de Israel e anunciou sua intenção de transferir a sede da Embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, imitando o governo norte-americano. O ministro Ernesto Araújo, de sua parte, declarou que Israel merece sua admiração, pois “nunca deixou de ser uma nação, mesmo quando não tinha solo”. 

Manifestações de tal ordem podem provocar reações em países árabes e resultar em restrições à entrada de produtos brasileiros nesses países. Maior aproximação com Israel não será suficiente para compensar as perdas no comércio com o mundo árabe. É o que sugerem os números sobre o destino das exportações brasileiras. Ora essa! O dever do governo é — sem viés ideológico — garantir nossas vendas à China, nossa principal parceira, e aos árabes. Israel é um cisco comercial. Amizade basta, sem urras. 

Até novembro de 2018, as exportações brasileiras para o Irã tinham alcançado US$ 2,15 bilhões; para o Egito, US$ 2,0 bilhões; para a Arábia Saudita, US$ 1,9 bilhão; para os Emirados Árabes Unidos, US$ 1,83 bilhão; e, para Omã, US$ 614 milhões. Para Israel, no mesmo período, o Brasil havia exportado US$ 293 milhões — menos do que para Cuba (US$ 321 milhões). A Polônia, a Itália e a Hungria significam quase nada. São todos de extrema-direita. Será que vamos nos alinhar a eles? Orban, da Hungria, é o pior deles na faixa do neo-fascismo. Esteve aqui na posse. 

Uma coisa é ideologia, outra, a balança comercial e seus componentes, entre eles, os países que mais contam como importadores de nossos produtos e como aplicadores de capital em empreendimentos em nossa economia. A bipolaridade entre capitalismo e socialismo marxista deixou de existir e, portanto, não deve ser levada em conta na hora em que estamos suportando o “socialismo do século 21” da era Lula-Dilma, de resto, desastroso. Devemos primar pelo capitalismo na economia, pela democracia no regime político e pelas relações comerciais com todos os países do mundo, sem aventuras ideológicas ou militares e sem viés ideológico, como proclamado pelo presidente. 

Neste ponto, o “Império do meio”, ou seja, a China, cuja existência remonta a sete mil anos e é a nossa maior parceira, deve ser tratada com respeito, até por ser o maior sucesso do capitalismo tardio. Mas não basta respeito. É preciso visitá-la e cortejá-la para que importe e invista mais em nosso país. Ou vamos pensar como no tempo da guerra fria, que nem existe mais? A troco de quê?

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