A política e a virtude

Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ

As medidas erráticas que o governo vem adotando para conter a inflação e mitigar seus efeitos junto aos mais pobres da população não estão surtindo o efeito

Bolsonaro está envolvido em atos de corrupção passiva. Agora, Bolsonaro corre o risco de perder a eleição no primeiro turno, para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que contraria a lógica do instituto da reeleição, que favorece quem está no poder com propósito de dar continuidade aos seus bons projetos. É preciso um desgoverno, e errar muito na política, para não se reeleger. É exatamente o que vem fazendo.

A pesquisa DataFolha mostra isso claramente. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está com 48% de intenções de votos, contra 27% de Bolsonaro. Ciro Gomes (PDT) tem 7%; André Janones (Avante), 2%; Simone Tebet (MDB), 2%; Pablo Marçal (Pros), 1%; e Vera Lúcia (PSTU), 1%. Branco/nulo/nenhum somam 7%; não sabe, 4%. Felipe d’Avila (Novo), Sofia Manzano (PCB), Leonardo Péricles (UP), Eymael (DC), Luciano Bivar (UB) e General Santos Cruz (Podemos) não pontuaram.

Na simulação de segundo turno, Lula tem 54%, e Bolsonaro, 30%. O DataFolha ouviu 2.556 pessoas entre 25 e 26 de maio, em 181 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
A pesquisa está sendo espinafrada nas redes sociais pelos bolsonaristas, embora seja uma fotografia do atual momento. A campanha eleitoral somente começa para valer em 15 de agosto. É tempo suficiente para que Bolsonaro e os demais candidatos se reposicionem.

A pesquisa estimulada não pode ser comparada com o levantamento anterior, de 22 e 23 de março, porque o ex-governador de São Paulo João Doria está fora da disputa. Naquele levantamento, Lula registrou 43% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tinha 26%, mas o petista já batia na trave de uma vitória no primeiro turno. O DataFolha pegou de surpresa os estrategistas de Bolsonaro e atordoou os políticos do Centrão, porque a vantagem de Lula no Nordeste é avassaladora: 62% a 17%.

Enquanto Lula jogou praticamente parado, e deu algumas declarações infelizes, Bolsonaro se deslocou pelo país, lançou novos programas, baixou medidas provisórias, demitiu dois presidentes da Petrobras, partiu novamente para cima dos ministros do Supremo Tribunal Federal e voltou a levantar suspeitas infundadas sobre as urnas eletrônicas. Retomou sua agenda conservadora nos costumes e iliberal na política. Foi um desastre, que reverteu a aproximação junto aos eleitores moderados e jogou no colo de Lula setores de centro-esquerda preocupados com seus arroubos autoritários.

Depois da pandemia de COVID-19, que foi controlada, a guerra da Ucrânia agravou a situação econômica do país. As medidas erráticas que vem adotando para conter a inflação e mitigar seus efeitos junto às camadas mais pobres da população também não estão surtindo o efeito desejado. Na prática, a desorientação política reduziu as expectativas de reeleição que Bolsonaro havia projetado.

Há as suspeitas de corrupção envolvendo pastores na liberação de verbas do Ministério da Educação e de compras de vacinas no Ministério da Saúde. Agora, há suspeitas sobre supostas compras superfaturadas de caminhões de lixo por meio de emendas de relator (RP9), o chamado orçamento secreto do Congresso Nacional. Entre 2019 e 2021, o orçamento para a compra de caminhões passou de R$ 24 milhões para R$ 200,2 milhões. A quantidade de veículos também cresceu, saiu de 85 para 510, em 2020, revelando uma alta de 500%. Em 2021, ainda foram adquiridos mais 453 caminhões.

Apesar de as aquisições terem caráter social, não há transparência quanto à forma de compra, não seguem nenhuma política pública de saneamento básico nem com questões relacionadas à coleta de lixo. Se trataria apenas de aceno à base eleitoral e ao lobby com o Congresso Nacional e prefeituras – especialmente com políticos do Centrão, que fazem indicações de apadrinhados para abocanhar os preços superfaturados.
À campanha do Kalil de um projeto progressista, disse o pré-candidato a vice ao EM. “Minha maior aproximação com Kalil não é pessoal, mas política. Política em função do que ele fez em Belo Horizonte na questão social. O que Kalil fez em BH, pode fazer por Minas – e Lula vai tentar fazer pelo Brasil”, emendou.

A reboque do acordo com o PT, Kalil ganha os apoios de PCdoB e PV, que vão formar uma federação partidária com os petistas. A Rede Sustentabilidade, que compôs o governo dele na prefeitura, também deve estar no leque de alianças. Segundo Quintão, uma das ideias é tentar levar, ao grupo, legendas como o Psol e o PSB, que têm pré-candidaturas próprias ao Palácio Tiradentes – Lorene Figueiredo e Saraiva Felipe, respectivamente.

“A apresentação de seu nome ao partido é resultado de um trabalho de anos. Há, também, relação com os movimentos sociais, especialmente no combate à pobreza e à exclusão, de respeito às comunidades tradicionais e indígenas, e às causas civilizatórias – contra a homofobia e em defesa da igualdade racial”, explicou Quintão, o vice.

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