O acordo com o Irã é definitivo. É o caminho para a paz. Queremos nos sentir seguros em Londres, Nova York, Paris, em Beirute ou no Cairo
A Europa ocidental e os EUA, os xiitas (por razões antigas), os israelenses, em razão da instalação do Estado e da ocupação territorial da Palestina cisjordânica, estão absolutamente inseguros, passíveis de sofrer de repente atentados coletivos ou individuais a faca.
No que diz respeito aos EUA e à Europa ocidental, a situação é crítica e tende a ficar pior. O terrorismo, podemos dizer, tem uma lógica binária. Por primeiro, é ativo, atinge o alvo, mata, estropia, interfere na realidade cotidiana das populações eleitas como alvo. Em segundo lugar, mantem acêso o temor das vítimas com a terrível percepção de que outros atos virão (e virão mesmo), de tal modo que o medo é permanente e o mal-estar constante. Ninguém se sente seguro. O sobressalto é constante, onipresente, pesado, angustiante.
Vejam os casos das caricaturas de Maomé, primeiramente nos países nórdicos e depois na França, vingadas em atentados. Foi realmente tocante todo mundo usar camisetas e dizer “Eu sou Charlie”, mas as caricaturas ofensivas sumiram! A resposta terrorista foi convincente. Bobagem dizer que o bem tutelado pela democracia e atingido foi a liberdade de expressão, embora esse valor mereça respeito (os humoristas também faziam caricaturas de Jesus e da Virgem Maria). O fato é que não é adequado troçar de modo ridicularizante das crenças religiosas, sejam elas quais forem. O humor, queiram ou não, tem limites, que se forem ultrapassados podem trazer dissabores. Essa foi a lição que ficou.
Difunde-se a tese de que o terrorismo árabe sunita (xiitas persas e turcos sunitas não praticam o terror) visa destruir os “valores da civilização ocidental”, uma balela. O terrorismo árabe está ligado às interferências e às destruições constantes que o Ocidente promoveu no Oriente Médio e na África. É uma reação ao inimigo. Não se veem turcos muçulmanos praticando o terror contra o Ocidente. Isso nos leva a outra ordem de considerações.
É realmente instigante indagar por que o terrorismo árabe é tão tardio, embora tenha se mostrado o mais eficaz. Ao longo de um milênio e meio, desde quando o cameleiro Mohamed recebia as instruções do anjo Gabriel (o mesmo da anunciação de Maria), e mandava os escribas escreverem-nas num livro (o Corão), os árabes expandiram-se e a última fé abraamica foi adotada por persas, povos turks, europeus (Bálcãs), península ibérica, Ásia (Indonésia, Paquistão, Índia, Sri Lanka, etc.).
Durante todo esse tempo até a última metade do século 20 não há relatos de terrorismo muçulmano. No livro As cruzadas vistas pelos árabes, o terror aparece invertido; eram os cristãos que aterrorizavam os civis (na tomada de Lisboa, com a ajuda da 2ª cruzada, o morticínio foi tal que até o bispo católico da comunidade cristã da cidade foi degolado). Antes da Al Qaeda, Al Shabab, Boko Haram e outros grupos sunitas, cevados na doutrina ultrarradical da Arábia Saudita (e por ela financiados) não houve terrorismo em nome de Alá (que é o mesmo Deus-pai cristão e o Jeová do povo judeu).
Em compensação, os europeus e asiáticos, mormente as hordas da Mongólia, praticaram intenso terrorismo. Os romanos, de uma vez só, crucificaram quatro mil civis judeus para subjugar a rebeldia judaica. Os mongóis amarravam corpos entre dois cavalos e os partiam ao meio, em cavalgada, para apavorar os civis resistentes das cidades que queriam conquistar. Foi fugindo de Átila, o Huno, tido como o flagelo de Deus, que, na Venécia, o povo ocupou as ilhas e ilhotas no Mar Adriático, que mais tarde viraria a deslumbrante Veneza. Quem não se lembra do terrorismo do IRA irlandês contra a ocupação inglesa (e anglicana) de sua terra? Os atentados em Londres eram constantes. É de ontem a deposição de armas pelo ETA basco para se livrar, pelo terror, da Espanha.
Portanto, não há novidade no terror político a envolver povos em épocas diversas, sem falar no terror religioso – que contrassenso – dos católicos, enquanto o Santo Ofício em Roma sustentou a vergonhosa Inquisição.
É preciso reverter essa situação, agravada com a deliberada política ocidental em favor dos sauditas, de fustigar os xiitas do Irã e do Iraque, onde são maioria, e agora a Síria, gerando um fluxo de migrantes para a Europa jamais visto.
Os xeques da família Saud – que por muito tempo desorganizaram a região – têm que encarar o fato de que o acordo com o Irã é definitivo. É o caminho para a paz. Queremos nos sentir seguros em Londres, Nova York ou Paris ou em Beirute ou no Cairo. Para tanto, é imperioso que os democratas ganhem as eleições nos EUA, os sauditas sejam desmascarados e o Estado Islâmico destruído, presos os seus chefes e financiadores para serem julgados por crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional.
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