O mundo pode ficar sob risco atômico. Os EUA deviam ser mais responsáveis, usar diplomacia e não agressão militar.
É sabido que as indústrias armamentista e petrolífera norte-americanas são desnubladamente fortes na formulação das políticas externas do país mundo afora. Muitos filmes feitos nos EUA – louvemos a liberdade democrática e, com ela, o bravo Snowden – têm demonstrado a influência desses poderosos segmentos econômicos nas guerras americanas, a fazer morrer e estropiar seguidas gerações de jovens, sem falar nas vítimas civis, mulheres e crianças, nos lugares conflagrados. Um filme é arrasador: O senhor das armas (trata com realismo o assunto).
Vem à tona agora que os norte-americanos – leia-se Pentágono – querem dispor tropas e armamentos pesados de ataque na Lituânia, Letônia, Estônia, Polônia e Romênia, para “conter a Rússia”. Essa tese da contenção supõe que ela vai invadir a Europa, a quem fornece petróleo e gás. Há tempos Putin disse que defenderia os russos que ficaram ilhados em países europeus e que antes integravam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Os EUA tomaram o Texas e mais cinco estados do México com a desculpa de proteger americanos. São do ramo.
Por isso mesmo, a contraiu informação americana desenvolveu a tese do “expansionismo russo”, utilizando a rebelião das repúblicas independentistas, tratadas como “inimigas” pela Ucrânia, bem como a reabsorção da Crimeia, histórica e etnicamente russa, após plebiscito arrasador pró-unificação, como reação ao avanço da OTAN sobre suas bases militares, numa região extremamente sensível à segurança do povo russo (tanto que Putin passou a ter a aprovação de 84% da população).
Aliado ao medo atávico de alguns países antes submetidos ao brutal comunismo soviético, criou-se esse clima tenso de animosidade na região. Importante general americano vê nessa política um erro imperdoável dos EUA, com razão, pois empurra a Rússia para a China.
Somos contrários a qualquer maniqueísmo político e a favor da paz. O cerco à Rússia é desnecessário e despropositado. As palavras de Putin e Lavrov (chanceler) me parecem mais condizentes com a verdade histórica do nosso tempo. Putin declarou: “Se alguém ameaça nossos territórios, temos de orientar nossas Forças Armadas e nossas forças de ataque modernas nesses territórios para a ameaça que se aproxima. É a Otan que chega a nossas fronteiras, e não nós, que nos movemos para lado algum”.
A secretária da Força Aérea Americana, Deborah Lee James, afirmou que Washington pode mobilizar caças F-22 na Europa para manter Moscou à distância, noticiou o Wall Street Journal. O Ministério das Relações Exteriores russo se pronunciou contra essa medida: “Os Estados Unidos estão alimentando a tensão e os medos de seus aliados europeus antirrussos, também porque planejam utilizar as tensões atuais para expandir sua presença militar e fortalecer sua presença na Europa”. A Rússia tem aproximadamente 7,5 mil ogivas nucleares, segundo o Stockholm International Peace Research Institute, das quais 1.780 estão mobilizadas em mísseis ou em bases militares. Em comparação, os EUA têm 7,3 mil ogivas, 2.080 das quais estão mobilizadas mundo afora.
É aí que reside o perigo. Um erro humano pode pôr o mundo sob risco atômico com suas sequelas. Os EUA deviam ser mais responsáveis, usar diplomacia, e não agressão militar. Mas é como agiram na Coreia, no Vietnã, no Afeganistão, no Iraque. É um padrão em que nenhum presidente consegue colocar freio. Lembremos os massacres de Hiroshima e Nagasaki para que nunca mais aconteçam. Auspicioso, por isso, o acordo multilateral com o Irã.
Pimenta em olho alheio é refresco. Lembram-se quando os soviéticos colocaram mísseis em Cuba? Os EUA entraram em pé de guerra. Nada como se colocar no lugar do outro. Nenhum país gosta de armas na sua vizinhança.
Em verdade, o que está em jogo é o futuro. O russo lutou contra as hordas vindas da Mongólia e o Império Otomano durante seguidos séculos. Derrotou e destroçou Napoleão, tornou-se comunista, quando ainda vigia o regime servil e medieval dos tzares. Arrasou a Alemanha de Hitler e tornou-se um povo igualitário e potência militar, nuclear e espacial. Abraçou agora a democracia, em que pese o autoritarismo. Domina a calota ártica e terras desde o Mar Báltico até as ilhas 150 km acima do Japão. Mas, em vez de ser cooptada pela Europa, é hostilizada para agradar o Pentágono, lamenta estrategista europeu.
Sua entrada na guerra contra o Estado Islâmico visa a estabilizar a Síria, sua aliada, contra os grupos terroristas sunitas financiados pelas monarquias da Península Arábica e pela Turquia. Rússia, Irã, os curdos vencerão os sunitas assassinos que pelejam por um califado em terras sírias e do Iraque. Tolice achar que a Síria, sem Assad, será uma democracia. A Rússia defende suas duas bases aeronavais na Síria mediterrânea. Entre ela e a Síria está o Estreito do Bósforo na Turquia da Otan barrando-lhe o caminho entre os mares Negro e Mediterrâneo.
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