É tempo de preparar o povo para o apagão de Dilma, duplo, por falta d’água e de energia: suor, escuridão e lágrimas
O estadista vê o mundo com determinação. Seu mister é servir ao seu povo com espírito de missão e verdade, base da sua autoridade e legitimidade. Não deve mentir ao povo, nem escarnecer os adversários. Em lugar do autoritarismo, que o cargo confere ao servidor público nº 1, a autoridade, que a sua missão lhe outorga. Churchill não se pejou de prometer aos britânicos atacados pelo nazifascismo apenas sangue, suor e lágrimas. Ganhou a guerra e perdeu as eleições, mas entrou na história como estadista.
Em Roma, os déspotas conquistaram o povo dos subúrbios com pão e circo. A plebe vivia na “sub urbi”, ou seja, sem civilidade. A civitas romana gerou as palavras “cidade”, “cidadão” e “cidadania”. A “sub urbi” gerou a palavra “subúrbio”. Os subúrbios de nossa pátria são as periferias miseráveis das grandes cidades, causadas pelo êxodo rural e as grotas dos adustos sertões, sem esquecer os trabalhadores das coisas manuais, sempre manipulados pelos inimigos do poder constituído, onde o povo por seus representantes construiu a República e a federação.
Os governos, somente agora, estão pensando no problema da água e da luz. De repente, escandalosamente, ameaçam as comunidades com o racionamento. Muito antes, há meses, já deveriam estar a educar as pessoas sobre como economizar água e energia elétrica, em vez de ficarem se gabando de seus duvidosos feitos. Não adiantou meterem a cabeça na areia como avestruzes por motivos eleitoreiros. As restrições, duríssimas, relativas à água e à energia, tanto para as populações do país, como aos estabelecimentos econômicos, são iminentes. Não é estado de guerra como ocorreu com Churchill, mas é estado de emergência, aliás, previsto na Constituição. Nos últimos 65 anos, jamais tivemos seca tão rigorosa no sudeste, parte do Nordeste e Centro-Oeste. Os rios estão magros, as nascentes, minguando e as barragens, em níveis baixíssimos. A hidrologia e a meteorologia indicam que 2015 será pior que 2014, que foi pior que 2013. O racionamento de água e energia, portanto, era mais do que previsível, aqui e acolá, nas partes mais significativas da nação. A Eletrobrás, ninguém desconhece, está destroçada e o sistema elétrico, no limite de exaustão. É bom não esquecer que a atual presidente está envolvida com ambos há 12 anos.
Um gabinete de crise formado pelo governo e por especialistas já deveria estar formado para o enfrentamento da situação. A hora não é de pensar em eleições, mas no povo brasileiro e na economia do país, que irão pagar um preço tão mais alto quanto maiores forem a ineficácia e a imobilidade do governo. Esse Eduardo (Braga, ministro de Minas e Energia), que nos chegou de Manaus, fala caudalosamente, amazonicamente, é um parlapatão. Mas parece – salvo engano – pouco afeito a comandar uma campanha com atos concretos para minorar as crises energéticas e hídricas. Sequer levantamentos e coordenação existem com os governos estaduais. São Paulo faz o que pode por si mesmo. Mas é só. O gabinete de crise deveria ocupar-se das coisas de curto prazo e das providências de longo prazo para livrar o país e seu povo, para sempre, do racionamento de água e energia, esse circo de horrores, que nos levará para a recessão econômica e desemprego em massa.
O panorama que se vê é devastador. Existem parques eólicos prontos, mas sem linhas de transmissão. E as indústrias eletrointensivas, tão necessárias ao país, o que fazer? A hidroelétrica de Tucuruí poderia mandar mais energia para o Sudeste, mas faltam os reforços requeridos pelas linhas de transmissão e não é de hoje. Há seis anos já deveriam estar operantes, além de outras coisas do gênero.
Agora, finalmente, é a hora da humildade e da constrição. Sua Exa., a presidente, muito escarneceu do governo de FHC pelo apagão do seu tempo, sem exaltar o afinco com que enfrentou a situação causada pela seca que o céu lhe enviou. Depois disso, V. Exa se gabou da excelência do sistema elétrico que montou. Pois bem, ele agora está à prova.
A hora de espicaçar o governo de FHC e zombar do apagão que ele enfrentou, além de dizer que ele jamais ocorreria, já passou, foi coisa de boquirrota. Desinteressa à nação ficar olhando no retrovisor da história. O tempo agora é de evitar, se é que dá para evitar, ou preparar decentemente o povo para outro apagão. O apagão da Dilma. Melhor dizendo, os apagões, que já estão acontecendo e cada vez mais. O certo é dizer o racionamento da Dilma, duplo, falta de água e falta de energia: suor, escuridão e lágrimas.
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