Nos EUA, o governo não tem uma empresa sequer. O Brasil continua atolado no estatismo mais ineficiente do planeta.
O Brasil tem na Constituição diretrizes de política internacional, o que não ocorre com outras nações, notadamente os Estados Unidos, a terem, assim, muito mais liberdade em defesa dos seus interesses nacionais. Se os EUA são a potência dominante no mundo, todavia estão situados na América do Norte. Partilhamos o mesmo continente. Fomos eleitos pelo destino para ser a potência central da América do Sul e do Atlântico Sul, mormente se as jazidas suboceânicas nos alçarem à condição de potência petrolífera de primeira grandeza. A médio prazo, poderemos, se o pré-sal vingar, e vingará, libertar os EUA da dependência do petróleo árabe, persa e berbere, pertencentes a países muçulmanos e antinorte-americanos, sejam aliados ou antagonistas, democracias ou ditaduras, a formarem um mundo vário, instável e complexo, que toma 70% da agenda de política externa norte-americana, diplomática e militar.
Somos uma província mineral portentosa e país, chave, talvez o maior, em matéria de segurança alimentar, cuja crise tomará a primeira metade do século 21, daí a importância de nossa saída para o Pacífico, pelo Peru e Chile, sem falar da custódia da Amazônia, vital para a estabilidade climática do mundo. Ignorar os EUA é impossível. Não nos tornarmos parceiros, é erro crasso. Cultivar o confronto – pior se por motivos ideológicos – é uma sandice. Voltemo-nos para essas diretrizes constitucionais. Determina a Constituição: “Art. 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.
Como se vê, detestamos intervir militarmente em qualquer país, o terrorismo e o racismo. Temos apreço pela autodeterminação dos povos, os direitos humanos, a paz e a solução pacífica dos conflitos. Restam assim explicados a condenação ao apedrejamento de mulheres no Irã feita pela presidente Dilma e a abstenção de intervenção na Líbia, por mais justificável que pareça. O presidente turco, com razão, repudiou interesses ocultos ocidentais no petróleo líbio. Esperemos para ver. Resta-nos atuar intensamente com o artigo 4º, IX: “Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”. Voltemos aos norte-americanos e às nossas simetrias e assimetrias. Eles cresceram com guerras e mais guerras. Nós vivemos em paz com nossos vizinhos há 150 anos. Eles confundem patriotismo com guerra e honra, exaltada para justificar a morte, daí o culto ao herói.
Ultimamente, vemos esses heróis torturarem civis e prisioneiros. As demais assimetrias favorecem os EUA, a começar pela: a) intromissão do Estado na economia, seu gigantismo burocrático e ineficiência, existentes no Brasil e ausentes lá. Agora mesmo, causa mossa no país a chamada “reestatização branca da Vale”, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ). Roger Agnelli, é claro, podia ser substituído pela assembleia de acionistas. A pergunta que não cala é: Por quê? Nos EUA, o governo não tem uma empresa sequer. Continuamos atolados no estatismo mais ineficiente do planeta; b) a carga tributária sobre o consumo no Brasil chega a 42% na mediana; lá, 18%. Os produtos e serviços norte-americanos têm vantagens competitivas.
As grandes questões, todavia, são outras. Inflação e investimento. Com o tamanho do Estado brasileiro, estamos fadados ao fracasso entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). O único país com metas de inflação que adota a indexação somos nós. Contratamos uns três pontos percentuais de inflação futura todos os anos. Como sair da armadilha? Quanto ao investimento, estamos na rabeira. A China investe 39% do Produto Interno Bruto (PIB), a Índia 31%, a Rússia 27%, o Peru 24%, o Chile 23% e nós, 18,1% (2010). O Estado arrecada muito, comendo a poupança privada, que, por isso, fica sem caixa para investir. O Estado gasta apenas correntemente, aumentando a demanda agregada, que pressiona a inflação e não investe na infraestrutura. Partamos para parcerias com os EUA. Tirem as barreiras ao nosso agronegócio. Tragam suas empresas para produzir aqui. Sejam sócios no pré-sal. Programas conjuntos podem até ter valia; temos muito a aprender. Além daí é entrar, como se diz, numa fria.
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