No Brasil, somos ricos ou remediados ou pobres na sua acepção mais crua.
Certos brasileiros sentem-se confortáveis e até satisfeitos – sentimento recôndito – com as notícias sobre ser a nova classe média brasileira um sucesso e que foram criados 399 mil empregos com carteira assinada mês passado, enquanto 10% da população economicamente ativa norte-americana está desempregada, algo um torno de 14 milhões de pessoas, sem contar com os ilegais (alguns brasileiros). A recessão, que eliminou quase 5 milhões de empregos nos Estados Unidos em 2009, fez a taxa de pobreza norte-americana atingir o maior nível desde 1994. A taxa chegou no ano passado a 14,3%, 1,1 ponto percentual maior que em 2008, segundo dados do governo norte-americano. No total, 43,6 milhões de pessoas eram consideradas pobres. Em 2008, 39,8 milhões estavam nessa situação. É o terceiro ano consecutivo em que a taxa cresce, o que significa que um em cada sete norte-americanos é considerado pobre. Para o governo, um adulto é considerado pobre quando tem renda anual antes de impostos de até US$ 10.830 (pouco mais de R$ 18,6 mil). Então vamos fazer comparações: temos que pobre nos EUA é quem recebe aproximadamente R$ 1.550 por mês.
No Brasil, 60% dos brasileiros recebem, per capita, menos de R$ 1.550 mensalmente. É um contingente respeitável de 102 milhões. São pobres pelo padrão estadunidense. Mais: energia, telefonia, gás, gasolina, água e mercadorias em geral, tanto faz ser um automóvel ou uma caixa de gelatina, custam bem menos nos EUA. Carros, por exemplo, custam um terço do que no Brasil, seja um Ford ou um Mercedes. Lá as coisas são mais baratas; pode-se comprar mais e melhor. A conclusão é uma só: não há comparação entre o bom Brasil que Lula herdou de FHC e o desastre norte-americano legado por Bush a Obama. O aumento da pobreza na maior economia mundial é um reflexo. Desde o início da recessão, em dezembro de 2007, até o fim de 2009, 8,3 milhões de postos de trabalho deixaram de existir (4,7 milhões apenas no ano passado), e a taxa de desemprego nesse período dobrou para 10% – está hoje em 9,6%. Porém, os últimos meses não foram ruins para todos. O número de famílias com ativos de ao menos US$ 1 milhão cresceu 8% no período de 12 meses encerrado em junho. No total, são 5,55 milhões de residências milionárias. No pico, em 2007, eram 5,97 milhões de milionários, segundo pesquisa da Phoenix Marketing. A população norte-americana é de 300 milhões habitantes. Classe média lá é média mesmo.
No Brasil, somos ricos ou remediados ou pobres na sua acepção mais crua. O governo quer nos fazer crer que os pobres são meio-ricos, por que têm geladeira, som, televisão etc. Levando-se em conta a existência, no Brasil, de 34,6 milhões de domicílios sem rede coletora de esgotos ou com fossa séptica, mas não ligada à rede coletora temos uma trágica situação de subdesenvolvimento (e não estou me referindo ao tratamento do esgotos, que a maioria é lançada nos rios, lagos e mares). Acrescente-se a isso a situação do Sistema Único de Saúde (SUS), a insegurança, o ensino básico horroroso e a falta de infraestrutura e chegaremos a conclusão de que o Brasil continua no terceiro mundo, embora seja inegável que nos últimos 18 anos fizemos uma exitosa caminhada, desde o plano real, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o Proer, que saneou e relançou os bancos brasileiros sadios e liquidou os estaduais e privados deficitários, o câmbio flutuante, o regime de metas de inflação, o início dos programas sociais (Bolsa-Escola, Vale-leite, cestas básicas etc., unificados depois por Lula no Fome Zero, que virou o Bolsa- Família, que deu certo em parte, a parte do donativo que mata a fome e come o voto), a independência do Banco Central, a estabilidade da moeda, o controle da inflação, a privatização espetacular da siderurgia, das comunicações, da mineração e de algumas estradas de ferro e de rodagem.
Para os que não se lembram, as privatizações de FHC iniciaram um novo Brasil. A Acesita e a CSN davam prejuízos monumentais. A Rede Ferroviária Federal (RFFSA) era um desastre. A Vale dava pequenos lucros irrisórios. Um telefone fixo demorava anos para ser instalado e valia uma fortuna. O Estado e as estatais eram verdadeiros cabides de emprego. Lula parou de privatizar. No resto curvou-se a FHC, daí o ódio petista ao ex-presidente. Em matéria de índice de desenvolvimento humano (IDH), a oitava potência econômica emparelha com a Nigéria e Honduras. Precisamos de mais ação e menos corrupção, mais planejamento e menos má gestão.
Faça seu comentário