A variação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2012 deixou-nos perplexos, especialmente pela manutenção do emprego. O crescimento, embora menor a cada ano, não o atinge. E a população economicamente ativa (PEA) é crescente (2010 foi um ano atípico, excepcional, estranho, em que tudo cresceu desordenadamente). Eis a relação da evolução dos PIBs na América do Sul em 2012, por país: Peru, 6,2% – Chile 5,5% – Venezuela, 5,3% – Bolívia, 5,2% – Equador, 4,8% – Colômbia, 4,5% – Uruguai, 3,8% – Argentina, 2,2% – Brasil, 0,9%. Os cálculos são da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Os números do PIB não dizem tudo. De considerar outros fatores como população, emprego, grau relativo de desenvolvimento, peso singular de algum fator de crescimento, o efeito estatístico do ano anterior e assim por diante. Vejam o caso da Bolívia, riquíssima em gás e outros minérios. Lá tem uma região imensa, o Salar de Uyuni, recoberto por sal grosso, tendo no subsolo a maior reserva de lítio do mundo, um dos minerais, tidos por “terras raras”, os mais procurados e caros atualmente e no futuro (a China possui 95% das reservas). O Peru, além de petróleo e minerais, já é um país mais populoso e industrializado. Esse cresceu realmente, tanto quanto o Chile e a Colômbia, casos de sucesso. Esses países andinos comerciam vantajosamente (tratados) com os EUA e China e possuem petróleo, gás e minerais valiosos, a explicar, em boa parte, os índices de crescimento econômico que vimos.
O mesmo não se pode dizer da Venezuela e do Equador, petrodependentes. Na Venezuela, duas coisas são evidentes: desindustrialização e carestia, pois falta ao país quase tudo, inclusive o pão nosso de cada dia. As estatísticas não nos devem impressionar. Note-se que os países da banda atlântica cresceram menos, não por acaso. O Uruguai, o mais bem-sucedido, tem população de 3,9 milhões de pessoas e um bom governo não intervencionista. O que não encontra explicação é a comparação com a Argentina, a crescer o dobro do Brasil, cuja economia é como a nossa, porém seis vezes menor.
Nós estamos mudando até menos que eles as regras do jogo (sistema elétrico), fazendo manobras contábeis (superávit primário), reforçando intervenções na economia (Petrobras, Eletrobrás, BNDES), daí a fuga de investidores. Política de mais, mas sem resultados, e gestão de menos. O povo, por ora, está satisfeito, há emprego e os salários sobem, porém puxando a inflação (não há aumento da produtividade). Mas até quando? O governo Dilma está exatamente na encruzilhada, até porque aproximam-se as eleições. O seu dilema é criar confiança nas regras. Mais que isso, garantir a estabilidade delas. Tome-se, por exemplo, o caso do câmbio. De repente, a banda de R$ 1,70 a R$ 1,80 por dólar mudou para R$ 2 a R$ 2,10. Disseram que a proporção viera para ficar.
Qual nada. O governo se deu conta de que a exportação não crescera o esperado e que a inflação subiu porque temos alto grau de componentes (inputs) importados para fazer nossos produtos (outputs). Com o aumento do custo em dólar, os preços em reais aumentaram dentro do país e também para exportar. Muito ruído e pouco resultado. Agora se quer uma banda entre R$ 1,90 e R$ 2. Ora, o investidor de longo prazo (não especulativo) fica inseguro. Calcular custos e lucros implica calcular a cunha fiscal na produção e circulação de bens e serviços. Um quadro movediço inibe o investimento.
O saudoso Geraldo Ataliba dizia que a estabilidade jurídica era a garantia das outras estabilidades: a econômica, a social e a política. No Brasil temos a mania de colocar a política na frente de tudo. É um erro. Os bons políticos escutam muito antes de decidir. Depois implementam a meta a 200 km/hora. Saber dirigir com sobriedade e máxima atenção a economia num mundo instável é fundamental. Nós não sabemos. O preço foi o “pibinho” de 2012. Confiança é o que cimenta todas as relações humanas. Nosso maior problema é esse. Confiança na firmeza das instituições e na fixidez nas regras econômicas. O quinto mês do ano está a esvair-se. Temo que 2013 seja um novo fracasso. O governo Dilma leva o país com mão pesada e mantém o ritmo de 2010, intenso e produtivo.
Apesar do baixo crescimento do PIB a economia está bombando como em 2010. É o que nos está salvando. A locomotiva não ganhou nem perdeu velocidade. Até quando? Os EUA com o xisto betuminoso em dois anos exportarão petróleo, cujo preço cairá no mundo. Dilma e Lula só falavam em pré-sal, cuja produção só estará operante em 2018, e abandonaram o etanol. Resultado: a importação do petróleo aumentou 220%, tornando o saldo comercial negativo, e a produção de etanol caiu 70%. Para o petróleo não temos refinarias e para o etanol sobram terras e produtores. Agora ela socorre o setor sucroalcooleiro de olho na inflação, isto é, nas eleições. Assim não dá!
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