Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ.
A beligerância entre Israel e a Palestina ocupada, em contrário a uma resolução expressa da ONU, não é um conflito entre o Ocidente e o Oriente.
Não fosse Paulo de Tarso a sofrer atentados, um deles patrocinado por Mateus, um irmão de Jesus, segundo os especialistas em cristologia (movimento científico com pesquisadores americanos, ingleses e alemães) não existiria cristianismo como doutrina religiosa universal nem teria Constantino como fazê-lo, em concílio, a religião oficial do Império Romano. Continuaria a ser mais uma das muitas seitas judaicas cristocêntricas, todas desaparecidas, salvo a copta, no Egito, até hoje ativa e atuante.
O cristianismo vingou e tornou-se a religião do mundo ocidental depois de edito de Constantino e da Rússia cristã-ortodoxa garantirem a expansão do cristianismo na Europa Central e a Leste (São Cirilo).
O islamismo surgiu 700 anos após a morte de Cristo e foi detido no Crimeia russa, península ao norte do Mar Negro, em frente a Istambul ou Constantinopla, seja lá o nome que tenha, a maior cidade islâmica sunita do mundo e que fica exatamente ao sul do Mar Negro, no Bósforo, a separar a Europa da Ásia.
Arbitrariamente, a linha imaginária passa no meio do Estreito de Bósforo. Istambul é dividida em duas: de um lado é europeia e do outro, asiática. Entretanto, a religião do Estado laico e republicano da Turquia, nos termos da Constituição ideada pelo grande estadista Kamal Ataturk (o pai dos turcos), é em 95% muçulmana, sendo que apenas 10% desses sãos xiitas – aliás, a seita islâmica mais moderada, ao contrário do que se pensa no Ocidente.
Não há hoje grandes conflitos entre judeus e cristãos, que os matavam no período da inquisição e nos massacres da Europa Central e na Alemanha, desde a Idade Média. Os muçulmanos têm Cristo como profeta e Alá (chamado de Javé pelos judeus) como o mesmo Deus de Abraão (daí se falar nas três religiões abraâmicas), que são, pela ordem, o judaísmo, o cristianismo de Constantino, com a ideação da Santíssima Trindade, e o islamismo, que tem em Maomé, o último dos profetas semitas, encerrando o ciclo do profetismo. Depois dele, não apareceu mais nenhum, nem no judaísmo, que os teve às dezenas. Os muçulmanos nunca perseguiram os judeus, como fizeram os cristãos, que de sobredobro inventaram as “cruzadas” para atacar os muçulmanos ou islamitas (o Islão) e sempre culparam os judeus pela morte de Jesus (mas, sem ressurreição não haveria a religião)…
A expansão árabe de 800 a 1442 islamizou toda a bacia do Mediterrâneo, exceto a península itálica e, em parte, a península dos Bálcãs. Portanto, a guerra ou a beligerância entre Israel e a Palestina ocupada, em contrário a uma resolução expressa da ONU, não é um conflito entre o Ocidente e o Oriente, a começar pelos 2 milhões de árabes palestinos e seus descendentes que moram em Israel (25% da população de Israel é ateia ou não praticante de quaisquer religiões). O que se tem lá é uma indisfarçável expansão territorial em terras alheias, que não eram para ser do Estado judeu no momento de sua criação pela ONU sob lideranças expansionistas em Telavive, em guerras ou na paz. Israel nasceu de esquerda (era protetorado inglês).
Israel, como o conhecemos hoje, surgiu depois da Segunda Guerra Mundial. Com efeito, o Reino de Israel, ao Norte da Síria – a Palestina foi destruída pelos Assírios em 720 a.C. –, e o Reino de Judá, ao Sul, pelos babilônicos, por volta de 600 d.C. Desde então, os israelitas ou judeus não tiveram pátria (2 milênios e meio).
O cristianismo sem Paulo seria mais uma seita judaica. Ele antecipou o “canon” do cristianismo com os atos dos apóstolos, especialmente os seis, e além dos evangelhos. E valorizou o sermão da montanha e as parábolas de Jesus, onde ele se referia ao Pai (substituto de Javé, é óbvio). Era o único Deus de sua infância e vivência com os essênios (seita judaica). O Velho Testamento é a” Torá” modificada aqui e ali!
O cristianismo é obra de Paulo – contra a família de Jesus – desde que disse ser universal o Deus, que estava no coração e nas palavras de Cristo, nada exclusivo dos judeus, que continuaram a ter como Deus somente o eterno Javé. A seita cristã feneceu entre os judeus e floresceu entre os romanos, daí a importância de Constantino, o criador, do dogma da trindade santa – o Pai, o Filho e o Espírito Santo, no ano 300 d.C.
O primeiro evangelho surge entre 60 a 70 anos após a morte de Jesus. O de São João, o último e apologético, mais de 100 anos depois, já no tempo de Paulo (que não conheceu Jesus). Este já não é puramente narrativo e traz, em verdade, os principais fundamentos doutrinários de uma religião universal. Dedo de Paulo. Para aprofundar o estudo, temos três livros: “A história da mitologia judaico-cristã”; “Breve história do mal”; e “A invenção do monoteísmo – Deuses feitos de palavras”.
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