O comércio deita e rola com os preços altos e se apossa da renda dos consumidores com avidez jamais vista.
Os analistas estão perplexos com os preços no Brasil, absurdamente altos. Não se trata de inflação, mas de carestia. Dou testemunho de preços nos Estados Unidos e na China. Em relação à China, cinco vezes mais altos são os nossos preços. Em relação aos EUA, três vezes. Rio de Janeiro e São Paulo estão entre as 10 cidades mais caras do mundo: os imóveis chegam às alturas; os restaurantes estão tripudiando; os artigos de cama, mesa, banho e os móveis talvez sejam os mais caros do planeta. Entretanto, os serviços públicos, a qualidade de vida, o conforto são péssimos e os salários baixos. O que está acontecendo? É a ineficiência dos agentes econômicos? É a imaturidade, a avidez dos compradores? É o custo Brasil? É o dólar barato? É a tributação excessiva? Esses fatores ajudam, mas não justificam a carestia. Faltam na conta dois fatores: a pré-indexação dos preços e as excessivas margens de lucro. É preciso – urgentíssimo – um movimento social intitulado: “Baixem os preços ou então não consumiremos”. Tem cabimento vender um par de sapatos no cartão de crédito em oito parcelas sem juros? Tem algo de podre no Reino da Dinamarca, ou melhor, no reino da Dilma. No mundo vige a regra: maiores vendas com menores preços unitários. Aqui é o inverso.
Na outra ponta, mesmo sem estradas e portos, apesar dos “ecoxiitas” e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do tributo alto, da mão de obra cara, o agronegócio do Brasil é um sucesso, mesmo com o dólar deprimido. É o outro lado da moeda. O jornal Le Monde, de 21/6, estampou: “O Brasil é a nova fazenda do mundo”. Estudo realizado em conjunto pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) aponta que, em meio a uma grande volatilidade, os preços de muitas commodities básicas para a produção de alimentos deverão se manter, na próxima década, em altos patamares tanto em termos nominais como reais, se comparados aos da década anterior (2001/2010). As cotações devem recuar em relação aos níveis do início de 2011, dependendo do produto, mas, em média, deverão subir até 50% no caso das carnes e 20% no dos cereais nos próximos anos. Nesse contexto, o Brasil deverá ampliar as exportações de praticamente todas as suas principais commodities agropecuárias, mesmo que o câmbio reduza os percentuais de incremento. A participação do Brasil no comércio internacional de alimentos também tende a avançar consideravelmente. Já é líder nas exportações de açúcar, etanol, café, suco de laranja e carnes, segundo no ranking da soja e com relevância crescente no milho e no algodão, o país tende a conquistar cada vez mais mercados.
Ser “fazenda” exige “indústria” à sua volta: agrotóxicos, adubos, tratores, colheitadeiras, silos, armazéns, logística, tecnologia de informação, lataria, fábricas de enlatados beneficiados, caminhões, sementes, empresas de exportação, laboratórios de produtividade etc. Não há países industrializados e grandes que não sejam, também, potências na agroindústria, na produção de proteínas animais e na explotação dos produtos da mineração. Vejam os EUA, a China, a Rússia, a Índia, a Austrália e o Canadá, os dois últimos com pequenas populações, mas com grandes territórios. Essa conversa de desindustrialização e de desapreço à agroindústria é marota. A indústria está na beirada da sua capacidade de produzir e tem importado maquinário moderno como nunca, por conta do dólar barato. Está prestes a dar saltos de produtividade. O comércio deita e rola com os preços altos e se apossa da renda dos consumidores com avidez jamais vista. Enquanto isso, a lavoura moderna salva o Brasil arcaico. É atacada pelos ambientalistas e pelos ideólogos do caos a serviço de interesses que nos são estranhos. Os “ecochatos” nem sempre são ingênuos.
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