A ascensão da classe média brasileira nos últimos 10 anos tem sido creditada a Lula, mas foi um fenômeno mundial. Na América Latina e no Caribe aconteceu o mesmo, com o Chile, o Peru, o México e a Colômbia, aflorando mais que o Brasil em termos percentuais relativamente às respectivas populações. É o que diz o recente relatório do Banco Mundial: “Mobilidade econômica e a ascensão da classe média latino-americana”. Uma combinação de estabilidade econômica, superoferta de capitais (até a crise de 2009), crescimento comercial, valorização das commodities e redução das desigualdades em quase todos os países foi responsável por um aumento significativo das classes médias latino-americanas entre os anos de 2000 e 2010. Eram 103 milhões e agora são 130 milhões, ou seja, 30% da população do continente. O Brasil foi responsável por quase 40% dessa ascensão segundo o Banco Mundial, tendo em vista o peso do seu PIB e o tamanho da nossa população.
Contudo, os números do Banco Mundial não batem com os da Secretaria de Assuntos Estratégicos, para quem a maioria da população brasileira já é da classe média. Questão de metodologia. Para o Banco Mundial, a maior parte da população brasileira está na zona cinzenta dos vulneráveis (entre a pobreza e a faixa inferior da classe média). Superposta (37%) aos pobres (28%) formam praticamente dois terços da população. A classe média chega a cerca de 30% e a alta a 3%. Não há dúvidas. Quem ganha salário mínimo e meio por mês, depois dos impostos e encargos, somente com muita boa vontade pode ser considerado de classe média, que isso mal dá para viver (US$ 400). Para os americanos, esse nível de renda é de pobreza, levando-se em conta que as coisas básicas aqui custam mais do que lá.
Lado outro, o governo australiano divulgou no fim de outubro último um Livro branco intitulado A Austrália no século asiático. Entre as inovações do lançamento, a conclusão de que “no momento em que o centro de gravidade global transfere-se para a nossa região, a tirania da distância está sendo substituída pelas perspectivas da proximidade. A Austrália está localizada no lugar certo no momento certo – na região asiática no século da Ásia”.
Em janeiro, o presidente Barack Obama disse que os interesses econômicos e de segurança dos Estados Unidos estão “inextricavelmente ligados” ao que ocorre “no arco que se estende do Pacífico Ocidental e da Ásia do leste até a região do Oceano Índico e da Ásia Meridional”. E revista especializada alerta: “A Ásia, dentro de apenas alguns anos, conforme apontaram os australianos no citado documento – será não apenas a maior produtora de bens e serviços do mundo, mas a maior consumidora desses bens e serviços. Também abrigará a maioria da classe média mundial”.
Ao mesmo tempo, o noticiário mundial sobre o 18º Congresso do Partido Comunista Chinês tem sido bastante amplo. Toda essa atenção para a Ásia não é mera coincidência. Por exemplo, mesmo já sendo a região mais populosa do mundo, a Ásia, dentro de 15 anos, concentrará 50% do PIB mundial, considerável poder militar e 58% da população mundial, se excluirmos o Oriente próximo e o Irã.
O Livro branco australiano se refere a dados sobre como, entre 2000 e 2006, cerca de um milhão de pessoas foram soerguidas do nível de pobreza, por semana, no leste da Ásia. Ainda nessa região, as economias duplicaram a renda per capita, primeiramente numa década, mas depois prosseguiram para triplicar a renda na década seguinte. Para colocar a perspectiva, os autores lembram que, no auge da Revolução Industrial, o Reino Unido levou 50 anos para duplicar a renda per capita.
Não por acaso, o mundo inteiro dispensa atenção ao que ocorre nos EUA, Europa e agora China, o país central do século asiático. No Brasil – quanta incompetência! – o governo, e tampouco o setor privado, não mantém institutos de pesquisas estratégicas voltadas para a Ásia, de modo a orientar nossas ações. Só sabem choramingar e dar muxoxos.
A avestruz deveria ser uma ave brasileira. É preciso mudar o gerenciamento do país, chega de mais do mesmo há 10 anos. Falta-nos conhecimento e vitalidade. Falta-nos um pensamento estratégico e uma opção clara pelo tipo de economia que queremos ter. Ao contrário do PSOL, o PT é um partido sindical-socialista envergonhado do seu programa econômico e desgarrado da ética. O PSDB não se decide pela economia de mercado e nossa vida partidária é uma bagunça tipicamente latino-americana. As consequências são baixo crescimento e gestão pública deficiente. A tirania da distância mudou-se para o cone sul da América (distante dos EUA, da Europa e mais ainda do extremo oriente). E sem infraestrutura, e logística, produtividade e sistema tributário que favoreça a produção e o comércio.
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