A questão racial, depois da guerra civil e a consequente libertação dos negros a conviver com os “brancos”, até hoje não está resolvida
A maior democracia do mundo, no tempo e no espaço, precisou apenas de um maluco presunçoso para expor ao mundo a precariedade de seu sistema eleitoral, inadequado, disfuncional e ultrapassado.
Os colonos que viriam a ser os EUA começaram modestamente, quer no espaço – eram 13 pequenas colônias (as do Norte, do meio e do Sul) –, quer no tempo, pois surgiram, após alguns fracassos, nos anos seiscentos em diante, na costa leste.
Outras duas peculiaridades devem ser ditas: as expedições coloniais eram de companhias privadas de ricos (região de Boston) ou de pessoas oprimidas, econômica ou religiosamente, na Inglaterra. Mas os maiores contingentes de pessoas provinham do País de Gales (gaélicos), escoceses e irlandeses, fugindo da opressão inglesa. Diferentemente das colonizações espanholas e portuguesas, que no início eram feitas somente por homens, para as 13 colônias iam famílias inteiras, às vezes comunidades religiosas inteiras, fossem anglicanas, cujo chefe supremo é o rei ou a rainha da Inglaterra, fossem filiados às outras denominações protestantes: luteranos, calvinistas, puritanos, presbiterianos e batistas. Havia também católicos fiéis a Roma.
A necessidade de ler a Bíblia, por si mesmo, a grande bandeira protestante, esteve presente na Inglaterra. O resultado é que todo pobre (em grande quantidade no arquipélago britânico) sabia ler o suficiente, ao contrário dos países católicos da Península Ibérica, que a Igreja não queria que o povo lesse para que somente os padres lessem a Bíblia e se apresentassem como representantes de Jesus (o Deus filho).
Isso posto, o chefe do catolicismo apostólico romano era o papa, a quem os reis católicos prestavam vassalagem espiritual. Os católicos viviam de rezas e indulgências, no princípio pagãs, e dos subsídios dos reis. Isso desgraçou os países Ibéricos. Não, porém, a Itália e suas cidades-estado, onde os príncipes de Milão, da Sicília, de Gênova e de Veneza faziam questão de rivalizar com os papas que tinham terras (estados papais). Na França, “as luzes” do Renascimento e da própria revolução francesa puxaram a alfabetização do povo nos seus desdobramentos.
Seja lá como for a colonização espanhola e a portuguesa, sendo Portugal de muito pouca gente para a imensidão de seus domínios na América, África e Ásia, as preocupações com a educação eram poucas. Jesuítas à frente, se bem que a primeira universidade das Américas foi criada em 1504, no Vice-reinado Espanhol do Peru, em Lima, recebendo o nome de Universidad de San Marcos.
Sim, os espanhóis eram mais preocupados do que os portugueses com a perseguição dos judeus, a educação e a administração de seus domínios, mas os portugueses se davam à miscigenação e se misturavam muito mais com as populações locais, principalmente no Brasil, para onde vieram em maior número, a ponto de quase despovoar o reino.
Voltando aos EUA, três jornadas sangrentas devem ser notadas. A guerra civil, o genocídio indígena e a rapinagem territorial contra o México.
As 13 colônias, as do Sul agrárias e as do Norte mais industrializadas e, portanto, com mão de obra paga, travaram a mais cruenta guerra civil de que se tem notícia, a uma, para criar indústrias e mercados por toda parte e, a duas, para libertar os escravos. O Norte venceu, mas até hoje há reverberações, inclusive quanto aos sotaques sulinos.
A expansão das colônias para o Oeste, ao dar vazão à chegada de gente da Europa Ocidental, Central, Irlanda, Itália e judeus, se fez com expedições organizadas e por pessoas por conta própria, com o Exército americano protegendo e plantando fortes militares contra os índios, que foram impiedosamente dizimados (cherokees, apaches, sioux, pés-pretos, moicanos etc.). Hoje, vivem em reservas minúsculas, onde exercem mando e cobram tarifas. Quem quiser ver o Grand Canyon, por exemplo, tem que pagar aos índios os direitos de visita e vista. O genocídio indígena eliminou cerca de 12 milhões de seres humanos; não houve nem piedade nem assimilação.
Lázaro Cárdenas cunhou frase célebre. “Pobrecito México, tan lejos de Dios e tan cercano de los Estados Unidos” ou em vernáculo: “Coitado do México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. Com efeito, tanto a Espanha (Cuba e Flórida) quanto o México, principalmente este último, perderam umas imensidões de terras, conquistadas manu militari ou ocupação insidiosa e constante pelos EUA!
A questão racial, depois da guerra civil e a consequente libertação dos negros a conviver com os “brancos”, até hoje não está resolvida. O imenso contingente de jovens negros, brancos, filipinos, caribenhos é a verdadeira esperança de que no futuro haja mesmo direitos iguais e amor fraterno nos “Estados Desunidos da América”. Se depender dos adultos de hoje, a desunião continuará (racismo). Pior, democratas e republicanos trumpistas dividiram o país, com um aumento inusitado de ódio e confronto.
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