Quem, em 1980, 38 anos atrás, poderia prever a ascensão da China? Quem pode prever o que será em 2050?
Está na hora de voltar à velha China, onde o futuro fez sua habitação. E dizer que tudo começou mesmo, para valer, em 1981, com Deng Xiaoping, o gênio político que moldou o país mais capitalista do mundo, porém governado por um partido comunista com 200 milhões de filiados e que continua, cinicamente, intitulando a China de “Estado socialista”. Entretanto, de certa forma, é verdade. Estado forte e iniciativa privada forte, embora com eleições para entrar no partido (e suas correntes de opinião). Capitalismo sem liberalismo.
Fui lá em 2003 na delegação da Fiemg, junto com Lula (que não entendeu as diferenças) e Aécio, na época governador. Voltei em 2013 e me impressionei com as rápidas mudanças. Fui nos mesmos lugares: Hong Kong, Shenzhen, Macau, Nanjing ou Nankin, a depender de se falar em cantonês (quin) ou mandarim (ging), Xangai e Pequim (ou Beijing), ao pé da muralha, extremo Norte. Voltarei em 2020.
Ao chegarmos de avião no delta do Rio das Pérolas, como diz Daniel Rittner – temos a impactante visão de um novo e frenético país que vê no trabalho seu maior valor. Dezenas de gruas acopladas a arranha-céus brotam numa das regiões mais prósperas do planeta. Em solo, carros trafegam por vias elevadas e trens de alta velocidade rasgam as megalópoles. Mas é de barco, em frente ao delta do Rio das Pérolas, que surge a visão mais impressionante: uma ponte de 55 quilômetros, equivalente a mais de quatro vezes a extensão da Rio-Niterói, com duas ilhas artificiais no meio do caminho e um “mergulho” nas águas da baía que converte a pista em 6,7 quilômetros de túneis submersos para não atrapalhar o fluxo constante dos navios de carga.
Na Idade Média, caravanas em camelos atravessavam a Eurásia e desbravadores marítimos levavam suas mercadorias em busca de mais comércio. No fim dos anos 1970, quando Deng Xiaoping conduziu um processo de abertura econômica na China, a província de Guangdong (Cantão) era a maior fonte de imigrantes chineses espalhados no mundo. Shenzhen – hoje uma de suas cidades mais importantes, convertida em meca da eletrônica e da inovação na Ásia, com prédios modernos e grandes parques – , nem sequer existia, era uma aldeia de pescadores.?
Ao sair da faculdade em Hong Kong, Wang cruzou a baía e instalou-se com dois ex-colegas de classe na cidade de Shenzhen, onde fundou a Da-Jiang Innovations (DJI) (2006). Não precisou nem de 10 anos para transformar sua empresa em uma gigante com 70% do mercado global de drones civis e entrar na lista da revista “Fortune”. Emprega 11 mil pessoas e tem 12 escritórios no exterior – um deles no Brasil. Como ele, milhares de centenas de chineses estudam (o Estado provê educação para todos). Não há direito trabalhista na China, mas ninguém trabalha mais do que 12 horas, em locais limpos, e recebem, religiosamente, seus pagamentos. É como nos EUA, que também não tem legislação nem Justiça do Trabalho.
Com 1,350 bilhão de habitantes, o governo de XI quer criar uma China de supercidades bem servidas em tudo, para facilitar a infraestrutura necessária. O maior experimento desse planejamento estatal será o novo distrito de Xiongan – uma supercidade – ao sul de Pequim. O Conselho de Estado considerou-a “crucial para o milênio”. Xiongan será o centro de coordenação para desenvolver o projeto mais colossal de XI: o das supermegalópes unidas. Segundo Rittner, as autoridades chamam isso de “embelezamento”. Na verdade, trata-se de controle populacional em grande escala. Uma China dispersa não interessa, exigiria esforços enormes. Quem, em 1980, 38 anos atrás, poderia prever a ascensão da China? Quem pode prever o que será em 2050?
Para terminar, em 2020, a China terá um PIB de US$ 14 trilhões e crescendo entre 6,8% a 7% ao ano, levando-se em conta o poder de compra da moeda local. Logo suplantarão os EUA (US$ 18 trilhões). Mas Trump quer pará-la com sanções que fazem cócegas na China, mas prejudicam os EUA, encarecendo a vida dos americanos, pois a China mantém os concorrentes sob constante pressão. A longo prazo, o diabo ruivo arruína a América, que sempre foi exemplo do livre-comércio e da livre iniciativa. As políticas de Trump interferem nos mercados. O America first se faz com concorrência e não com interferência estatal. Hoje, pleno emprego; amanhã, recessão! O liberalismo que lhe interessa é dos grupos imobiliários de Nova York, nada de concorrência, mas luta de cartéis.
O “livre-comércio”, virtude americana, agora virou “comércio regulado” por Trump. Os EUA, agora, quando não aguentam a livre concorrência, inventam “sobretaxas”. É “intervencionista” e contra o mercado livre. Os EUA estão bombando. Começou com Obama, mas está no fim do ciclo. Antes de Trump sair virá a recessão. A inflação está subindo muito rapidamente, encarecendo o poder de compra do americano médio.
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