PT, assim como o getulismo (Petrobras, CSN, CLT, cabotagem), cumpriu um papel importante no Brasil com políticas de inclusão, conferindo voz e vez às classes secularmente pobres e que, por força de nossa formação histórica, estavam esquecidas (negros, mulatos e índios mestiçados), ignoradas e exploradas pelas elites políticas dominantes. As classes C, D e E são majoritariamente formadas por esses sofridos brasileiros.
O domínio petista coincidiu com quatro fatores recentes que agora perderam o ímpeto: a) aumento extraordinário do preço das commodities minerais e agrícolas, ou seja, mineração e agrobusiness, os quais estabeleceram largas cadeias produtivas e serviços diversos, principalmente transportes, gerando bens altamente exportáveis; b) fartura, jamais vista, de capitais voltados ao ganho em títulos e ações, mas igualmente aptos a investimentos diretos e que se dirigiram ao Brasil, por três razões: áreas econômicas por desenvolver (janelas de investimento), enorme mercado interno e juros reais suculentos; c) aumento real de salários acima da produtividade do trabalho, mediante aumentos generosos tanto no setor público (gasto governamental) quanto no setor privado; d) expansão do crédito para o consumo de bens duráveis, automóveis e casa própria (hoje perto de 50% do PIB) forçando a formalização do emprego e das empresas.
Tudo isso em cima da estabilização da economia (Plano Real, câmbio flutuante, metas de inflação e Lei de Responsabilidade Fiscal), deu um formidável crescimento às classes C, D e E, logo capturadas pela propaganda política do PT. Entretanto, no seu passivo estão fatos gravíssimos, a saber: a entronização do presidencialismo de coalizão, com a divisão do governo (cargos, verbas e estatais) entre facções políticas cada vez mais corruptas; a negativa a continuar as privatizações e concessões, por ranços ideológicos (para a presidente Dilma, entretanto, não há, parece, outra opção viável); a não realização das reformas que o PSDB seguramente faria: a política, a tributária, a trabalhista, a administrativa e a da opção pela iniciativa privada como motor da economia.
Com o aguçamento da crise econômica mundial afetando o planeta inteiro, uma nova realidade surge e o PT, como partido, para ela não tem nenhum projeto (aliás, nunca teve; manteve e aprofundou o do PSDB e surfou na maré da prosperidade mundial). Para Dilma sobrou a ressaca, daí o seu desespero em fazer a economia crescer à base do consumo, política econômica no limite da exaustão. Ela terá que voltar-se para a iniciativa privada e fazer as reformas, caso contrário não se reelege. O termômetro será o desemprego ora em 6%. Se subir para 8%, a casa vem abaixo. Nem o PSDB ou o DEM o desejam. Mas, para mudar isso, o PT praticamente tem que deixar de existir como tal, porque o futuro está no encolhimento do Estado, na limitação dos direitos trabalhistas (enquanto há tempo), nas privatizações, na redução de impostos, no crescimento da produtividade acima dos salários, na valorização do real e em mais trabalho duro e maiores dificuldades para se adquirir riqueza real (finalmente, depois do Plano Real, o país verá cair a ficha: trabalho duro para crescer com consistência).
O PT, com a sua falta de ética na política e sua direção totalitária sob a tirania do “grande guia”, diz aos “comissários” regionais quem vai ser candidato (ver BH, SP e Recife). Em sua leniência política, já viciado às molezas que a máquina pública propicia, não tem como tocar o Brasil S.A. Os tempos mudaram. A alternância no poder impõe-se. Lula envelheceu e adoeceu. Quem no PT o substituirá? Dilma – não se enganem – estima Lula, mas não tem histórico partidário e nem o domínio do partido. O PT, de um jeito ou de outro, fenecerá após Lula. O julgamento do mensalão, por isso mesmo, seja lá como for, será o divisor de águas de nossa política, na medida em que o povo, ainda que lentamente, for tomando consciência política e se assenhorando da verdade.
A cúpula do partido, para assumir o poder, viu-se obrigada a renegar o seu ideário radical, contra “tudo que aí está”. Na carta aos brasileiros, foram revogadas as bandeiras históricas do PT. Para manter-se no poder não hesitou em incrementar as piores práticas da política clientelista e corrupta. Misturou-se com o que “lá estava”, contra o PSDB, o DEM e o PPS tornados “oposição”. Para sair do poder não precisa escrever ou fazer nada. Os narcisos do PT, egoisticamente, os únicos puros da política brasileira, ao verem a imagem do partido refletida no espelho d’água, viam bandeiras e os milhares de rostos de sua militância. Hoje se espiam e enxergam apenas as bandeiras de outrora dobradas e, ocupando o espaço visível, a cara enorme de Lula, o senhor inconteste do partido. O deus da economia é o senhor dos destinos. O rosto do PT em 2012, por enquanto, é o feio rosto do mensalão. Para logo, será o do Deltalão, se a verdade não for malversada (R$ 4 bilhões no PAC).
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