Assistiremos à primeira grande recessão com deflação nos EUA, Europa e Japão, ou seja, em 65% da economia global.
Grécia, Irlanda, Itália, Espanha e Portugal precisam refinanciar 600 bilhões de euros em 2012. Os papéis italianos pagam 7% ao ano, contra 1,8% dos títulos alemães. Especialistas acham que o Banco Central Europeu precisa de 2 trilhões de euros para desmontar a crise (e a Alemanha, a França, a Holanda e os nórdicos deveriam apoiá-lo). Os problemas com a Itália colocaram em xeque a Zona do Euro. Teme-se um calote desorganizado, levando os bancos de roldão. A inquietação aumenta pelo temor de o contágio ir à França, que já está pagando 3% para rolar sua dívida soberana.
Fora a possibilidade de o euro explodir, com consequências imprevisíveis, a ponto de a China prometer US$ 100 bilhões para o fundo de estabilização e o Brasil US$ 10 bilhões para o FMI acudir os europeus, o que preocupa é o contágio sobre os EUA, já combalidos com uma dívida pública igual ao seu PIB, de US$ 15 trilhões. Como se daria dito contágio? Segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF), pela drástica redução dos fluxos financeiros e dos financiamentos ao comércio internacional, (já se considera a falência da MF Global, uma corretora gigantesca, como a primeira vítima a acender o sinal vermelho. Ela tinha uma exposição de US$ 6,3 bilhões em papéis governamentais da Itália, Espanha, Bélgica, Portugal e Irlanda).
Além disso, os bancos americanos estão indiretamente expostos às moratórias e cortes das dívidas soberanas dos países europeus, dado que possuem participações significativas nos bancos credores de lá e estes têm posições de quase 4 trilhões de euros em títulos soberanos. É possível que os bancos americanos, como se não bastassem os subprimes (créditos podres), tenham algo em torno de US$ 680 bilhões passíveis de calote na Europa. Fundos americanos de investimentos independentes possuem vastos portfólios em bancos, empresas e papéis soberanos europeus.
Relativamente aos países emergentes, o IFF diz que o contágio se daria pela redução do comércio e das linhas de trade finance, que irrigam as transações no comércio internacional (contração europeia na concessão de linhas de crédito). Esses fatos calam a boca dos nossos monetaristas, quando dizem que o Banco Central de Tombini (mais apto que o de Meirelles) havia se precipitado em reduzir os juros primários. A crise europeia vai durar uma década, contada de 2008, e a americana o mesmo tanto ou um pouco menos, até 2014/15. Assistiremos não a uma nova grande depressão. A de 29 durou 14 anos e acabou em 1942 com o esforço de guerra (2ª Guerra Mundial). Assistiremos, isto sim, à primeira grande recessão com deflação nos EUA, Europa e Japão, ou seja, em 65% da economia global.
Nesse mundo que encolhe e empobrece, temos que ativar o mercado interno (carros, casas, petróleo, gás, infraestrutura) e estreitar as relações com as Ásias, todas elas, desde Ancara até Pequim. O mundo desenvolvido continuará desenvolvido mas parado. Quando a crise terminar, os seis maiores PIBs serão: EUA, China, Japão, Alemanha, França e Brasil (a Itália, a Inglaterra e a Espanha estarão superadas). Não se trata de palpite, mas de realidades visíveis nas estatísticas. O IFF, a quem estamos nos reportando, informa que o setor privado na Europa e nos EUA enfrentará dificuldades de monta. Companhias do mundo todo têm US$ 2 trilhões de dívidas com vencimento em 2012 e que precisarão ser roladas, num cenário de ambiente econômico global em deterioração.
Nos EUA, as empresas correm para vender títulos antes do fim do ano. Na Europa, aumentou o custo dos seguros contra calotes das dívidas de empresas do continente. Companhias americanas têm US$ 687 bilhões de dívidas a vencer no ano que vem, metade de instituições financeiras. Na Europa, o montante é de quase US$ 1 trilhão, sendo 75% também por parte dos bancos. Nos emergentes, as dívidas das empresas que vão vencer somam US$ 33 bilhões. São US$ 7 bilhões de companhias da América Latina, US$ 10,5 bilhões da Europa do Leste e Oriente Médio e US$ 15,5 bilhões da Ásia. Nos emergentes, menos de um terço da dívida é de instituições financeiras, bem diferente do que ocorre nos EUA e na Europa.
O que se passa é surreal. Dois governos republicanos nos EUA causaram mais mal ao mundo que todos os fenômenos naturais econômicos e sociais reunidos. Bush conseguiu triplicar a dívida pública americana, parar o país, arrasar a economia mundial ao permitir a irresponsabilidade de Wall Street. Merece punição exemplar e julgamento pela Corte Internacional de Haia.
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