Os Estados Unidos não têm a mínima chance de vencer a guerra comercial com a China e serão ultrapassados economicamente em 2025
Repercuto crônica de Tom Mitchell, do Financial Times, sobre o embate entre os EUA e a China. Na escalada do conflito comercial entre os dois países, filmes chineses como “A guerra para resistir aos EUA e Ajudar a Coreia (do Norte), da década de 50, voltaram a aparecer no horário nobre da TV estatal chinesa. Apontam para o que será um conflito comercial longo com Washington, na suposição de que Trump venha a reeleger-se”.
Relutante em aceitar as cláusulas humilhantes exigidas por Donald Trump, Xi Jinping, presidente da China, prepara-se para comandar seu país em um conflito comercial total com a principal potência econômica e tecnológica, da mesma maneira que Mao Tsé-Tung enfrentou forças americanas durante a Guerra da Coreia, por quatro longos e sangrentos anos, na década de 50.
“A exemplo da decisão de Mao de entrar no conflito coreano, a decisão de Xi parece, à primeira vista, uma escolha temerária. Setenta anos atrás, as mal equipadas tropas de Mao enfrentaram uma força militar americana tecnologicamente superior na Coreia. Além disso, após 30 anos de um crescimento próximo de dois dígitos, a economia chinesa, a segunda maior do mundo, ingressou num período de desaceleração, o que resulta em crescentes aflições nos círculos de classe média e de empreendedores privados, chineses e estrangeiros lá estabelecidos, inclusive americanos”.
Mas, assim como as forças chinesas que, por fim, travaram um combate com os EUA até um impasse na Coreia, ao lançar um grande número de soldados maltrapilhos contra a superioridade do poder de fogo americano, Xi considera que pode comandar uma batalha bem-sucedida, de toda a sociedade, na disputa comercial e goza de duas nítidas vantagens em relação a seu adversário americano.
A primeira são instrumentos de controle com as quais Trump pode apenas tuitar. As instituições americanas, como o Fed (Federal Reserve, o BC americano) ou a Câmara dos Deputados, resistiram à pressão do líder dos EUA, mas para Xi basta estalar os dedos para que o governo, o Legislativo, a mídia e o sistema bancário da China, controlados pelo partido, cumpram suas determinações.
O Partido Comunista chinês tem corretoras, bancos e gigantes estatais para fazer “compras” de ativos nos mercados chineses quando necessário. Quando o principal índice de ações da Bolsa de Xangai (SCI, nas iniciais em inglês) despencou quase 6%, para 2.906 pontos, no dia seguinte à mais recente escalada da guerra comercial, pessoas a par da reação do governo chinês disseram que o limite tolerado de queda era até 2.900 pontos. No dia seguinte, o SCI subiu.
A segunda vantagem de Xi é a noção de ressentimento histórico contra potências estrangeiras que anteriormente “assediaram” e “humilharam” a China. Quando as exigências iniciais dos negociadores comerciais do governo Trump foram vazadas, em maio do ano passado, a indignação sentida por muitos chineses foi autêntica. Friedrich Wu, professor da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, resume os sentimentos de muitos quando as descreve como “uma lista de exigências de rendição para a China aceitar’.
Já Trump precisa enfrentar poderosos grupos de interesse – agricultores, Wall Street, varejistas, consumidores e uma mídia livre, entre outros – que reclamam, ruidosamente, do custo das tarifas sobre os produtos importados da China e duvidam do bom senso dessa estratégia.
A China torna a vida de americanos mais barata. Com as sobretarifas de Trump, as coisas ficam mais caras e o consumidor estrila. Os EUA não têm a mínima chance de vencer a guerra comercial com a China e serão ultrapassados economicamente em 2025. O que mais irrita é a falta de apetite da China de expandir seu território ou de ameaçar belicamente os EUA. O tigre não mostra dentes nem unhas, fala em cooperação.
É desconcertante a política externa da China. Conquistou a África e está sempre acalmando os vizinhos, armada até os dentes, e tem como aliada incondicional a Rússia de Putin.
Trump é um esnobe de Nova York, oriundo do desleal e competitivo mercado imobiliário dos EUA. Sua tática é agredir, morder, ameaçar para depois obter acordos vantajosos ou soltar fogos de artifícios como no caso da Coreia do Norte. Na verdade, ameaçou Kim e depois disse “não vou te atacar, se modere” e deu por finalizado um conflito altamente artificial com um país pequeno, isolado, mal falado, que procura com unhas e dentes armar-se para se defender.
Os americanos gostaram muito mais dos tempos de Obama do que a estridência e o nervosismo do governo de Trump. Esperemos as eleições que se avizinham. São fatos reais que indicam o futuro. E tudo indica um dilema crucial: a “pax americana” com diplomacia, força o comércio, ou uma terrível e altamente destruidora guerra. Dá-se que o ponto ômega está próximo: a tecnologia G5. E a China está na frente.
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