Tomara que a nova postura presidencial dure e, o mais importante, que comece a governar, ao invés de espalhar a cizânia e a radicalização
Está por aí, mas bem presente, em todos os jornais: Fabrício Queiroz preso ao amanhecer na casa do advogado dos Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia (SP), caiu como uma “bomba” no Palácio do Planalto, pela ameaça de levar o problema para dentro do governo. A estratégia montada pelo presidente visou “tirar o entulho do Planalto”. Bolsonaro desistiu de suas costumeiras paradas para conversar com simpatizantes e à tarde, pela rede social, disse que a prisão foi “espetaculosa”. Acrescentou que “parecia que estavam prendendo o maior bandido da face da Terra” e afirmou não estar “envolvido no processo”.
Queiroz é o operador financeiro de esquema de lavagem de dinheiro com rachadinhas que movimentou R$ 2,3 milhões no gabinete do senador Flávio Bolsonaro, quando este foi deputado estadual no Rio.
Queiroz, amigo do presidente desde 1984, é ainda apontado pelos investigadores como elo entre milicianos do Rio e a família Bolsonaro. Foi uma espécie de faz-tudo de Flávio na assembleia fluminense entre 2007 e 2018, período em que empregou sete familiares no gabinete.
As dubiedades se estendem ao próprio presidente – que ora defende Queiroz, ora busca parecer distante dele, que foi seu assessor antes de trabalhar no gabinete do filho – e até mesmo à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que teve depósito feito por Queiroz em sua conta bancária de R$ 25 mil. Convenhamos que se trata de muita intimidade e compadrio.
Quem assiste à televisão viu de perto o abandonado Queiroz queixando-se de ser deixado sozinho para pagar o pato. Ao que parece, os Bolsonaros não são assim tão leais e solidários. Quando a coisa fica preta, a corda arrebenta nas mãos dos mais fracos. Nos bons tempos, era “venha a nós Queiroz”, mas, agora, esconderam-no em Atibaia. O porquê é o que todos desejamos desvendar. O que Queiroz pode, em tese, saber de tão importante para sofrer a injusta pena de semicárcere privado?
E eis que, das brumas do escabroso caso, surge uma figura estranha de nome europeu, e de feições somalianas, como se fora o mouro de Veneza (o totalmente inusitado são as visitas registradas visualmente ao Palácio da Alvorada, onde mora o presidente da República. Aí tem!)
E sabe-se que ele próprio, o mouro de Veneza, guardava sob vigilância, a sete chaves, Queiroz em sua luxuosa casa em Atibaia, a Petrópolis paulista, sob severa atenção, o que nos remete à insistência presidencial de controlar a Polícia Federal no Rio de Janeiro.
Aos poucos, as máscaras vão caindo até o rei ficar nu, normalmente falando. Em termos econômicos, Bolsonaro vinha mal. Com a COVID-19, a desculpa está pronta, ou, como se diz no Vale do Jequitinhonha: “Desculpa de amarelado é comer barro”.
Mas há também – fato notado por todos os comentaristas do país – uma mudança de atitude do presidente. Suavizou a fala, desvestiu-se de ser um eterno polemista e ensaia torrar alguns ministros malandros como o Sales, deliberadamente imbuído do espírito de ampliar terras agricultáveis, ainda que afrouxando a fiscalização sobre as “coivaras” (incêndios provocados na Amazônia legal e real), sem falar na pandega Damares, aquela que na fatídica reunião ministerial, exibida por ordem do Supremo Tribunal Federal, bradou, de forma ridícula e intolerável, que ia prender uns quatro ou cinco governadores, para espanto do então ministro Taich, que logo pediu o boné e se foi de um governo que lhe pareceu forte em ministros necessitados de assistência psiquiátrica.
E o tal Weintraub, a entrar nos EUA fraudulentamente, como se fora ministro (e formalmente o era, somente para esse fim), mas politicamente estava já destituído numa cerimônia triste, sem graça, envergonhada, para quem se propunha prender um punhado de gente, a começar pelos ministros do STF.
Ora, esses são vitalícios, como todos os juízes, aqui e nos EUA, de onde copiamos o presidencialismo, o Legislativo de duas Casas (Câmara e Senado) e o Judiciário com o poder de declarar a lei inconstitucional (ato do Legislativo) e nulos atos do Executivo.
Tomara que a nova postura presidencial dure e, o mais importante, que comece a governar, congregando estados e municípios, ao invés de espalhar a cizânia e a radicalização que enferma a sociedade brasileira.
Há inconveniências que gritam. O Ministério da Educação, por exemplo, já teve três ministros efetivados. O último é um militar (deveria ser um professor de bom senso), sem falar de outras incongruências, como a do ministro das Relações Exteriores, uma nulidade que lá está por ser fascista. O resultado é a péssima imagem do Brasil no exterior, para desespero do Itamaraty, que era respeitado mundialmente e já não o é nos foros internacionais.
A coisa é tão infantil que virou moda falar mal da China, o nosso maior parceiro comercial e o segundo PIB da Terra (US$ 15 trilhões), mas que é maior porque lá tudo é mais barato do que nos EUA. E cresce o triplo…
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