Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ
Certamente devemos votar, sem preconceitos, querendo o melhor para o país. Não devemos alimentar os radicalismos
A jornalista Sílvia Pires afirma a motivação política dos fatos. O agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho invadiu festa de aniversário e matou Marcelo Arruda, tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu, no Paraná. A informação foi confirmada pela delegada Iane Cardoso, da Polícia Civil do Estado do Paraná, em coletiva de imprensa. “Ele não veio a óbito.” Pelo contrário, está em estado estável.
A delegada afirma ainda que o homem foi autuado em flagrante na noite do crime. “Ele está custodiado pela Polícia Militar, enquanto recebe o auxílio médico.”
Para a polícia, Jorge e Marcelo não se conheciam, ainda não há indícios de que tenha havido divergências anteriores. “Ao que tudo indica, ele não era convidado da festa”.
A Polícia Civil não confirma a motivação política do crime. “Estamos investigando. O que estão divulgando é que houve um conflito político, mas a polícia tem que investigar. Estamos tentando extrair a verdadeira motivação”, comenta a delegada.
“Dos que estavam no local, a polícia pegou depoimento apenas de um deles que estava sóbrio. Os demais tinham ingerido bebida alcoólica e não conseguiam dar depoimentos concretos.” Ao que se sabe, a motivação foi política. Foi um crime de ódio, ao menos na tresloucada ação de Paranhos, de resto típica!
Renan Calheiros, senador pelo MDB de Alagoas, também se manifestou.
“O assassinato de um líder sindical e dirigente partidário por um bolsonarista, mais que covardia, é tempestade gerada na usina de ódio e intolerância que Bolsonaro instila todo dia no coração dos brasileiros. Esse facínora precisa ser derrotado no primeiro turno.”
O também senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) avaliou nas redes sociais, que “não existem dois lados quando um deles é a barbárie! Um bolsonarista assassinou um pai de família, líder do PT, em Foz do Iguaçu, durante sua festa de aniversário. Nossa solidariedade aos familiares de Marcelo Arruda. Isso é inconcebível! Intolerável em qualquer sociedade!” A intolerância mata, acaba com famílias e faz o ódio vencer. Marcelo Arruda tinha 50 anos, deixou esposa e quatro filhos, entre eles um bebê de um mês, aqui termina a fila transcrita. “Essa intolerância infelizmente se reforçou no Brasil nos últimos anos”.
O senador Alexandre Silveira (PSD-MG) escreveu: “Alguém por intolerância e violência política tirou a vida de Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu. Meus sentimentos e solidariedade aos familiares, filhos e amigos da vítima. Precisamos de paz, diálogo e respeito. O Brasil não pode permitir que os extremos acabem com a vida de alguém”.
A deputada do PCdoB-RJ Jandira Feghali destacou: “O ódio dessa gente, o fascismo, não suporta quem pensa diferente. É preciso arrancar esse pensamento do comando do país. Que horror! É preciso punir este assassino e todos os responsáveis pelos outros atentados. Solidariedade à família do Marcelo”.
E o ex-ministro da Justiça Moro (União) disse que é preciso “repudiar toda e qualquer violência com motivação política ou eleitoral”. “O Brasil não precisa disso”, sintetizou.
É possível que o clima de intolerância explique a razão dos milionários dando adeus para o Brasil. Um levantamento realizado pela consultoria Henley & Partners mostra que 2,5 mil pessoas com mais de US$ 1 milhão em investimentos deixaram o país em 2022, é quase o mesmo número da Ucrânia (2,8 mil), que, está em guerra com a Rússia. Fatores como crescimento econômico baixo e permanente tensão política levaram os ricos a buscar o aeroporto mais próximo. Na direção oposta, os Emirados Árabes foram os campeões na atração de novos moradores donos de ao menos 1 milhão de dólares.
Não é preciso muito esforço para entender as razões desse movimento. O ambiente pró-negócios e os baixos impostos de Dubai – tudo o que o Brasil não oferece – fizeram com que 4 mil milionários desembarcassem no país em 2022. Austrália (3,5 mil milionários), Singapura (2,8 mil) e Israel (2,5 mil) também brilharam no ranking. (Mercado S/A, de Segalla).
Então, o que devemos fazer como cidadãos deste país? Desertar, como tantos já fizeram, indo para Portugal e EUA?
Certamente devemos votar, sem preconceitos, querendo o melhor para o país. Não devemos alimentar os radicalismos, e, ao contrário, insistir na democracia.
Parece-nos que nos últimos quatro anos o país embicou, nas classes médias, rumo ao perigoso caminho da intolerância, pregado pela direita extrema, a começar pelo presidente da República. É esse o nosso destino? Um candidato que se lhe oponha, com ou sem consentimento das Forças Armadas, é o ideal para o Brasil.
Nas grandes democracias, seja na América do Norte ou na Europa, os militares não entram na vida civil ou política de suas nações. O lugar de militar é na caserna, com o dever de garantir as decisões dos cidadãos nas urnas!
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