Qual a razão para excluir as redes privadas de medicina da luta contra a pandemia?
Capitalismo e socialismo são regimes econômicos ou modos de produzir. No primeiro, os meios de produção são privados; no segundo, são do Estado, que se diz representante do povo, em cujo nome exerce o poder.
Mas aqui no Brasil, desde Antônio Conselheiro, em Canudos, temos grupos religiosos radicalizados, procissões e crendices nas encruzilhadas. No campo da política, ao invés de uns poucos partidos como chegamos a ter antes de 1964 (UDN, PSD, PTB, PR, PC), com programas definidos e ideias, temos personalismos políticos: getulismo, janguismo, integralismo (fascismo à brasileira) e, mais recentemente, lulismo e bolsonarismo.
Nenhum país nas Américas tem o presidencialismo americano que a todos influenciou. A Europa, como se sabe, é toda parlamentarista, sejam repúblicas, sejam monarquias (que reinam mas não governam). França e Portugal se dizem semiparlamentaristas, pois os seus presidentes têm mandatos longos e podem dissolver os Parlamentos e convocar novas eleições. As escolhas dos primeiros-ministros ora são definidas na Presidência, ora pelas maiorias parlamentares.
Agora mesmo, no correr da pandemia, os EUA se deram mal por não ter um sistema público de saúde (o medicare é brincadeira diante do nosso SUS). O Brasil está se dando mal exatamente pelo contrário. O SUS igualou todos nós, como nos antigos e já inexistentes países comunistas, o qual resiste apenas na Coreia do Norte e em Cuba, e somente neles.
A pergunta que faço é anti-hipócrita. Por quais razões as clínicas e redes hospitalares privadas do Brasil não podem importar, seja dos EUA, da Índia, da China, ou alhures, e aplicar doses, ainda que pagas, a quem puder pagar? Somos um país comunista? Por acaso o povão, antes e depois dessa maldita COVID, não foi e será jogado no SUS sobrecarregado e a rede particular de medicina sempre atuará contra pagamento a quem puder fazê-lo? Qual a razão de a COVID nos tornar iguais? E as outras doenças? Vamos todos nos vacinar no SUS?
Está aí uma coisa que espero ver!
Eis o que me causa bulha. Qual a razão para excluir as redes privadas de medicina da luta contra a pandemia? Não estou aqui verberando o negacionismo, o descaso, o improviso, a inação do governo Bolsonaro em enfrentar com bravura militar o insidioso inimigo viral. Isso todos já sabem. Sua incompetência em lidar com a “gripezinha” é conhecida. O que me desnorteia, passado um ano de pandemia, são duas coisas. Por quais irracionais raciocínios que já nos custaram 250 mil mortes, por aí, não procuramos logo, lá atrás, garantir o IFA (o princípio farmacológico básico) tanto da CoronaVac chinesa quanto da AstraZeneca europeia (a tal de Oxford)? Ambas dependem da China, pois é só de lá que vem o IFA. Ficamos, pelo contrário, zombando do país, como se fôssemos um país desenvolvido ao invés de subdesenvolvido e em recessão econômica! Bolsonaro foi obrigado a agradecer de público e o fez (canditio sine qua non) quando a China mandou o IFA para o Brasil. Agora estamos fabricando no Butantan e no O. Cruz.
Se foi por autossuficiência arrogante, falta de assessoramento, incompetência congênita ou por preconceito ideológico não me interessa. O que importa é saber o mecanismo ou a sua falta, que nos causou tamanha desgraça, porquanto somente um povo desequilibrado pode permitir tamanho holocausto. E mais desgraça vem por aí. Faltarão vacinas e faltará o IFA para a Fundação Osvaldo Cruz e o Butantan fabricarem mais vacinas. Sem o IFA chinês, nem a AstraZeneca nem a CoronaVac podem ser fabricadas. Se tivéssemos o IFA em quantidade suficiente – estamos na fila, pois o mundo inteiro a procura com urgência – poderíamos ter 500 mil ampolas de vacina.
Durante meses, o presidente, contra a ciência, se gabou, menino pimpão, de que teria a vacina da AstraZeneca (Oxford) e ainda fez pior, esnobou a CoronaVac (chinesa). Ocorre que isso ele tinha que saber: ambas utilizam o IFA que só a China tem. E não é só isso, outras vacinas, como a Pfizer, a Moderna e várias outras, em vários lugares, existem e poderiam ser importadas, mas não foram demandadas. A omissão é clara e indesculpável.
Outra conclusão não há. O presidente do Brasil e seu gorducho ministro da Saúde, que nem médico é, e, pois, nada entende de medicina, ainda mais de infectologia, jamais folhearam uma revista especializada, não têm nenhum plano de logística efetivo. São cadernos desenhados e arremedos de um plano de logística. O que têm são os planos antigos – e somos bons nisso de vacinação contra sarampo, a tríplice, varicela e quejandos. Existem desde antes do atual governo, tecnologia e logística vacinal ao ministério. O que não presta, no caso, é o governo.
É uma vergonha? Não apenas isso, é também um genocídio culposo do povo brasileiro. Governo omisso, economia se arrastando e as famílias se enlutando. Em espanhol já foi dito: “Pobrecito Brasil, tan cercano de la muerte e tan legos de Dios” (tão perto da morte e tão longe de Deus).
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