O atentado de Jefferson

Sacha Calmon

Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ.

O bandido fluminense, na esteira do lendário Tenório Cavalcante, de Caxias, não fez mais que realçar a ignorância política, o coronelismo, a cumplicidade com o crime organizado, para não falar em bicheiros, traficantes, milicianos

que infelizmente sempre assolaram o Rio de janeiro.

O mais importante de se ver e pensar estar à volta do atentado ou melhor dizendo, da deliberada tentativa de homicídio doloso contra agentes da lei, que na casa do sinistro político lá estavam, para cumprir ordem de prisão. O bandido foi avisado previamente e atacou a Polícia Federal, a mais brilhante e independente polícia brasileira à moda do FBI. Só que no Rio quem comanda a PF é amigo do presidente. E foi por esse comando estratégico que Moro deixou o governo. O presidente é amigo e cúmplice do bandido em pantomimas de violência deu-se mal neste lamentável episódio de delírios, mentiras e xingamentos em tempo real.

O presidente Bolsonaro, estupefato, sem saber como agir, em face do bárbaro atentado jogou seu ministro da Justiça para mediar a prisão de um condenado em cumprimento de pena domiciliar. Santo Deus incomum! Pior, a mobilização do ministro desmereceu a PF que atrasou a prisão, já que um ministro de Estado fora designado para facilitar a entrega de um criminoso condenado.

Sim, reles agressor a mão armada de policiais federais, tanto que três foram feridos. A “matilha digital” de Bolsonaro, ficou desnorteada ante a vacilação presidencial e de seus assessores diretos em desavença… A PF do Rio, do delegado amigo, tratou Jefferson com todos todas as deferências…

Os 15 mil grupos organizados no WhatsApp e em redes sociais (Twitter) chegaram a espalhar que o presidente convocará as forças armadas para proteger Jefferson como se coubesse a elas tal idiota função! Seria uma afronta. Bolsonaro negou fotos com o bandido. Apareceram várias imediatamente a desmenti-lo, inclusive uma aos abraços e cócegas na barriga!!!

Ademais a repercussão foi negativa. Bolsonaro somente se rendeu tarde demais e condenou o atentado, solidarizando-se com as famílias dos policiais atingidos pelos disparos do agressor, que agora busca escorar-se em uma legítima defesa putativa, tese furada. Sofrerá os rigores da lei, vai direto para a masmorra. Ordem de Xandão. Prisão preventiva decretada.

Bolsonaro vacilou e errou o “Timing” para resolver o entrevero sendo tragado pelos acontecimentos. Os vacilos e a tardia postura de repúdio pelo simples fato de ser tardia, desagradou parte de sua base militante e desagradou muito

mais o seu eleitorado de boa fé.

Para começar a quantidade de armas e munição, rifles a laser, em poder de uma pessoa condenada e sujeita a oito restrições, inclusive posse de armas, em cumprimento de pena domiciliar, mostrou a leniência do Executivo Federal no controle de presos e o erro de pregar a posse de armas.

Os especialistas estão a mostrar outras consequências. A primeira está no exemplo. A atitude de Jefferson não incitou outras de igual teor. O eleitorado do presidente repudiou na base de 65% o ato indigno e covarde. E Jefferson já avisou, mau caráter, de uma canalhice sem par, sem grandeza moral, que se for abandonado a própria sorte, falatório virá e contará tudo (pílulas ameaçadoras). Disse textualmente que se ficar isolado ou abandonado pelo estamento a que pertence vai deitar falação e ele é perito em coisas picantes. Vai contar tudo o que sabe…

Além disso, foi escalado um agente operacional para dialogar com Jefferson em sua casa. Seria melhor ter enviado um delegado sénior e, o mais importante, que ele não se deixasse filmar. Afável com alguém que acabara

de tentar homicídios, o agente da PF que falou com o ex-deputado, foi gravado sorrindo e colocando-se à disposição de alguém chamado, depois, pelo presidente de “bandido Era preciso alguém que, com a cara fechada, desse o ar de reprovação necessário à grave situação. Não creio em Jefferson, um salafrário. Não de armas e tiros que se faz política mas com ideias e argumentos, ora faltantes no debate eleitoral.

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