Nosso agronegócio e indústria alimentícia podem ganhar mercados, mas a nossa indústria ou se moderniza ou perece
A União Europeia (UE) tem uma indústria desenvolvida e preços convidativos, porém, uma agricultura cara, subsidiada por falta de espaço, limitações climáticas e escala. O Brasil tem uma indústria obsoleta, cara e parada, e um agronegócio fantástico. Para a Europa importar sorgo, café em grão, soja, óleo de soja, açúcar de cana (o de beterraba é caríssimo), suco de laranja, subprodutos do milho, algodão, sucos tropicais etc. é uma mão na roda.
Os grandes temores do acordo UE-Mercosul são três: 1) a possível imposição de cotas (está prevista) em prejuízo do agronegócio brasileiro – que só perde para os EUA – de forma unilateral pelos 28 países europeus, de modo coletivo, semicoletivo ou por um ou outro país; 2) a invasão de produtos industriais acabados, semiacabados e “inputs” (insumos) europeus, com baixo custo, a prejudicar a indústria nacional, que não cresce por falta de inovação e de um mercado interno pobre (o per capita do europeu é três ou quatro vezes maior do que o do consumidor brasileiro). O nosso mercado interno não aconselha investir, pois a ociosidade industrial é grande. O risco de desindustrialização, portanto, aumenta; 3) finalmente – e é por isso que as conversações demoraram 20 anos –, os europeus, mormente os franceses, subsidiam seu agronegócio. O simples fato de o fazendeiro manter uma vaca é suficiente para lhe render, mensalmente, dado valor em euros (moeda forte). Significa que não vamos vender em massa os produtos do nosso agronegócio, ante o conservadorismo protetor da UE, que foi diminuído, mas não desapareceu.
Noutras palavras: nosso agronegócio e indústria alimentícia podem ganhar mercados, mas a nossa indústria ou se moderniza ou perece. Não terá mais proteção tarifária ou cotas para deter a Alemanha e a França.
É preocupante pelo fato de o custo do crédito no Brasil ser um dos maiores do mundo. No Cone Sul, batemos a Argentina, Uruguai e o Paraguai (Mercosul), daí o risco da dupla triangulação. Para quem não sabe, o Paraguai está crescendo em ritmo chinês, enquanto Brasil e Argentina praticam altas taxas bancárias e estão presos na armadilha do baixo crescimento já faz tempo. O Brasil nunca atravessou um decênio como o atual (crescimento anual inferior a 1%), vero despautério, com a dívida pública aproximando-se de 80% do PIB (o valor da totalidade de bens e serviços produtos pelo país anualmente).
O problema da dívida é preocupante, por isso que tem de ser “rolada” diariamente, com taxas superiores à inflação em favor dos agentes financeiros.
O pagamento das despesas correntes mensais e dos juros dos títulos públicos – sem que faça logo a reforma da Previdência – nos levará ao caos. Comprar títulos públicos de um país que não cresce implica pagar caro aos tomadores suculentos juros (correção monetária embutida). Atualmente, os governos federal, estaduais e até municipais não têm mais capacidade de investimento para melhorar as máquinas públicas e, muito menos, para investir.
O dilema do nosso setor público, à sua vez, cria um ambiente de negócios opaco para os investidores privados. Estamos naquela situação do ditado popular: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
Uma saída seria aumentar impostos, algo que a sociedade rejeita de modo peremptório, dado que a carga tributária já chegou a um ponto insuportável na conjuntura em que nos encontramos, razão pela qual temos uma balança comercial superavitária, mas em nível insuficiente para satisfazer as necessidades dos governos.
No setor de serviços, estamos, também, em desvantagem.
A essa altura, cumpria acelerar ao máximo o projeto de privatização das participações do governo na infraestrutura: estradas, ferrovias, empresas de energia, “et caterva”. E, também, planejar novos investimentos infraestruturais para serem tocados em concessão ou em regime de iniciativa privada. Seria um tipo de startup, válido para fazer a economia andar e contratar, inclusive pessoas, num país que tem tudo para crescer, mas amarga mais de 13 milhões de desempregados, um terrível drama social.
Saída há de ter. Embora tenham sido ajudados, dois países populosos, Alemanha e Japão, destruídos em 1945, são hoje a terceira (Japão) e quarta (Alemanha) economias do mundo. Entre 1945 e 1950, a China arrasada e invadida na Segunda Guerra Mundial era a 20ª economia global. Hoje é a segunda, crescendo o dobro dos EUA, e tem – coisa fantástica – 1,350 bilhão de habitantes.
E “tempus fugit”, diziam os romanos, a cidade – império que durou mil anos, caso único na história dos homens.
No mais, o tratado nos impõe bridão: não usar agrotóxicos proibidos na UE e outras restrições, inclusive hídricas, e demarcação de terras indígenas. Cantaram, como galos, em cima do Brasil.
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