A Lava-Jato vai continuar até o fim, doa a quem doer. É a vontade do povo, dos juízes, da consciência nacional, da regeneração dos costumes, de uma ética sem gritaria, porém efetiva, constante, permanente
“Navegar é preciso, viver não é preciso.” A frase lusitana enaltece a coragem portuguesa pela navegação transoceânica, pois foram os primeiros ocidentais a fazê-la com coragem, vontade e técnicas desenvolvidas na Escola de Sagres. Sobre ela, Camões escreveu um clássico maior que outras obras renascentistas: A Divina Comédia, de Dante, sobre a moral religiosa obsessiva, e Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Saavedra Cervantes, mordaz crítica, claramente velada, ao mundo dos “Cavaleiros da Cristandade”, um tempo que chegava ao fim.
A viagem de Vasco da Gama de circunavegação da África, de Lisboa a Calicut, na Índia, é o pano de fundo de Camões. Em cima dela é escrita a história singular dos heróis de Portugal até então. Uma terceira camada nesta obra extraordinária implica a mitologia grega, com as deidades dividindo-se em apoiar e hostilizar os portugueses na Ásia ignota, de mistura com a crítica profunda à estreiteza e, veladamente, aos desígnos da empreitada lusitana: o comércio, o dinheiro, a riqueza e não levar o pavilhão da fé aos “confins do mundo”.
Isso, sem falar que o livro é feito de versos magníficos e que ninguém jamais ousou fazer iguais em língua portuguesa. Eis Os Lusíadas. A Rede Cultura, que recomendo, tratou do assunto recentemente. Outro poeta ousou dizer que o caminho é feito pelo caminhante, ao caminhar, como a dizer que nós é que fazemos o caminho. Não passamos por ele simplesmente.
É o que estamos a fazer no Brasil, construindo o caminho, rasgando o futuro, formando a nação. Estamos a caminho do ecúmeno, embora tudo pareça de pernas para o ar. É ver a indiferença europeia diante dos refugiados desesperados que cruzam o mediterrâneo em busca de vida e paz ou da campanha maluca de Trump nos EUA e a guerra estúpida na Síria.
Entretanto, um mundo novo está surgindo. Primeiro, a comunicação das consciências entre todos os humanos. Em segundo, as aplicações práticas das ciências em todas as áreas, a ponto de tornar a humanidade definitivamente senhora da terra. A humanidade cada vez mais ligada pelos meios de comunicação olha o presente com apreensão, mas pressente um futuro de superação.
É tudo veloz. Tome-se o Brasil, em 16 meses a sociedade fragmentou o que parecia absolutamente monolítico. O governo foi mudado e suas políticas, as efetivas mantidas, como Bolsa-família e o financiamento do Minha casa, minha vida, e as ruins substituídas, como a da obrigatoriedade de a Petrobras explorar todos os postos entrando com 30%, mas sem ter dinheiro algum para fazê-lo. Agora tem preferência para explorar as melhores áreas sozinha ou em sociedade com outras petroleiras. É mais racional, importa extrair o petróleo agora, já! Em 30 anos, será a terceira fonte de energia, mudando as economias baseadas nos hidrocarbonetos, de modo a impulsionar novos negócios nas economias desenvolvidas e nas em desenvolvimento.
A reforma da Previdência, com os seus privilégios inaceitáveis, será feita; temos um presidente discreto mas com um querer férreo. Seus recuos são táticos. A outra era de uma determinação firme e falante dentro de rica redoma de cristal que se partiu de alto a baixo. Como sempre, sem diálogo com o Congresso, nenhum presidente fica de pé. Collor veio abaixo. Clinton escapou por 20 votos, sabia dialogar.
O STF deu-nos uma decisão histórica que mudará para sempre o país. Réu condenado em 2ª instância só pode recorrer preso. É o fim da impunidade do réu solto, embora condenado, sempre rico ou político. Ficavam até 12 anos recorrendo e postergando a punição.
A CLT facista, copiada de Mussolini, será substituída por uma legislação moderna como as da Europa, EUA, Canadá, Austrália, reduzindo o custo Brasil. Seremos um país normal, não dividido entre a democracia e a demagogia. Os sinais estavam trocados. Não mais “nós e eles”, expressão de ódio e divisão. Fica somente o “nós”.
A história sempre nos surpreende. Com apenas 111 votos no Congresso, o atraso foi derrotado. Com o mesmo quórum do impeachment de 366 votos, a emenda à Constituição do Teto de Gastos foi votada. A nação domesticou o orçamento da República. E foram os políticos que o fizeram. Voltamos à racionalidade. Parece outro país. Nada de mentiras, pedaladas e propinas.
Em tempo, a Lava-Jato vai continuar até o fim, doa a quem doer. É a vontade do povo, dos juízes, da consciência nacional, da regeneração dos costumes, de uma ética sem gritaria, porém efetiva, constante, permanente, à altura do país que somos e queremos.
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