A Turquia é o farol para a modernidade islâmica, como no pretérito o foram as repúblicas italianas do Renascimento para a cristandade atrasada (…)
Os que moramos em Belo Horizonte, com seus 2,38 milhões de habitantes (4 milhões na zona metropolitana, se tanto) parece-nos um sonho nos mover em Istambul com relativa facilidade, numa cidade de 14 milhões de almas (7.500 quilômetros; 150 quilômetros de comprido por 50 de largura), fica às margens do Estreito do Bósforo, a ligar o Mar Negro ao Mar de Marmara, e nos dois lados de um rio que no referido canal natural deságua. É que o metrô, os veículos leves sobre trilhos de cinco vagões, os elevados, vias rápidas sem sinais, túneis, trincheiras, passarelas simples e funcionais, viadutos e trevos entrecruzados, além das lanchas urbanas, permitem transitar sem retenções irritantes a cidade imensa, isenta de favelas, conquanto tenha, casas modestas para a população mais pobre. O que a cidade mostra são as mais suntuosas mesquitas e palácios do Islã, construídas no esplendor do Império Otomano, senhor da bacia do Mediterrâneo Oriental e de todo o Oriente Próximo até os Bálcãs e a Hungria.
Os jardins, as ruas impecavelmente limpas e o moderno casario à moda europeia, prédios comerciais e vivendas de quatro a seis andares espalhadas pelas colinas à volta do Bósforo e do Mar de Marmara, de águas azul-turquesa, impressionam o viajor. Istambul surpreende até no grande bazar, que tem de um tudo para um ror de gente, todos os dias, menos sexta-feira, descanso islâmico. Espantou-nos, não apenas a mim, mas a Javert Rodrigues, João Ardizoni, Laerte Oliveira, Márcio Ribeiro, Marcus Nogueira e Sérgio Rogero, quão diferentes de São Paulo e Rio são as metrópoles que visitamos: Istambul, Bancoc, Hong-Kong, Macau, Xangai e Beijing. O trânsito flui, as ruas são limpas, não têm favelas, a criminalidade é mínima, considerada a nossa, as pistas não têm buracos nem costelas, sem falar nas flores e jardins nas avenidas, especialmente na China. São Paulo diante delas é feia, caótica, um amontoado de prédios, pessoas e carros. Nem vou falar da funcionalidade e do tamanho dos aeroportos, seria de fazer dó. Cumbica, de fato, é o aeroporto pior, mais velho e desfuncional entre os que vimos. Pior não, inqualificavelmente pior.
Kemal Ataturk é para a Turquia o que Mao é para a China, um ícone, um marco, uma referência, uma devoção. É nele que as forças armadas turcas e a sociedade civil se arrimam para resistir aos fundamentalismos sem vez no país. As moças se vestem como querem, a maioria à ocidental. Em certos restaurantes não servem bebida alcoólica, em outros sim. A vida noturna, dizem, é a melhor da região, batendo Roma e Milão. É uma das cidades mais belas que jamais vi, tanto quanto São Petersburgo e à frente de Budapeste e Praga (opinião pessoal). As duas monumentais pontes estaiadas, ao lado das antigas, dão à metrópole, tão antiga, à velha Bizâncio, à Constantinopla greco-latina, um ar de progresso e modernidade.
O país pertence à organização militar do Atlântico Norte (OTAN). É o ponto mais avançado do Ocidente na região. O coração e a mente do mundo islâmico foi e é Istambul, coração que pulsa democracia e poderio econômico (15ª economia mundial). Não é o Egito, onde o Exército controla 55% da economia com subvenções dos EUA nem se parece com as monarquias absolutistas e fundamentalistas da península arábica, mormente a Arábia Saudita, aliadas do Ocidente.
A Turquia é o modelo econômico, social, religioso e cultural que as revoluções islâmicas deveriam adotar, desde o Egito, passando pela Tunísia e Líbia, até o Irã. Ela é o farol da modernidade como no pretérito o foram as repúblicas italianas do Renascimento para a cristandade atrasada, fundamentalista e inquisitorial da Idade Média europeia. A Turquia pertence hoje ao grupo dos 20 países em desenvolvimento com seus 75 milhões de habitantes. Nela se juntam a Europa e a Ásia. Nela conviveram gregos, romanos, cristãos ortodoxos e católicos romanos. Cidade síntese, repositório de civilizações, em Istambul deixei parte do meu coração e as esperanças de um melhor porvir para a região.
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