Os preços livres estão rodando de 7,5% a 8,5% ao ano, pois os aumentos do mínimo e dos salários acima da produtividade – um erro clássico de política econômica –, que os petistas ingênuos chamam de aumento da “renda real dos trabalhadores”, são concausa poderosa da inflação, a desencadear a corrida dos preços dos serviços e dos produtos livres para “abocanharem” o excesso de oferta que os salários artificiais, o crédito subsidiado e o gasto estéril do governo provocam na economia.
Não será fácil combater as contradições acumuladas pela política econômica de Dilma, sob o enorme e crescente peso do contingente de dependentes do Estado, 76 milhões apenas entre os beneficiários de políticas sociais (Minha casa, minha vida, Bolsa-Família, etc.). O Banco Central alerta para a defasagem entre preços administrados e livres formados no mercado, o que leva ao “natural e esperado” desalinhamento dos preços relativos.
No outro lado do problema, o governo desorganiza o setor de energia, petróleo e transportes, segurando os “preços públicos” (as tarifas). São os chamados preços administrados pelo governo, cujos valores, em vez de serem fixados pela lei da oferta e da procura, são escamoteados pela presidente da República, a tzarina da economia. No mundo civilizado tal não há. Somente nos países bolivarianos tem gente que acredita em controle de preços. Tanto que a diarreia inflacionária na Venezuela e na Argentina continua. É isso que desejamos para nós?
Os preços livres a 8,5% e os administrados a 2,5% formam um mix que leva a uma inflação “oficial” de 5,90%. O povo, no entanto, está achando os preços elevados. E de fato estão, porque de 40% a 60% dos preços são tributos. Vejamos os percentuais embutidos nos preços correntes de mercado: almoço ou jantar no restaurante, 32,31%; notebook, 32,62%; celular, 33,08%; carro 1.0, 33,81%; carro 2.0, 38,70%; árvore de natal, 39,23%; brinquedo, 39,70%; tênis, 44%; óculos de sol, 44,18%; TV, 44,94%; bicicleta, 45,93%; bola de futebol, 46,49%; refrigerante em lata, 46,47%; joias, 50,44%; maquiagem, 5l,04%; chope, 62,20%; moto (250 cc), 64,65%; perfume nacional, 69,13%; Playstation, 72,18%.
Não é à toa – e certamente estão cobertos de razão – que as classes A e B viajam de malas vazias para os EUA onde tudo é de 50% a 60% mais barato mesmo com o dólar a R$ 2,50 (paralelo), desprezando a indústria e o comércio no Brasil. Enquanto isso, as classes pobres mantêm o emprego (e a miséria também), sacrificando-se no crediário. É uma covardia. Para ter ideia, com impostos incluídos, vejamos um item bem marcante: o videogame XBox One no Brasil – R$ 2.299 – é o mais caro do mundo. Na Inglaterra custa R$ 1.573, na União Europeia R$ 1.524, no México R$ 1.480, na Nova Zelândia R$ 1.428, na Austrália R$ 1.297, nos Estados Unidos R$ 1.141 e no Canadá R$ 1.093. Sem os impostos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), ele sairia por aproximadamente R$ 1.100.
Na hora de consertar a economia vai ser duro de aguentar. Antes cedo do que tarde. Mas qual é o tempo da economia e o tempo da política? Não se enganem. A presidente está empolgada pelo poder antes que pelo bem do país. Após as eleições, seja lá qual for o vencedor, virá o ajuste. Garanto que vai doer. É melhor – pelo que se vê na Venezuela e na Argentina – que seja alguém da oposição.
Quais as razões de ser da oposição? São várias. Primeiro: o período petista já dura 12 anos praticamente. Aparelharam o Estado federal. Estão por toda parte mandando nos mais de 30 ministérios e secretarias do governo federal, nas ONGS e movimentos sociais. O PT e seus aliados se adonaram do poder, como dizia Brizola. Isso não é bom, cria vícios.
Segundo: o presidencialismo de coalizão gera a gravitação – na órbita federal – de todos os partidos da base. Oitenta por cento dos congressistas são da situação, a exigir benesses, cargos, dinheiro, emendas, empregos, inchando o aparato estatal, incluídas as fundações, autarquias, bancos e empresas estatais, casos da Petrobras e Eletrobrás, Infraero, Dnit e por aí vai. Terceiro: Essa gente do PT, no fundo, é estatizante, socialista, sindicalista e muito parecida com o pessoal da ditadura militar, no que diz respeito ao papel do Estado. Tirá-los do governo é de bom alvedrio. A rotatividade no poder faz parte da democracia. É desejável, mormente no Brasil. Na Europa e nos EUA, não há tantos cargos em confiança para serem distribuídos como aqui.
Faça seu comentário