Incômodo ódio partidário

O poder está hipertrofiado na União, em prejuízo dos estados e municípios de uma federação obsequiosa dos favores do presidente

Hoje, depois de enfartar o Estado, fartar os sindicatos, inflar os “movimentos sociais”, espoliar o país, ele conversa com todos os políticos – que antes fingia desprezar –, partidos, pessoas e empresários, enquanto Moro dele se aproxima velozmente e a candidatura lhe escapa das mãos. A inércia ad cautelam da Procuradoria-Geral da República, em Brasília, em adentrar o mundo dos políticos com foro privilegiado precisa ser explicada à nação, pois já é tempo de lancetar o tumor. O país inteiro se pergunta por que somente Cunha é investigado. E os outros?

Cedo ou tarde, os políticos corruptos serão desnudados. Dizem que já passam de 52, uns com assentos no Palácio do Planalto, outros no Congresso Nacional, o que nos leva a pensar no fechamento dessa República fracassada, para inaugurarmos outra, a que chamarei de quarta (a França está na quinta, e penso que sem sucessora). É que as instituições estão, definitivamente, contaminadas. Uma reforma administrativa e política no plano federal, que tornasse terra arrasada o establishment e se prolongasse pelos estados e municípios seria salutar. São coisas simples: federalização do ICMS, sem incentivos, neutro, repartido com estados e municípios. Aposentadoria compulsória aos 75 anos no serviço público; fundo de pensão dos funcionários dos três níveis gerido pelos próprios; fim da aposentadoria pública integral subsumida na geral; idade mínima de 65 anos para homens e mulheres aposentarem-se pelo INSS; corte de 80% nos cargos de confiança e de 40% nos cargos públicos efetivos à medida das vacâncias e aposentadorias. Nos municípios até 100 mil habitantes, substituição da Câmara de Vereadores pelo Conselho dos Cidadãos não remunerados, assessorado por escritórios de contabilidade ou de auditoria; aumento das penas em geral e quintuplicação das relativas aos crimes contra a administração pública, que passariam a ser hediondos e sem progressão de regime.

Incômodo ódio partidário

Foto: opiniaoenoticia.com.br

O Brasil devia estudar a burocracia estável existente na Europa, indene às influências político-partidárias, e sua estruturação (carreiras de Estado): Forças Armadas, polícias diversas, Poder Judiciário, educação básica, sistema legislativo, arrecadação e fiscalização tributária, previdência e amparo, diplomacia, Ministério Público, saúde pública e sanitária, Transportes, logística e comunicações. O resto é perfumaria e ingerência na vida privada das pessoas físicas e jurídicas.

O poder está hipertrofiado na União, em prejuízo dos estados e municípios de uma federação provincial e obsequiosa dos favores do presidente, um quase rei com mandato, num país enorme, porém unitário na prática, como fomos no império e, em certa medida, na Primeira República (1891 a 1930).

Esse PT, hoje assustado pelo ódio que lhe é devotado por largos setores da sociedade, jamais deixou de pregar a luta de classes e o ódio aos estamentos mais ricos da sociedade. Depois de enxovalhado pela corrupção e péssima gestão da coisa pública, vem agora pedir arrego e queixar-se do ódio, mormente quando seus próceres mais conhecidos são vaiados em restaurantes, aviões, estádios e até mesmo nas ruas. Fizeram por merecer, enquanto representantes da sigla, embora pessoalmente deplore essas marcas de intolerância e me relacione com alguns dos agredidos.

O PT sempre se mostrou egoico e do contra, como se fosse dono de todas as verdades, até enquanto não se deliciou com as benesses e sinecuras do poder. Seus fundadores já o deixaram, restaram poucos aproveitáveis, além dos fanáticos daquela militância tipo torcida de futebol.

Rememoremos algumas atitudes do PT, além de nos ameaçar com o exército do Stédile, um Stalin fora de moda; em 1985, é contra a eleição de Tancredo e chega a expulsar os deputados que votaram nele; em 1988, vota em massa contra a inteira Constituição “burguesa” de 1988; em 1989, faz campanha pelo não pagamento aos credores estrangeiros (FMI, Bird), ou seja, prega o “calote”. Quando Itamar, em 1993, convoca os partidos para um governo de união nacional, após o impeachment de Collor, o PT foi contra e isolou-se na oposição. Em 1994, vota contra o Plano Real, que tirou o Brasil da hiperinflação. O PT foi contra a reeleição de FHC, mas hoje é a favor. Em 1988, o PT, em peso, vota contra a privatização da telefonia. Na mesma linha, declara-se em 1999 contra as metas de inflação, o câmbio flutuante, a independência do Banco Central e a Lei de Responsabilidade Fiscal, outro marco positivo na história política de nosso país. Em 2011, chama o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação e o Vale-Gás de FHC de “paliativos eleitoreiros”, para depois aumentá-los a ponto de pôr em risco a saúde da República, via endividamento do Tesouro Nacional.

O PT levará a nossa dívida pública a 70%, a 80%, a 100%, como proporção do PIB. Gasta nosso dinheiro para distribuí-lo em programas eleitoreiros. Ou o Brasil acaba com o PT ou o PT acaba com o Brasil.

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