A indústria brasileira é pouco engenhosa e inovadora e há coisas que ela nem faz. Se fosse fazer, não daria conta ou a conta seria alta demais.
Essa cantilena – mormente a ensaiada em São Paulo – de que o Brasil está se desindustrializando causa-me profunda perplexidade e parece não ter, pelo menos em alguns pontos, foros de verdade. Dizer também que – sem conhecer a notável pluralidade da economia norte-americana (a mais ampla e diversificada) o Brasil está se tornando como os EUA, antes da crise de 2007, não faz muito sentido. Procura-se dizer que além, de o Brasil ser o país do “agrobusiness”, é um “fire”, acrônimo que significa “finance” (mercado financeiro), “insurance” (seguros) e negócios imobiliários e de hipotecas “Real Estate”. Não se parecem nem de longe. As situações são muito diversas. Aqui não há bolha nenhuma.
A economia americana é seis vezes maior que a brasileira e a chinesa três vezes e meia, mas em qualquer das três a construção civil, as obras de infraestrutura (portos, estradas, aeroportos, hidrovias, etc.) e a indústria de máquinas, partes e peças de transporte, a exploração das energias, principalmente a elétrica e a petrolífera (petróleo e gás), são formidáveis fatores de industrialização, inovação e reindustrialização. Basta qualquer pessoa medianamente perspicaz imaginar umas poucas coisas para comprovar a assertiva. Vejamos algumas.
Para fazer um carro, precisamos de pelo menos mil itens (pneus, rodas, bancos, eletrônica, fios, a lista é imensa). Sem indústria aqui, como fazer tantos carros, tratores, colheitadeiras, caminhões, ônibus? Imaginem uma casa média. É a mesma coisa, são milhares de itens industrializados: louças, cerâmicas, cimento, ferro, aço, móveis (um microuniverso, a casa do homem). Sem indústrias aqui como fazer tantos prédios e fábricas? E a indústria de telefones, TVs, linha branca e seus componentes? No mais a imensidão de itens industrializados para fazer represas, linhas de transmissão e exploração de petróleo e gás. Como produzir energia para girar a economia e sobreviver sem parques industriais?
O que está acontecendo é que setores simples e antigos não aguentam concorrer (têxteis, sapatos, gusa) e outros são lerdos (indústria naval). A economia é dinâmica, muda, inova, uns setores nascem, outros morrem. Em parte a desindustrialização pela participação no PIB deve ser vista com cuidado. É que o agronegócio e os serviços aumentaram expressivamente suas participações. A política macroeconômica contudo, gera perda de produtividade e competividade: o custo da mão de obra (não o salário que o trabalhador põe no bolso) é no Brasil um acinte. Nossa lei é do tempo do código fascista de Mussolini, com mil penduricalhos. O custo da mão de obra para contratar, manter e mandar embora no Brasil é extorsivo! A reforma é inevitável.
Os tributos indiretos sobre bens e serviços são excessivos e incham todos os preços. A reforma tributária sobre a renda, o capital e o trabalho impõe-se. O PT as fará? O câmbio está baixo, mas quem o mantém flutuando com os juros nas alturas é o nosso governo! Ilegalmente estados como Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo facilitam as importações. O governo tem que agir logo. EUA, Europa e Ásia vão nos atolar com seus produtos.
Para complicar, a indústria brasileira é pouco engenhosa e inovadora e há coisas que ela nem faz e se fosse fazer não daria conta ou a conta seria alta demais. E o nosso governo não tem planejamento para áreas prioritárias: biotecnologia, engenharia genética, semicondutores, as indústrias do futuro. O país é e será medianamente industrial (nem na ponta nem na rabeira), agronegocial (de ponta, um dos celeiros do mundo em insumos minerais, proteínas animais, grãos e alimentos semi-industrializados), e terá um fortíssimo setor terciário (serviços) desde os comuns passando pelo turismo e os transportes, até os de avançada tecnologia. A velocidade do crescimento vai depender das prioridades e da gestão, o quanto possível privatizada: a) da infraestrutural; b) da educação; c) da reforma do Estado; d) da reforma tributária; e) da reforma das relações de trabalho.
Quanto ao método não há dois caminhos, apenas um: menos Estado e mais economia privada. O futuro da indústria brasileira começou em 2011 e pouca coisa foi feita para baixar o custo Brasil. Medidas pontuais não resolvem o problema, os adiam.
Em 10 de março, o The Street Journal, comentando China e Brasil, disse: “No Brasil autoridades do governo culpam os EUA e a Europa por cortar os juros e emitir moedas, enviando ondas de dinheiro especulativo para essas regiões, supervalorizando o real e prejudicando a competitividade brasileira. Mas muitos problemas do Brasil são locais, altos impostos, estradas ruins, burocracia extensa e corrupção endêmica tornam o Brasil um dos lugares mais caros do mundo para produzir mercadorias”. É isso mesmo.
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