Jovens e mulheres trarão à face da Terra, em sucessivos ciclones, igualdade, solidariedade, educação, liberdade e paz
Não me tomem por ingênuo bardo. Trato aqui de prosa poética com um fundo de verdade. Concedo que multidões de jovens se perderão nos descaminhos da vida e por vezes se quedarão diante dos semideuses da tolice, da incerteza, do vício e da vaidade. Mas não tenho a mínima dúvida de que os jovens e as mulheres de nosso tempo, e os que estão por vir, mudarão a face da Terra em sucessivos ciclones de igualdade, solidariedade, educação, liberdade e paz. Os sonhos são proféticos, superando os juízos realistas. Um rabino sábio, amigo meu, disse-me que as meninas já nascem mães e os homens morrem bebês. Eles estarão em toda parte, como o sal da terra. Com incrível tenacidade varrerão em todas as sociedades os preconceitos de diversificadas ordens, inclusive sexuais, trazendo-nos uma espiritualidade sem igrejas e dogmas, como jamais se viu na Terra-Mãe. Quem teme o relativismo deve se cuidar, desaparecerão os absolutismos, os nexos da dominação. A mulher traz em si o fruto da maternidade, seus sentimentos são avessos à violência, à guerra, aos conceitos e preconceitos. Os jovens, após a fase egoica da infância são os cavaleiros da igualdade. As mulheres farão reviver o tempo das fertilidades que precedeu as civilizações masculinas do neolítico há 12 mil anos.
Serão eles, as mulheres e os jovens, que vão derrocar a teocracia dos aiatolás na Pérsia, ventilar as janelas de Moscou e São Petersburgo, restaurar os finos desenhos espirituais da China imemorial, jamais permitirão que a Turquia laica volte a deslizar de volta ao sectarismo islâmico, um belo dia farão a Síria ressurgir das cinzas da tirania e soprar tempestades sobre os desertos patriarcais das arábias. Serão eles, fatigados de séculos de orgulho, que irão restaurar a primitiva simplicidade da América do Norte, tornar o Brasil a grande pátria da igualdade e resgatar os fortes e sofridos irmãos da África dos terrores da descolonização. Os pombos farão seus ninhos nos telhados do Vaticano entre górgones e estátuas vãs. Afirmarão aos quatro ventos que todos os homens nasceram iguais em direitos e oportunidades e que as sociedades podem ser igualitárias sem necessidade de opressão. Judeus e palestinos, quem diria, esquecerão aqueles tempos de separação.
Nada de mais nisso, hoje não vemos com espanto como viviam nossos bárbaros ancestrais há 18 mil anos? Não nos parecem hoje irreais a pestilência, o fedor corpóreo e moral da chamada Idade Média? Não foi depois dela a eclosão da Renascença?
O devir não para. Poucos se dão ao trabalho de imaginar o porvir dos homens sobre a Terra. Miram, apenas, como serão as cidades, os avanços da tecnologia em todos os níveis, fazem previsões, acham imutáveis valores, crenças, igrejas, religiões, formas de Estado e estilos de governança, quando não estão ocupados em prever improváveis apocalipses como imaginados pelas mentes do fanatismo e da obsessão. Não será o paraíso, apenas um mundo melhor. Hoje é só desesperança, medo, violência e alienação. Todavia os tempos obscuros passarão.
Freud disse, com razão, antevendo o choque entre os instintos e a razão social (o id, o ego e o superego), que educar é necessário, que civilizar é reprimir e que a instrução ao fim, é repressão, sem a qual seria impossível a civilização. Os teóricos do direito, céticos até mais não poder, reafirmam a perenidade da polícia, do juiz e da punição. Os psicanalistas, a viverem de espiar ,os instintos e os quereres contrariados dos seres humanos, acreditam na perenidade – contra a teoria da evolução psíquica e emocional – do conflito entre o desejo do sujeito e sua supressão ou recalque! Acham, porque o essencial é invisível aos olhos (nos disse o Pequeno Príncipe), que essa etapa da civilização se repetirá indefinidamente. Não, os jovens e as mulheres mudarão a face de Gaia. Aliás já começaram a fazê-lo, estão a rodar filmes, livros, frases e revoluções, nas praças e esquinas do mundo, em todas as latitudes. Muitas coisas boas virão de suas aspirações.
Como disse o poeta, os grandes rios em seus começos não passam de simples riachos. Hoje vemos apenas os olhos d’água, mas brotam em muitos lugares. Água nova, pura e cristalina. A Terra está renascendo! E a última vítima da violência mal acabou de ser sepultada.
Morgan, antropólogo americano que procedeu ao maior inquérito sobre o avanço do homem sobre a Terra nos últimos 150 mil anos, desde quando disputavam com as feras a alimentação diária, dividiu a nossa evolução em três etapas a selvageria com três períodos, a barbárie com três períodos e a civilização, iniciada há 13 mil anos. Estamos, digo eu, na primeira etapa da civilização. Olhem bem o dia nascer e seu belo arrebol, são os prenúncios da segunda etapa da civilização.
Faça seu comentário