Os maiores vilões da inflação brasileira no ano passado foram os combustíveis, que podem continuar pressionando os preços em 2022
Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ
Rosana Hessel em excelente análise nos diz: “Após 27 anos do lançamento do Plano Real, quem pensava que o dragão inflacionário estava dominado se enganou completamente. Em 2021, a alta do custo de vida voltou para a casa dos dois dígitos, pela primeira vez desde fevereiro de 2016. E, de acordo com especialistas, não será fácil fazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, voltar ao controle neste ano”.
O IPCA registrou alta de 10,74% no acumulado em 12 meses até novembro. A prévia da inflação oficial, o IPCA 15, encerrou dezembro em 10,42%. Com isso, o Brasil tem a terceira maior inflação entre os países do G20 –grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes. A Argentina lidera o ranking com a carestia acumulando alta de 51,2% em 12 meses. A Turquia, em segundo lugar, registra inflação de a 21,3%. O governo Bolsonaro é responsável por esse descontrole, em que pese ter feito poucos investimentos na infraestrutura, saúde e educação.
Os maiores vilões da inflação brasileira no ano passado foram os combustíveis, que podem continuar pressionando os preços em 2022, pois o dólar continuará em torno de R$ 5,60, segundo previsões do mercado. Pelas projeções dos especialistas ouvidos pela reportagem, o IPCA continuará em dois dígitos até abril ou maio, devido à série de reajustes de preços que normalmente ocorrem no início de cada ano e à indexação elevada da economia.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, “o BC não conseguirá cumprir a meta sem elevar muito os juros e levar o país a uma nova recessão”. Pelas estimativas do mercado apontadas no boletim Focus do Banco Central, em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 0,48%, mas grandes bancos, como Credit Suisse e Itaú Unibanco, não descartam queda de 0,5%.
Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), acredita que o IPCA, em 2022, deverá ficar entre 5,5% e 6%, mas não descarta um percentual maior. “O juro real tende a ficar acima de 6%, o que vai ser bastante desafiador para a economia crescer”.
A economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, prevê queda de 0,5% no PIB e inflação de 6% neste ano. Ela faz um alerta para a inércia inflacionária devido, principalmente, à deterioração na área fiscal. “Mesmo com a desaceleração da economia, será difícil para a inflação retroceder em 2022”, frisa. A economista não poupa críticas ao abandono da âncora fiscal após a mudança no cálculo do teto de gastos, que foi ampliado em mais de R$ 60 bilhões. Agora, diz, será um “desafio enorme” para o governo recuperar o discurso da consolidação fiscal em pleno ano de eleições, que tudo indica perdurá.
Como as indústrias são os maiores consumidores de energia, a difusão é elevada e a inflação, persistente”, alerta o economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).
Segundo dados do IBGE, o preço da gasolina disparou 50,78% em 12 meses e o do etanol, 69,40%. A energia elétrica subiu 31,87% no mesmo período. Esses números mostram que a inflação de 2021 é mais reflexo da alta dos preços administrados do que do aumento da demanda.”
Tem muito preço que será orientado pela inflação de 2021, como mensalidades escolares, salários, contratos de locação, que devem dificultar uma desaceleração da inflação para a meta”, afirma Braz. Essa conta, inclui, ainda, aumento nas passagens de ônibus urbanos.
“O único alento é que o volume de chuvas recente pode fazer o preço da energia recuar a partir de maio, quando está prevista a mudança do patamar da bandeira tarifária. Mas, como a energia é custo para o setor de serviços, e com os juros em alta, o ambiente de incerteza não deverá atrair muito investimento”, destaca o especialista da FGV. Para ele, a alta dos juros nos Estados Unidos também ajudará na saída de investimentos de mercados emergentes, como o Brasil.
Em suma, o governo Bolsonaro, além de ser decepcionante em termos de desenvolvimento econômico e ascensão social da imensa população que vive com até cinco salários mínimos, introduziu na política uma praga que não tínhamos, o ódio aos adversários, a transformar a política em confrontos quase militares, além de atingi-los com calúnias e difamações agressivas.
Nada de bom podemos esperar em 2022 nem depois (carryover) ou seja a projeção de detritos e sujeiras deste governo, após as eleições, para 2023. Devemos pensar em fluxos e não em fatos (que só mostram o retrato do aqui e do agora!).
Sempre fomos o país do futuro, mas sempre crescemos, mais ou menos. Agora não, estamos como “rabo de cavalo”. Sim, crescemos mais para baixo. Em 2022 a economia (PIB bruto) voltará a 2014. Haja incompetência…
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