Desastre na política externa

Bolsonaro vai continuar neste caminho insano, cada vez mais isolado? Não vai sequer projetar o Brasil na América Latina e na África?

Não satisfeito com a derrota festejada pelo mundo de Trump – que anda sem consolo –, pois a maioria da população (6 milhões de eleitores a mais e mais 78 delegados no Colégio Eleitoral) o recusou, o presidente do Brasil vem de cutucar com “pólvora” possíveis sanções unilaterais de Biden contra a política frouxa de nosso governo na Amazônia, cerrado e pantanal, ressalvados os esforços do vice-presidente, um homem decente e equilibrado.

De quebra, nos cobra virilidade: “O Brasil precisa deixar de ser um país de maricas”. De minha parte, “marica” é V. Exa., que usa o cargo como quando manipulava grupos de motociclistas valentões, como se fosse ainda parte da “juventude transviada” – “valentias” que deveriam estar voltadas a combater a pandemia do novo coronavírus, a pobreza, o desemprego de 14% do PEA, a queda bruta do PIB (6%), a vacinação integral de nossa população. Nada disso sua valentia enfrentou a contento.

Ao que tudo indica, porém, por maiores que sejam as acomodações, daí as declarações aqui e acolá, V. Exa. agora mexeu com “pólvora”. Mas, desta vez, não com pólvora metafórica contra os americanos de Biden na Amazônia (maluquice), mas a verdadeira, a que é usada pelas Forças Armadas do Brasil, notadamente pelo Exército nacional. O comandante Pujol deixou bem claro a V. Exa., e não adiantam quaisquer desculpas e interpretações, que o Exército, bem como as Forças Armadas, são instituições do Estado, e não instituições do governo, no caso, de V. Exa. Não cometerão tolices. De resto, em nome de defender o Estado e a democracia, já derrubaram de seus cargos vários presidentes da República, haja vista em 1964.

Mas, desta vez, ficou bem claro que Pujol avisou que os militares são independentes em relação à V. Exa. e suas políticas, que estão exercendo diversas missões coordenadas pelo vice-presidente da República, e não se prestarão a aventuras.

V. Exa. nos faz lembrar um general franquista em face do reitor da Universidade de Salamanca, na Espanha, a lhe gritar o destemor militar em relação à morte: “Vila la muerte”, disse o general a Unamano, um dos grandes humanistas do século 20. Ele o redarguiu: “En la universidad, nosostros brindamos a la vida…”. É por isso que somos “maricas”. Temos medo da COVID porque V. Exa. é inepto, e já morreu gente que não acaba mais… É famosa a frase de que a guerra é a continuação da política pelas armas. De fato, é assim. Mas os brasileiros, por força da Constituição, só usarão armas em casos de agressões armadas externas e em mais nenhuma hipótese, reza a Carta Magna. Biden jamais nos invadirá.

Deus acima de tudo e a Constituição acima de todos! De resto, o presidente Biden, em momento algum, ameaçou invadir a Amazônia, mas pode aplicar sanções ao governo brasileiro, se for o caso. E V. Exa. não poderá fazer nada, por inanição militar e política. Vai ter, sim, que cuidar da Amazônia e já se forma um comitê internacional. É importante tanto quanto a posse de armas nucleares e o terrorismo islâmico. É trabalhar a sério ou dar-se-á mal.

E nada de “patriotados” de tenente, como a que o expeliu do Exército nacional por fazer greve por melhores soldos. Saiu com a patente de capitão, como é de praxe.

Ao Brasil, cabe defender-se e manter os tradicionais laços de amizade com os EUA, seja o presidente de lá democrata ou republicano. E deve aprofundar laços com a América Latina, sejam seus governos mais ou menos liberais. Somos impelidos a aumentar os laços econômicos e comerciais com a China em favor da economia do país, sem IDEOLOGIAS DIREITISTAS. Caso contrário, somente nós nos daremos mal, como a Hungria de Orban e a Polônia de Duda (que estão isolados). Deu para entender, Araújo, ou é preciso soletrar? (Hoje, diplomacia e economia são inseparáveis.) O maior parceiro comercial da China são os EUA. Como somos idiotas, os do governo Bolsonaro, a ignorar a China e seus investimentos. Os EUA não! Só não querem o 5G chinês…!

Fora disso é governar mal e infantilmente com tiradas e barretadas ideológicas idiotas. Somente energúmenos governam com ideologia e sem pragmatismo. V. Exa. deve estar ciente de que deve abrir oportunidades com os nossos quatro primeiros parceiros comerciais, pela ordem: China, EUA, Argentina e CEE. Agora, dê-se conta de que já se indispôs com os quatro, com grosserias! V. Exa. gostava mesmo era de abonar o Trump, o grosseirão, que tanto desmereceu os EUA, como jamais se viu. Que diferença dos Kennedy, de Rossevelt, de Obama, e até mesmo dos Bush. Pior, tomou-nos respiradores enviados da China na marra, sem que o Brasil protestasse.

Vai continuar neste caminho insano, cada vez mais isolado? Não vai sequer projetar o Brasil na América Latina e na África? É o que nos resta, salvo uma atitude mais cooperativa com a Ásia, onde o progresso ocorre, justamente a parte do mundo que mais cresce? Mas, convenhamos, o que esperar de um político que passou 27 anos no Parlamento sem ser notado, oriundo da Zona Oeste do Rio de Janeiro, sem formação humanista?

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