É criticável a insistência em criar uma CPI, com o intuito declarado de usá-la politicamente contra adversários previamente nominados.
Criada para ser na mídia contraponto do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira só fez criar suspeitas contra o PT e seu aliado, o PMDB. O relator Odair Cunha (PT-MG) caiu no ridículo, é ironizado pelo seu próprio partido. Sua cara de cão caído do caminhão de mudança é de fazer dó. Ninguém mais quer saber das baboseiras que ali são tramadas. Teve dois momentos mediáticos, quando do comparecimento de Carlos Cachoeira, acompanhado do seu defensor, o famoso Thomás Bastos, por sinal o idealizador do “caixa 2” como tática de defesa no mensalão, a esta altura totalmente desmoralizada, e agora com o depoimento do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot, usado e depois desprezado pela dobradinha PT-PMDB (foi indicado e também demitido por ela a bem do serviço público).
Cachoeira – disso cuidou Thomás Bastos – não disse palavra, nem sua bela mulher, mas Pagot disse algumas coisas interessantes que não eram para ser ditas: (a) “ter sido ameaçado” pelo ex-ministro de Lula, Hélio Costa, a reclamar mais empenho e dinheiro para sua campanha a governador de Minas Gerais, onde saiu derrotado; (b) ter sido procurado pelo tesoureiro do PT (SP), José Di Filippi, para arranjar dinheiro de 40 empreiteiros médios. Dos grandes, o Filipão disse que cuidaria pessoalmente tendo em vista a campanha presidencial do PT que elegeu Dilma; (c) ter recebido em seu gabinete a senadora, ora ministra das Relações Institucionais do governo, Ideli Salvatti, em busca de recursos e outras coisas, entre elas a estranha aliança entre a Delta, a maior detentora de contratos dos PAC 1 e 2, e Cachoeira.
A CPI cuja criação creditou-se à “genialidade política” de Lula naufragou. A questão agora é saber o que fazer para encerrá-la, antes de atrapalhar ainda mais o PT e principalmente o PMDB, até porque o julgamento do mensalão está a findar-se e bem pode ocorrer de a mídia voltar-se para a CPI lançando seus holofotes sobre ela. Como se sabe o PT odeia a imprensa livre (Dilma, ao contrário, a preza). A CPI, a sua existência, entretanto, deixa-nos algumas lições.
Por primeiro, a de que ex-presidentes, como nos EUA, devem ter compostura em vez de ficarem metidos em fofocas com ministros do Supremo para influenciá-los sem falar noutros atos nada republicanos. É criticável a insistência de Lula em criar uma CPI, com o intuito declarado de usá-la politicamente, contra adversários previamente nominados: o governador Marcone Perillo, de Goiás, e o candidato a prefeito de São Paulo José Serra, quando se sabe que é um instrumento a ser utilizado pelos parlamentos com seriedade e eficiência. É preciso respeitar as instituições e institutos democráticos, sem achincalhá-los, como, por exemplo, nomear para o Supremo gente despreparada.
Em segundo lugar, a urgência que temos de regular essa questão do financiamento político. Em verdade se essa CPI fosse séria, para valer, estariam já desvendados outros sérios desvios de dinheiro público, via Delta, para favorecer políticos e partidos governistas, numa escala cem vezes maior que o esquema usado pelos “operadores” do mensalão. Agora, é do interesse da oposição ir a fundo na investigação dos negócios da Delta. Ao cabo, Marcone Perillo não foi atingido nem José Serra, como queria o PT. O depoimento de “Paulo Preto” isentou-o e o PSDB da eiva da corrupção.
O ex-presidente insiste, não desiste, na tese de que “todo mundo faz caixa 2”. Ora, além de primária, a assertiva cabe apenas na boca de pessoas sem estofo ético e grandeza política. Se assim é, importa mudá-los a prática altamente deletéria a corromper o aparato do Estado democrático de direito e não insistir nela. A continuar assim, estaremos a incentivar a corrupção sistêmica. Mas a solução não é o financiamento público das campanhas políticas. Ao contrário, a solução é o financiamento privado, quer de pessoas jurídicas, quer de pessoas privadas, como nos EUA. Chega de hipocrisia, corrupção e mesmice. Temos progredido. O STF no caso do mensalão, na esteira da Lei da Ficha Limpa, fruto da iniciativa popular, parece encaminhar-se para punir com a pena de reclusão banqueiros poderosos, ousados operadores da corrupção sistêmica e políticos de alto escalão. Bem podemos idealizar um sistema de financiamento de campanhas eleitorais minimamente ético e controlável.
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