Houve um tempo, enganoso, por sinal, em que o PT fez três coisas de efeitos efêmeros, porém fatais para a economia: a) aumento do gasto público nos programas sociais, tipo Bolsa-Família e assentamentos do MST, financiamentos ao consumo de bens duráveis (crédito) e ao setor privado, inclusive para obras no exterior, Minha casa, minha vida, PACs, transposições de rios, Copa do Mundo et caterva, usando o Tesouro, o BNDES, o FGTS, o FAT. Os fundos de pensão das estatais foram utilizados em prejuízo dos aposentados e funcionários. O Postalis está falido por causa de aplicações na Venezuela, crime de lesa-pátria; b) aumentos ao funcionalismo e aos trabalhadores acima não apenas da inflação, mas da produtividade do trabalho, onerando as empresas e os preços dos bens finais; c) aumento descontrolado da dívida pública, a ponto de estarmos beirando o volume de 70% do PIB, rolada a juros nominais de 14,25% e reais bem maiores, tipo bola de neve ou, melhor, bomba mesmo, mas sem efeitos retardados. São para 2016.
Pois bem, agora no meio da recessão, com metade das famílias brasileiras endividadas, esse governo faz um ajuste que não diminui o tamanho do Estado nem o seu custo, nem sequer muda a fórmula inflacionária do salário mínimo, nem as participações do governo e de suas instrumentalidades em concessões. Resume-se a contingenciar despesas, aumentar impostos e negar reajustes a pensionistas, aposentados e carreiras de Estado fundamentais: auditores da Receita, Polícia Federal, Advocacia-Geral da União e procuradores da Fazenda Nacional, cujos ganhos já foram corroídos pela inflação dos últimos 24 meses.
Quem te viu e quem te vê, diria o crítico lusitano. Qualquer movimento do Congresso é tachado de impatriótico e logo se faz a conta. Vai custar mundos e fundos (terrorismo político cínico).
Para o PT e a base aliada, não faltou dinheiro. Saquearam e sucatearam o Estado, a Petrobras e a infraestrutura do país. Deviam estar presos em vez de nos governar.
Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, reforçou a defesa do ajuste fiscal: “A PEC 443 é incompatível com a situação econômica do país. Somos contra”, disse ao Valor. Ele considerou uma distorção tratar de política de reajuste de salários para um segmento do funcionalismo na Constituição, condenou a vinculação de salários aos do STF e ressaltou que as questões salariais da União, responsabilidade de sua pasta, estão sendo negociadas. “Cálculos do Planejamento indicam que apenas a PEC 443 produz um gasto adicional de R$ 2,45 bilhões por ano. Considerando as outras PECs em tramitação, que tratam de salários do funcionalismo, o impacto sobe para R$ 9,85 bilhões por ano.”
Agora vejam só! Somente com os swaps cambiais para “segurar” o dólar, uma estupidez, o governo gasta à vontade e nada se diz. O Valor esquadrinhou o assunto. Se contarmos o que se paga de juros, a conta não vai fechar nunca. Foi nisso que deu eleger o “lulopetismo”, os “kirchners” e os “maduros”, ou seja, a “esquerda”: “As perdas acumuladas pelo Banco Central (BC) com intervenções no mercado de câmbio já alcançam R$ 57,04 bilhões em junho, muito mais do que os aumentos votados no Congresso. O prejuízo foi provocado pelos contratos de swap cambial, instrumento derivativo oferecido pelo BC ao mercado. Nesses contratos, a autoridade monetária assume o risco da variação da taxa de câmbio e o comprador do contrato no mercado fica com o risco da variação da taxa de juros em um mesmo período. Apenas em julho, esses contratos deram prejuízo contábil de R$ 23,906 bilhões por causa da valorização do dólar em relação ao real. Como essa tendência se acentuou nos últimos dias, as perdas devem aumentar”.
O BC adotou a política de swaps cambiais em agosto de 2013. O objetivo era oferecer proteção ao mercado (hedge) diante da valorização mundial do dólar. Desde maio, o BC vem reduzindo a rolagem dos contratos, mas ainda existe um estoque de US$ 102 bilhões no mercado. Nas contas do governo central, a perda contábil do BC com swaps é registrada como despesa com juros, o que aumenta o desafio na área fiscal.
Durma-se com um ajuste desse. Sacrifica as pessoas e faz mimos aos rentistas nacionais e internacionais. Mas a alta do dólar é até salutar a médio e longo prazo. Acaba com os convescotes de brasileiros das classes A e B, compradores compulsivos de coisas úteis e inúteis no exterior, estimula a compra de ativos nacionais, o investimento da poupança externa e o turismo internacional. Além disso, fortalece as exportações e a substituição das importações. É ruim para quem se endividou em dólar (bancos e empresas grandes), geralmente protegido por hedge. Vai demorar muito para a economia começar a reagir. A falta de confiança no governo é total, com Renan ou sem ele.
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