A China tem seus próprios valores e rejeita o imperialismo cultural do Ocidente.
O capitalismo é o regime da livre iniciativa e da propriedade privada dos meios de produção. A economia é tangida por milhares de empresários e empregados em competição. O socialismo por sua vez elimina a propriedade privada e a substitui pela propriedade coletiva dos meios de produção, passando a dirigir a economia por meio de um partido único, o dos trabalhadores, pois todos trabalham para o Estado, que é dono de tudo: fábricas, fazendas, lojas, bancos, supermercados etc. Existem regimes socialistas apenas em Cuba e na Coreia do Norte, por sinal Estados totalitários, estagnados economicamente.
Quando Karl Marx previu o socialismo na sua poderosa filosofia da história, ele queria riqueza, liberdade, igualdade e solidariedade para os homens. Não viveu para ver o fracasso histórico do socialismo real na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Dizem que Mikhail Gorbachev decidiu-se pela transformação imediata do regime quando foi comprar numa loja estatal um par de sapatos. Variedade suficiente e qualidade não havia à falta de controle de custos, produtividade, inovação, riscos e concorrência. Escolhido o par, vieram os sapatos, ambos do pé direito. Um era de nº 42 e o outro, 43. Foi a gota d’água. Daí o seu movimento sob o nome de perestroika (reestruturação) e a glasnost (transparência). Ficasse no Kremelin e lhe teriam feito um belo par de sapatos. Seu erro foi de cálculo. Devia começar a abertura pela economia, como a China e o Vietnã, e só depois, com o êxito, abrir politicamente. O resultado, todos sabemos, foi o caos. Caiu o Muro de Berlim, a Rússia mergulhou na anarquia com novos-ricos emergindo das privatizações apressadas, a URSS e a Iugoslávia explodiram, gerando a dilacerada, confusa e ainda pobre Europa do Leste, entre escombros, secessões, esperanças, máfias, saudosismo e democracia.
Em tão crasso erro não incorreu a liderança chinesa. A facção progressista do Congresso do Povo, depois de sofrer o terrível ataque da viúva de Mao (revolução cultural), partiu para o “capitalismo social” sob controle. Xiaoping liderou o processo ao sair da cadeia com o ditado famoso: “Não importa a cor do gato contanto que coma os ratos”. A nova liderança criou zonas especiais capitalistas, abriu os mercados, fixou marcos de segurança jurídica, ofereceu mão de obra sem encargos sociais e trabalhistas, como os Estados Unidos, atrelou o câmbio ao dólar, atraiu empresas e capitais do mundo inteiro, planejou o país e tornou-se o maior sucesso econômico do nosso tempo. Tudo começou em 1982. Em 28 anos, com 1,38 bilhão de pessoas, taxa de anafalbetismo de 1%, já é a segunda economia do mundo, sem dívida externa, taxa de investimento de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) e reservas de USS 2,6 trilhões. É o maior importador e exportador mundial de tudo. Cresce a taxas anualizadas de 10% ao ano. A produtividade de sua economia é a maior do mundo.
Há seis anos, estive na China. Um amigo de viagem recém-chegado me disse que neste período, em Pequim, Nanging e Shangai, a infraestrutura e a ascensão social deram um salto fenomenal. Proximamente será a maior democracia do planeta. A máxima de Santo Agostinho diz: “É preciso um mínimo de conforto para praticar a virtude”. Dirão eles: “Fartos de bens materiais, pratiquemos as virtudes de Confúcio”, sendo a principal o respeito ao ser humano honesto. Aliás, a filosofia ética e política de Confúcio está sendo ensinada em toda a Ásia e África subsaariana. Existem mais de mil institutos Confúcio. A China tem seus próprios valores e rejeita o imperialismo cultural do Ocidente (modelos exógenos). As eleições serão como festivais. Por infinitamente menos, por tirar uns 6 milhões da miséria absoluta, com o seu culto à personalidade, Lula emplacou uma governante sem história, independentemente do Partido dos Trabalhadores e sem programa planejado de governo. Imaginem o tamanho da autoestima e da satisfação econômica e social dos chineses em relação à sua liderança colegiada, organizada e ciosa dos interesses nacionais.
Não preconizo monolitismo político (partido único mas com alas) e pluralismo econômico, a fórmula chinesa. Cada povo tem suas peculiaridades, sua história, seus valores. Vejam como rapidamente a Rússia recriou a sua Duma (Parlamento) e adotou o semiparlamentarismo, parecido com o francês e o português, permitindo a Vladimir Putin – ganhador de eleições – reestruturar a Rússia, que acaba de anunciar um plano trienal para privatizar 80% das participações acionárias do governo nas empresas estatais, exceto o Gasprom, por razões de Estado. A China o inspira. Está na mão certa da história. Dilma Rousseff será uma social-democrata. Sem desertar de reduzir as desigualdades e erradicar a pobreza, conduzirá o Brasil como uma economia de mercado, com um Congresso conservador e centrista. Pena ser tão fisiológica a coligação governista. O presidencialismo de coalizão é uma desgraça republicana.
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