Verdades devem ser ditas com indignação e não com sorrisos. Mas que não se veja na crítica a indicação da mentira como arma política.
O panorama nos estados mais importantes da República quanto ao PT é desanimador. Também pudera, a Presidência tem poder, dinheiro, caneta, cargos, nomeações e bolsas à mancheias. Os governadores apenas governam. O povo disso tem uma rara intuição. Vale mais o poder central. Por isso a luta feroz é para dele se apossar. Dilma tem mais de 420 deputados da base aliada dividindo com ela as oportunidades que a República oferece, mas cada estado da Federação tem a sua devida importância para as respectivas comunidades.
Em São Paulo, o maior e mais esclarecido estado da Federação, Geraldo Alckmin (PSDB) ficará com 45% dos votos e Padilha, do PT, não alcançará 15%. No Rio Grande do Sul, reduto do PT de Tasso Genro e de sua filha, a senadora Ana Amélia, da oposição, está a 8% do atual governador. No Rio de Janeiro, Pezão se adiantou a Lindbergh Farias (ex-comunista), que disputa pelo PT e está em quarto lugar, com humílimos 12% de intenções de voto. No Distrito Federal, Agnelo Queiroz é repudiado e Rollemberg do PSB habilita-se a ganhar. Em Pernambuco, o petebista aliado de Lula, o senador Armando Monteiro, já foi ultrapassado por Paulo Câmara, do PSB. Na Bahia, quarto colégio eleitoral, após São Paulo, Minas e Rio, Paulo Souto, do DEM, mantém firme os 40% a 45% das preferências eleitorais. O petista Rui Costa, empurrado por Lula e Dilma, poderá chegar, no máximo, a 35% dos votos – em tempo, Jaques Wagner é um péssimo governador. Em Santa Catarina, Colombo se elegerá com o pé nas costas. Em Goiás, Perillo do PSDB ganha. O PT, no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, se ganhar é pela simpatia de Delcídio, um petista de ocasião. No Pará, Jatene, do PSDB, segue na frente do PMDB. No Paraná, Beto Richa, do PSDB, vem se consolidando em cima do segundo colocado, Requião, do PMDB (44% a 28%). Gleisi Hoffmann do PT amarga 12% de intenções de voto. Nos pequenos estados a situação se repete. O PT vai bem no Piauí e no Acre (pequenos eleitorados pobres e com líderes fortes, afiliados ao partido). No Ceará, o PMDB de Eunício é vitorioso contra os Gomes.
Esse descasamento entre a eleição nacional e as estaduais pode trazer sérias repercussões políticas ainda não devidamente avaliadas, especialmente no que diz respeito a três aspectos, como já prognosticado pelo Diap. O primeiro efeito diz respeito à formação das bancadas federais dos partidos políticos, com os especialistas apontando a maior dispersão de votos jamais vista no Brasil, o que engendraria modelos alternativos no maldito presidencialismo de coalizão, raiz da corrupção. O segundo efeito seria, pela primeira vez, a formação de blocos de governadores dentro da Federação, como na Alemanha, exercendo influência nas bancadas parlamentares dos estados. Nem PSDB nem PT serão dominantes.
Mas as maiores emoções concentram-se em Minas Gerais, reduto do PSDB, de Aécio Cunha, há 12 anos no poder, com um histórico de boa administração. Justamente em Minas é a primeira vez que um candidato do PT, embora ameno e amigo de Aécio, pode ganhar. O PSDB, mais uma vez, mostrou o seu lado racional. Ora, eleições são ganhas com emoção. Verdades devem ser ditas com indignação e não com sorrisos. Mas que não se veja na crítica a indicação da mentira como arma política. Dizer, por exemplo, que a independência do Banco Central tira comida da mesa do pobre é má-fé (Dilma). O terceiro efeito entronca com a urgência de uma reforma política que limite o número de siglas partidárias, de cargos em comissão e de ministérios inúteis (limites à corrupção, à ingovernabilidade política no presidencialismo de coalizão e à ineficácia na gestão). O segundo colégio eleitoral em mãos petistas será ruim até para o governador do PT, na hipótese de ser eleito, por ser estranho ao bando do ABC paulista, corrupto e intransigente. É que os petistas têm o hábito, quando derrotados em lugares conquistados por outros partidos, de migrar em massa para os lugares em que venceram, em busca de empregos. Isto sem falar na esquisitice de ter no coração do Brasil, pela primeira vez, um governador do PT no ocaso de seu período histórico! Há quem diga que a vitória é do candidato e não do PT.
O povo de Minas Gerais está com o árduo dever político de impedir, nem tanto o seu candidato, mas o PT, de fincar suas garras no estado. Não é interessante para os mineiros a ruptura com os que deram certo e modernizaram o estado, ainda que combatidas pelo poder central. Nesses 12 anos, Aécio Neves e Antonio Anastasia, candidato ao Senado com 44% das intenções de votos, muito à frente do segundo colocado, fizeram bons governos. Minas, certamente, não faltará ao Brasil. Se faltar, e o direito de escolha é soberano, dará sobrevida ao petismo, a insistir na luta de classes entre ricos e pobres, uma tática cujo único objetivo é o usufruto do poder central.
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