Os salários acima da produtividade são uma clássica maneira de gerar inflação e forçar o câmbio.
A política econômica da presidente Dilma Rousseff, após 100 dias de governo, está baseada em três pilares: 1) o ajuste fiscal implicando contenção de gastos e aumentos pontuais de impostos majoráveis por decreto (importação, exportação, IOF e IPI), pois o Congresso Nacional resiste; 2) investimentos mediante concessão de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, hidrelétricas, parques eólicos, permissões de usinas termoelétricas, terminais fluviais e marítimos; 3) desinvestimento na Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco do Brasil (BB) – setores como o de seguros –, na Eletrobrás e na Petrobras; para focarem em seus objetivos básicos: exploração e refino de petróleo e produção de energia elétrica. As parcelas desestatizáveis não passam de “privatizações”. A flexibilização da legislação trabalhista, o novo pacto federativo, as reformas política e, oportunamente, a tributária, correm à conta do Congresso Nacional, o mais conservador dos últimos 20 anos. Será bem-sucedido com a participação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados.
Somente depois desses movimentos, o Brasil iniciará um novo ciclo de crescimento na via da concorrência e da livre iniciativa, nos marcos da social-democracia, enterrando de vez o “lulopetismo”. Dilma, após o desastre da “nova matriz econômica” ideada nos últimos dois anos de Lula e no seu primeiro mandato, convenceu-se do equívoco e cuida de salvar sua reputação. Está preocupada em sair do governo como pior presidente do país desde a Constituição de 1988. Reparando bem, de PT esse projeto de governo só tem o nome. O partido, ao contrário do que se supunha, chegou ao fim antes do que se esperava. Após as eleições municipais de 2016, quando o país ainda estará em recessão ou, na melhor das hipóteses, com baixo crescimento, aquilataremos o tamanho da queda petista, engolfado por erros fatais: livre curso da corrupção, nunca essa “velha senhora” esteve tão desenvolta; má gestão da coisa pública (Dilma, de gestora, só teve a fama, a máscara caiu) e sectarismo ideológico, de resto confuso, um socialismo mal explicado, ou melhor, coronelismo de Estado, via assistencialismo, sem eco nas camadas médias e altas de um país populoso que se tornou urbano com um agronegócio pujante e crescente.
O PT não percebeu, pela rusticidade de seus quadros, as alterações etárias, populacionais e regionais em curso no Brasil, atendo-se às bandeiras anteriores à ditadura militar. As novas gerações veem o PT de um modo diferente, como um partido sectário. A carapuça pegou de vez após a insinceridade eleitoral da campanha presidencial de 2010. Percebe-se ainda que a situação do PT no Parlamento, nas ruas e nos diretórios é de total desconforto. O país segue na rota social-democrata (pelo PT chamada de neoliberal), que cairia bem no PSDB e não fica mal no PMDB, a dominar a cena política. Com se autoproclamar contra o neoliberalismo, qual a mensagem que o PT nos passa? Certamente a de que é hostil à livre iniciativa preconizada pelo artigo 170 da Constituição. Bem que poderia se associar aos partidos socialistas europeus, maior igualdade e vantagens sociais dentro de espaços democráticos. Mas não, agitou a luta de classes, a baderna dos sem-terra e dos sem-casa, ao tempo em que se aliava a certos grupos empresariais e politicamente aos Collors, aos Sarneys e aos Maluf. Caiu no lamaçal da corrupção partidária.
A “nova matriz econômica” elasteceu o crédito, deixando 55% das famílias endividadas, às expensas do aumento artificial da renda do trabalho acima da sua produtividade, desagregando a demanda, o que fatalizou o crescimento do mercado interno, danando a produção. Os salários acima da produtividade são uma clássica maneira de gerar inflação e forçar o câmbio. Não poderia o PT “segurar” os preços das tarifas públicas de transporte, energia e combustíveis, como fez, sofrendo agora a enxurrada de aumentos, outra causa de inflação, nem soltado o gasto público aumentando a relação dívida pública/Produto Interno Bruto (PIB), espécie de suicídio macroeconômico.
O PT “brinca” de socialismo sem saber bem o que ele significa. No fundo, é apenas “populista” e “demagogo”, ao estilo bolivariano da Venezuela, Equador e Bolívia. “Intelectuais” como o suposto filósofo Boff, pregam “amor” aos pobrezinhos e divisão de terras à moda da Idade Média cristã. O PT jamais teve um programa sério de governo, mas de poder. É como a mitológica esfinge: “Decifra-me ou te devoro”. O Brasil e os brasileiros o decifraram. Sabemos já o que ele é. Muitos políticos atraídos pela sigla no poder por uma década e meia querem deixá-lo, o desmanche é inevitável. O começo desse governo já não comunga ideias petistas, é neoliberal. Os programas sociais? A pobreza é para ser extinta e não para “crescer” com o Bolsa-Família. Essa receita é a mesma dos coronéis dos grotões para se manterem no poder. Um ciclo histórico está chegando ao fim. E já vai tarde!
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