O poder vigente sofre profunda desconfiança. A primeira providência para escapar do abismo que está sendo cavado é política.
O mundo vai demorar uns 10 anos para ter outro ciclo de commodities valorizadas. Falo do petróleo – muitas jazidas, muitos países, menor consumo – minerais metálicos e não metálicos, exceto “terras- raras”, algodão, etc.
Entretanto, alimentos in natura e processados de origem animal ou vegetal serão comprados a qualquer custo pelo mundo, à medida do crescimento demográfico alto na África árabe, berbere e negra, na Índia, na Ásia em geral, exceto China, que tem controle. Antes de 2040 esse movimento não cessará.
Por outro lado, populações grandes, entre 150 milhões e 350 milhões de habitantes em países com renda per capita a partir de US$10 mil (pelo critério da paridade do poder de compra das moedas) apresentam potenciais vocações para o crescimento econômico, por ter escala, caso do Brasil, a preencher a dupla condição de exportador no setor de matérias-primas minerais e vegetais industrializáveis, mesmo com preços menores, e de alimentos proteicos, sejam animais ou vegetais, cada vez mais caros (embora já sejamos competitivos no agronegócio, nos falta infraestrutura, nos faltam ferrovias, aquavias, portos e logística).
Além disso, temos população razoável que chegará a 220 milhões, carente de habitação, saúde, educação, segurança, mobilidade e emprego. Nesse ponto, faltam-nos governo e organização. Essas necessidades geram empresas para satisfazê-las. Estamos no ciclo do inferno, mas teremos o tempo do purgatório (transformação ou fim da era do “lulopetismo”, corrupto, sem ideias novas, populista e demagógico) e, finalmente, o tempo de olhar, mesmo que de vislumbre, o paraíso.
Explicando melhor, direi que o Brasil, seguido pelo Uruguai, Paraguai e Argentina, o atual Mercosul, será em breve tempo a zona agropastoril mais poderosa do mundo. O Mercosul fora a Venezuela (aliás, nortista e caribenha) e os EUA serão os dois únicos celeiros capazes de alimentar a humanidade no século 21, com o Brasil representando 70% do grupo sul-americano a escoar a produção pelos portos do Norte do país, fluviais, nos rios amazônicos e marítimos (ganho de produtividade na logística ferroviária e portuária), pois ficaremos mais perto dos EUA, Europa, Ásia e África.
Se aos alimentos in natura ou beneficiados adicionarmos alimentos semi-industrializados ou industrializados, a situação melhora significativamente. Esse é o nosso nicho nas exportações, mais produtos petroquímicos, os da área da celulose e carros para a América Latina. Resta-nos o mercado interno, grande a população. Aqui o empenho deve ser a construção de casas populares, mas com aportes tecnológicos que permitam fazê-las com custos menores e muito mais rapidamente (tecnologias já existentes nos EUA e na Europa). A construção civil gera empregos, renda e ativa inúmeros setores industriais desde o metalúrgico, cerâmico, elétrico, até telhados e parques fotovoltaicos para gerar energia doméstica. Casas e carros reativam a economia. O agronegócio acelera as exportações.
Quem tem mar e praias (água e sol) como o Brasil pode ser potência turística e energética sem falar nos ventos. As energias renováveis, no embalo ecológico, podem trazer para o Brasil investimentos a mínimos custos e nos tornar autossuficientes, sem falar no etanol, embora perdendo o seu charme original.
Poderemos ser a 8ª ou 9ª economia do mundo por muito tempo ou mesmo a 6ª. A Índia e a Itália estão bem perto de nós. Contudo, duas pré-condições são inafastáveis: a) diminuição do tamanho do Estado e redução de tributos e; b) que o Brasil cresça pelos esforços da iniciativa privada. O estado na economia é como elefante em loja de louças, quebra tudo, como fez com a Eletrobrás, Petrobras, Nuclebras, a transposição do São Francisco, as universidades e tudo o mais.
Os investidores e analistas estão convencidos de que o governo Dilma, desde as eleições de 2014, quando a realidade foi ocultada sistematicamente, pintando-se para os eleitores um quadro completamente diverso do que já estava se passando, não tem condições políticas e psicológicas que possam reverter a profunda depressão da economia brasileira, que será uma das de pior desempenho no mundo inteiro em 2016, superada apenas pela Venezuela. Assim, a questão fiscal não se resolve, a dívida vai engordando sem controle e o crescimento econômico não se materializa.
Na mesma linha, entendem os analistas – mostrando exemplos – que a sua saída do governo, alinhado com a Venezuela, injetaria ânimo nos investidores, o suficiente para reverter a situação. O país tem potencial para crescer. O poder vigente, todavia, sofre profunda desconfiança.
Vejam, para exemplificar, como a eleição de Macri na Argentina injetou ânimo na nação vizinha. Tenho a convicção de que a primeira providência para escapar do abismo que está sendo cavado é política.
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