Dá vergonha ser brasileiro em um país que nunca, ou raramente, faz escolhas certas em política
Quando um presidente começa a ser investigado é porque o ambiente político, social, parlamentar e jurídico não está indo bem. O despreparo nacional e internacional para lidar no cotidiano é evidente. É um despreparado. Mas disso não se dá conta.
Os inquéritos do Supremo vão indo bem. Mas não é só o Judiciário, o Congresso também investiga. Em resumo, dizem as fontes: as quebras de sigilos aprovadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Fake News permitiram identificar quem são os responsáveis por operar dois dos perfis suspeitos de integrar uma rede de ataques virtuais a políticos. Com base em dados enviados ao Congresso pelo Facebook, foram localizadas duas pessoas, em São Paulo e em Minas Gerais, que entraram na mira do colegiado. Elas alimentam perfis com os codinomes PresidenteBolsonaroBR – Mito do Brasil e Conservador Liberal, ambos com mais de 100 mil seguidores.
O Conservador Liberal pertence a Webert Florêncio, de 25 anos, morador de Ipatinga (MG), um militante de direita. Evangélico e estudante de medicina, Florêncio passou a apoiar Bolsonaro em 2016 e fez parte de grupos como o Direita Minas. Hoje é entusiasta do partido bolsonarista em gestação, o Aliança pelo Brasil. Na eleição de 2014, fez campanha para Aécio Neves (PSDB). A Justiça Eleitoral não registra filiação partidária dele.
À imprensa, Florêncio disse que jamais ocupou cargos comissionados ou recebeu dinheiro para manter as páginas. É a ponta do iceberg. Existe uma rede vasta coordenada pelo Carluxo, a espalhar mentiras e apoios ao presidente. E a rapaziada das “brigas de rua”.
Além do Instagram, onde tem 120 mil seguidores, o estudante administra mais três páginas no Facebook, todas com uma fotografia de Margaret Tatcher, a ex-premiê britânica conhecida como Dama de Ferro. Uma delas é uma página oficial do Conservador Liberal, além de um grupo público e as páginas de notícias Conservador Liberal News e de sátiras, Conservador Liberal em Memes. São mais de 208 mil pessoas atingidas.
As páginas dele reproduzem ofensas a adversários políticos de Bolsonaro, como deputados, e incentivos a manifestações pró-governo e contrárias ao Congresso e ao STF. Ele escreveu: “Chega de chantagem” e reproduziu o palavrão dito pelo ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) contra os demais poderes: “Foda-se”. Fez coro às críticas ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, à forma de reação à pandemia do novo coronavírus. Apesar disso, Florêncio diz que apenas compartilha notícias e opiniões, sem difamar nas redes.
A conta Mito do Brasil no Instagram é vinculada a um telefone e e-mail de Mariana Aparecida Rosa de Campos, de 39, moradora de Osasco (SP). Ela é responsável por abastecer de conteúdo o perfil que retrata o dia a dia do presidente e família. O alcance é de 168 mil pessoas. Segundo dados do TSE, ela não tem filiação partidária.
Os dados que levaram à identificação de Florêncio e Mariana chegaram à CPI em março, numa leva que também possibilitou aos investigadores estabelecer elo direto com o clã presidencial. A conta Bolso Feio foi criada em Brasília por Eduardo Guimarães, assessor parlamentar do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. Ele alega que o perfil era apenas uma sátira à família, sem divulgar ataques a adversários políticos, o que contraria registros de publicações ofensivas da página. “As mentiras do Bolsonaro são diárias, é impressionante.”
Os métodos – tirante o fato de que naquela época inexistiam internet e celulares – são iguais aos de Hitler (que fazia o mesmo, mas pelo rádio, aparelho que todos ouviam em determinados horários). O chefe de propaganda do Führer (chefe), evidentemente, era mais inteligente que Carlos Bolsonaro (vulgo Carluxo) e Ramagem, agora indicado para a Polícia Federal para fazer relatórios diários para o “chefe”. Contudo, esses grupamentos de propaganda do regime e do chefe são iguais em seus objetivos onde a verdade é diariamente surrada pelas mentiras.
Uma pergunta que fica no ar é a razão dessas organizações. Há quem diga que os Bolsonaros são milicianos e não duvido nem um pouco. São lobos em pele de cordeiro. Não sem razão, dizia Unamuno, reitor da Universidade de Salamanco, na Espanha, que o último refúgio dos canalhas é clamar em nome da pátria! É dizer-se patriota, como se todos não fôssemos, apenas seus seguidores e asseclas, mormente os do Centrão, a turma do Bolsonaro no Congresso (quem te viu e quem te vê!).
Em meio à pandemia, o presidente vive um pandemônio. É grosso, ignorante, inábil, prepotente, insignificante como líder perante o mundo inteiro. Dá vergonha ser brasileiro em um país que nunca, ou raramente, faz escolhas certas em política, com uma classe média intelectualizada de quinta categoria, com notáveis exceções.
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