Somente um país de idiotizados vai nessa estória de ideologia, porque o tempo delas passou. Cor da bandeira? É desesperador!
Por ligeiro o olhar lançado sobre o mundo, “a vol d’oiseau” como dizem os franceses, ou seja, a voo de pássaro em vernáculo, percebe-se o declínio das ideologias à esquerda e à direita e a decidida emergência do centro, entendido como o regime de eleições periódicas e de políticas econômicas e sociais pragmáticas, bom para lá das circunstâncias históricas e respectivas idiossincrasias dos povos que habitam a Terra.
Há cerca de 25 anos, em razão dos intensos deslocamentos humanos do chamado Oriente Próximo (guerra na Síria) e de países do Magreb (Norte da África) e da África subsaariana, houve o surgimento de movimentos radicais de direita na Europa.
Recentemente, levantamento do Centro Europeu de Pesquisas Sociais concluiu que essa onda entrou em definitivo refluxo. Na Holanda, não existe mais. Na Áustria, com o eterno combustível da superioridade da raça ariana (uma tolice, pois os ários eram persas), o movimento fez água nas urnas. Na Itália, Salvini e a Liga Norte decaíram.
Desde a Segunda Guerra Mundial, que começou em 1939 e terminou em 1945 (os EUA só entraram em 1942), pela astúcia do grande Roosevelt, um dos melhores políticos do mundo (até hoje) – basta que se leia o livro Tempos muito estranhos –, o mundo jamais foi tão menos ideológico e mais pragmático ao que o de agora. Basta dizer que o termo “guerra de conquista” – muito usado por Hitler, deixou de existir. E por um motivo muito simples. A conquista que importa não é de territórios, mas de mercados…
Afora a derrocada já dita de Salvini na Itália e a supressão austríaca (irrelevante) ante os 80 milhões de alemães sob Ângela Merkel, hoje um país seguramente democrático, tanto quanto os EUA, em que pese o degradante espetáculo de Trump a querer ser o presidente eterno dos EUA, assiste-se ao desmoronamento dos neofascistas na Polônia de Duda e na Hungria de Orban, a mostrar o repúdio dos europeus do Oeste e do Leste aos políticos autoritários e autocráticos.
Entretanto, eis que de repente, pela fadiga do povo e a vontade de inovar, vimos de eleger uma pessoa autoritária travestida de democrata, que responde pelo nome de Jair Bolsonaro. Gosto do Jair, mas desagrada-me o Bolsonaro, que se enche de lágrimas, com juvenil ardor militar, em singela cerimônia de formação de sargentos da Aeronáutica. Passou o primeiro ano de seu mandato único de quatro anos hostilizando o Legislativo e o Judiciário (política que abandonou, menos seus filhos, irresponsáveis e falastrões, exceto Flávio, o das “rachadinhas”).
Ele é autoritário por natureza e formação, saudoso da ditadura militar, sem educação e baldo de cultura política. E perdeu excelentes oportunidades de projetar economicamente o Brasil, por motivos exclusivamente ideológicos, que não fazem sentido algum, à altura de 2020 anos depois de Cristo.
É alucinatório dizer que a bandeira do Brasil jamais mudará de cor (seria melhor suas cores)!
Está fixado como um touro miúra na cor vermelha. Imagine-se que comunistas querem mudar nossa bandeira para a cor vermelha! São vozes? Um surto paranoico? Ou maluquice mesmo?
Se olharmos com olhos preparados o mundo hodierno, o que se percebe é o fim do comunismo (só existe em Cuba e na Coreia do Norte). Vemos a Rússia e a China entrando com veemência e eficácia, os dois grandes países ex-comunistas, no tráfego econômico capitalista. A Rússia, potência espacial, nuclear e científica, vive de sua elevada ciência e fornecimentos de gás e petróleo à Europa, e a China, além de sofisticados armamentos, inclusive de submarinos atômicos nuclearizados. A China já tem outra dimensão. É supercapitalista, com tradição de 4 mil anos em fazer comércio, a começar pelas sedas fantásticas e finas porcelanas. Além de ser capaz de fazer tudo quanto existe na Terra (fábrica do mundo). Outro dia, vi uma medalha de Nossa Senhora Aparecida “made in China”. Sua população incrível, escolarizada e competente de 1,350 bilhão de viventes, obriga o governo a admitir dois filhos por casal para evitar uma superpopulação inadministrável. Não está interessada em mudar a cor da bandeira de ninguém, coisa de doido. A guerra é econômica, e não bélica. Como e quem é capaz de influenciar nosso governo para ser mais pragmático e menos primário (ideologia é tema da arqueologia da história).
Somente um país de idiotizados vai nessa estória de ideologia, porque o tempo delas passou. Estamos no meio de uma Terra cada vez mais unificada pela tradução imediata dos falares por via eletrônica e pela intensificação sem precedentes do comércio planetário. Precisamos de políticos e técnicos (educação e informação são essenciais) à altura do nosso tempo. Cor da bandeira? É desesperador!
Eu conheci o mundo, incluindo os lugares mais relevantes da América, Europa e Ásia. Nunca vi governo mais imbecilizado do que o nosso. Pensando bem, não se dá com ninguém. O empresariado e o povo que nos façam o dever de casa: não há governo!
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