Julgamo-nos religiosos, civilizados e cristãos, ao passo que diminuímos o mundo islâmico, que já nos deu luzes na Idade Média europeia
Irã, terra dos arianos, pois naquela região o som “rão” ou “õ” significa lugar, pátria, nação de dado grupo étnico, é uma nação com 80 milhões de habitantes, que, no passado, foi conhecida como Pérsia. São falantes do farsi, descendente direto do sânscrito, que, segundo os linguistas, originou as línguas faladas no Norte da Índia e todas as europeias (idiomas indo-europeus), exceto o húngaro e o finlandês (grupo fino-húngaro de origem asiática, como o turco).
As assertivas merecem explicações. As línguas faladas no Ocidente pertencem a quatro grupos distintos, a saber: línguas eslavas, como o russo, o polonês, ucraniano etc; línguas germânicas: alemão; as línguas dos nórdicos, holandês, inglês; línguas greco /macedônicas (grego, macedônio, albanês) e neo-latinas, derivadas do latim, falado em Roma, na região do Lácio (português, galêgo, espanhol, românico, catalão, francês, italiano e romeno). Há, ainda, as línguas semíticas oriundas do Norte da África (hebraico, aramaico, árabe e o berbere norte-africano).
Voltando ao ão, veem-se lá para os lados do Irã vários países como o Curdistão, no Norte do Iraque (os curdos são os medos, primos dos persas, do Império Medo-persa). O Cazaquistão (terra dos cazaques) o Uzbequistão (terra dos uszbeques, etc.).
Mas toda essa conversa é para realçar a diversidade humana e a unidade de nossa espécie ao longo do devir histórico. A festa judaica do “purim”, por exemplo, comemora os dias de imunidade penal que Ciro, o grande, rei do Império Persa, também conhecido por Assuero, concedeu aos judeus para espoliar os seus inimigos “intra-muros”, a pedido de Ester, sua esposa judia, após desbaratar um plano de Hamã para tomar os bens dos hebreus (Mordecai que era tio da rainha fê-la declarar-se judia) e conselheiro de Assuero a ajudou na empreitada.
Agora, o Irã foi às urnas e, lá, as mulheres votam desde o tempo do advogado Mossadegh, derrubado à força pelo Ocidente, por causa do petróleo por ele nacionalizado. Quem veio? O rei Reza Pahlavi, derrubado pelos mulás e aiatolás xiitas (95% da população). Na prática, 50% da população não é fervorosa na fé.
O direitista Bibi Netanyahu, em Israel, onde tem muitos opositores, continua a pregar a destruição da Pérsia, que, no passado, tanto ajudou seu povo, permitindo, no tempo de Esdras e Neemias, a reconstrução do templo de Salomão, em Jerusalém, destruído pelo Império Babilônico, ao tempo do rei Joaquim.
No Irã, as mulheres votam, dirigem, usam apenas um véu e são 55% da população universitária do país. São, aliás, lindas, segundo dizem, e as rainhas Farah Diba e Soraya o provaram ao tempo da monarquia restaurada de Pahlavi, (o trono do pavão).
Hoje, os curdos das antigas tribos medo-persas, ajudam o Ocidente ariano brigando cara a cara com os assassinos do Estado Islâmico(EI), financiados à socapa pelos potentados da Arábia Saudita, onde as mulheres não estudam, se cobrem dos pés à cabeça e não podem sequer dirigir automóveis. Contudo, os sauditas e emirados são aliados dos EUA e da França, exemplos de democracia.
Quão estranho e vário é este nosso mundo e quão iníqua e cínica é a diplomacia, especialmente a europeia. Houve um tempo em que a Inglaterra era conhecida como “a pérfida Albion” (os franceses, é claro, estiveram estimulando o ditado).
Outro erro comum é achar que os xiitas são radicais e os sunitas, bonzinhos por interpretarem as sunas do Corão (versos do Alcorão) ao pé da letra. É o contrário. Todos os grupos terroristas são sunitas (Al Quaeda, Taleban, Al-nusra, Al-Chabab, EI, et caterva). Os persas não o são. Xiitas não apoiam o terror, constroem forças guerrilheiras bem treinadas, que lutam em campo aberto, até porque Ali, o patrono dos xiitas e alauitas (Síria), foi a primeira vítima da traição e do terror. A diferença é que os xiitas são organizados numa grande igreja hierarquizada como os católicos, e são majoritários apenas no Irã e no Sul do Iraque, embora existam como minorias perseguidas em todo o Islã.
Julgamo-nos religiosos, civilizados e cristãos, ao passo que diminuímos o mundo islâmico, que já nos deu luzes ao tempo da Idade Média europeia, tão obscurantista e trágica. Os sábios da Pérsia fizeram escola.
Se pudesse aconselhar, pediria aos jovens que mergulhassem e se aprofundassem na história dos homens e da civilização. Maior aventura não há. Melhora a compreensão do mundo, lapida a inteligência e afina as cordas do coração. Parece que as lições do tempo se perdem de geração em geração na continuidade da história. Precisamos saber para aprender a distinguir. Semana passada o EM em editorial, expôs as esperanças do mundo nos reformistas da Pérsia, ou seja, o Irã. Ao cabo, foi de lá que os caucasianos se espalharam pela Europa e Norte da Índia.
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