Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ
A pressão dos EUA é grande! O teatro de guerra lhe fica longe; no caso da Rússia, ocorre nas suas fronteiras
Um francês genial disse que o Ocidente era um acidente, historicamente falando. Não acho, ela se rendeu às provocações e recriou uma estúpida tensão intelectual geopolítica sem nenhuma razão de ser.
A Europa desenhou o mundo moderno. Liberalismo e socialismo nasceram dos debates europeus. Até o 19º século dominaram a África, a Ásia e parte das Américas. As quatro revoluções que abalaram o mundo aconteceram a partir de ideias europeias. A americana, a francesa, a russa e a chinesa. O “colonialismo europeu” moldou o século 21.
A adversão à Rússia expressa um medo de séculos, difícil e apartado de racionalidade! A Primeira Guerra Mundial foi ganha pela Rússia no “front” leste, em 1945, dela advindo a URSS. Em 1991, ela se desfez por conta própria.
O ex-primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev disse que se a Finlândia ou a Suécia aderirem à Otan, a Rússia reforçará seu contingente militar, incluindo armas nucleares no Mar Báltico, perto da Escandinávia.
Em caso de adesão, “as fronteiras da Aliança do Atlântico Norte com a Rússia seriam multiplicadas por dois. E será necessário defender essas fronteiras”, revelou o atual número 2 do Conselho de Segurança russo em mensagem via Telegram.
“Neste caso, não poderia mais ser considerado um Báltico não nuclear”, acrescentou, evocando também a implantação de sistemas de defesa de infantaria e antiaérea no Noroeste da Rússia e forças navais no Golfo da Finlândia.
A Finlândia, que compartilha uma longa fronteira com a Rússia e tem uma história complicada com seu vizinho, assim como a Suécia, está considerando ingressar na Otan após a ofensiva da Rússia contra a Ucrânia.
No início da guerra na Ucrânia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, já havia dito que não toleraria a adesão da Finlândia e da Suécia à Otan e que, caso isso ocorra, haverá graves consequências, sem especificar quais. Referindo-se à população da Finlândia e da Suécia, Medvedev estimou que “ninguém em sã consciência (…) pode querer um aumento de tensão nas suas fronteiras e ter Iskander junto à sua casa, (mísseis) hipersônicos. E navios com armas nucleares”.
A ameaça veio um dia depois que as autoridades finlandesas sugeriram que o país poderia solicitar a adesão à aliança militar de 30 membros dentro de semanas e a Suécia ponderava fazer um movimento semelhante. Helsinque e Estocolmo são oficialmente não alinhados militarmente, mas estão reconsiderando seu status à luz da invasão da Ucrânia pela Rússia – provocando crescentes alertas da Rússia. A pressão dos EUA é grande! O teatro de guerra lhe fica longe; no caso da Rússia, ocorre nas suas fronteiras.
A Lituânia, que também faz fronteira com a Rússia, disse que as ameaças de Moscou são novidade e que o Kremlin havia implantado armas nucleares em Kaliningrado muito antes da guerra na Ucrânia. A possível adesão da Finlândia e da Suécia à aliança militar – fundada em 1949 para fornecer segurança coletiva ocidental contra a União Soviética – seria uma das maiores consequências estratégicas europeias da guerra na Ucrânia. A URSS desapareceu, mas a Otan não…
O ataque da Rússia levou a uma mudança acentuada no sentimento público sobre a adesão à Otan na Finlândia e na Suécia. Medvedev, sem citar evidências, atribuiu a mudança aos EUA. É estranha a sobrevivência da Otan contra a Rússia capitalista.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse a repórteres em Bruxelas na semana passada que os dois países atendem aos padrões da Otan. Se a Finlândia se juntar à Otan, a fronteira terrestre da Rússia com os membros da aliança mais do que duplicaria. A Rússia se sente cercada. A Finlândia conquistou a independência da Rússia em 1917 e travou duas guerras contra ela durante a Segunda Guerra Mundial, aliada da Alemanha, durante a qual perdeu algum território para Moscou. A Finlândia anunciou um exercício militar na Finlândia Ocidental com a participação de forças do Reino Unido, Estados Unidos, Letônia e Estônia.
Evidentemente, esse cerco à Rússia tem tudo para aumentar a insegurança na Europa Ocidental e Oriental, pois até a Turquia é da Otan.
A quem interessa uma guerra nuclear? Tudo indica que o complexo industrial militar dos EUA insufla guerras na Europa, depois de expulsos da Ásia, Vietnã e Afeganistão e do Oriente Próximo (Iraque). Diferentemente de Roma (pax romana), os EUA são bélicos e têm histórico de intervenções na Europa, Oriente Próximo e Médio e na Ásia. É uma potência que endossa a guerra e a bandeira pátria, como se mandar seus filhos jovens para a guerra fosse o auge do patriotismo… Tomou do México a Califórnia, o Arizona, Nevada, Novo México e Texas, que são estados dos EUA. Mas até o tempo de Roosevelt não se metia nas guerras europeias e asiáticas. Depois de 1945, tornou-se imperialista e se intrometem em tudo. A América Latina e seus filhos os EUA não ajudam em nada, somente reprimem e impedem que entrem em seu território, mas são obrigados a engolir Cuba, depois de tentar invadi-la e decretar o bloqueio comercial…
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